[etnolinguistica] Resumo: Karirí:_guirajao,_marapirão,_etc.

Eduardo Ribeiro avepalavra at YAHOO.COM
Wed Apr 23 03:55:29 UTC 2003


Caros colegas,
Gostaria de agradecer a todos aqueles que responderam a minha mensagem sobre o Karirí (ou sobre o português da gramática Karirí): Marília Ferreira, Andrés Salanova, Dioney Gomes, Sérgio Meira, Amélia Reis, Lucy Seki, Dan Everett e Waldemar Ferreira. As palavras mais problemáticas são 'rabisco de fruita' e 'guirajao', para as quais as únicas respostas vieram de Waldemar Ferreira: Guirajao. Waldemar sugere a possibilidade de que se refira ao pássaro jaó, o que faria muito sentido se pensamos em termos de língua geral -- guira 'pássaro' + jaó. Como eu mencionei, a grande maioria dos vocábulos na lista em questão referem-se a itens da cultura material, mas como o prefixo u-, a exemplo dos seus prováveis cognatos em Jê, é um morfema 'alienador', poderia muito bem ter ocorrido com nomes de animais quando possuídos (animais domesticados, caça, etc.). Rabisco de fruita. 'Rabisco' parece se referir (ou ter se referido) a frutas que ficaram por colher, deixadas no pomar, na definição enviada por Waldemar.  Eu cheguei a pensar que fosse, talvez, um erro de transcrição ou impressão -- 'refresco' teria sido confundido com 'rabisco' por um distraído tipógrafo seiscentista (ou o erro teria sido introduzido na segunda edição, com a qual estou trabalhando). Portanto, seria interessante checar a primeira edição, no futuro. As definições para as demais palavras foram geralmente unânimes: Marapirão. Refere-se a um tipo de 'árvore de grande porte'; a palavra é de uso corrente no Pará, segundo Marília. Quanto ao fato de um nome de árvore ocorrer em uma lista que inclui principalmente itens da cultura material, vide minha observação acima sobre 'guirajao'. [Mas ainda estou com uma pulga atrás da orelha...] Crueiras de mandioca. Dou aqui a definição da Marília (a primeira a responder), com a qual todas as respostas concordam: "Crueira é o resíduo grosseiro da mandioca que não passa pela peneira durante o preparo da farinha. Algumas pessoas aqui do nordeste do Pará chamam isso de “massa” e preparam um tipo de mingau com esse resíduo." A pronúncia varia um bocado de região para região: em Viseu, terra da Amélia, diz-se carueira, por exemplo. [Provavelmente não tem nada a ver com 'cru' -- etimologia popular da minha parte...] Corropio. Marília: "Corrupio é um tipo de brincadeira (da minha infância, por sinal) em que duas crianças se dão os braços, um de frente para a outra e giram fortemente com o corpo teso." Deriva do sentido geral de 'rodopio' mencionado pela Lucy. Daí os significados de 'cata-vento' e outros brinquedinhos que giram, como aquele mencionado pela Amélia (e, se não me engano, ouvi esta palavra com o sentido de 'pião' em Goiás). [Há, é claro, o sentido de 'baderna, confusão' mencionado pelo Sérgio, mas os sentidos acima são os que mais fazem sentido no contexto em que a palavra ocorre.] Carimá. De novo a Marília: "Carimã é um tipo especialíssimo de farinha fininha – tipo um polvilho – também extraído da mandioca, com o qual se costuma fazer mingau para bebês." Se não me engano, corresponde ao que nós chamamos de [farinha de] puba, no Centro-Oeste. Como a Lucy aponta, a forma que ocorre nos dicionários (e que reflete a pronúncia da palavra no Pará, por exemplo) é carimã, com til. Mais uma vez, cheguei a pensar que fosse erro tipográfico, já que às vezes imprime-se acento agudo por til no material Karirí.  Mas mudei de idéia ao notar que a mesma forma ocorre várias vezes em diferentes sátiras do Gregório de Mattos e, portanto, reflete provavelmente a pronúncia corrente na Bahia seiscentista (onde o Karirí era falado). Para quem quiser dar uma olhada nos poemas, eis o endereço: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/adaos.html Ah, sim, vocês devem ter notado que preservei a grafia dada por Mamiani, daí corropio, fruita, etc.  (se bem que, em Goiás, ainda ocorrem fruita, luita, escuita...). Mais uma vez, muito obrigado. Amanhã ponho o pé na estrada, para só retornar em maio. Até lá, não poderei checar meu correio eletrônico. Vou-me despedindo, então. Abraços,Eduardo

Eduardo Rivail Ribeiro
Department of Linguistics (University of Chicago)
Museu Antropológico (Universidade Federal de Goiás)
http://www.geocities.com/avepalavra


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