[etnolinguistica] 'Milho': difu são lexical?

erribeir at UCHICAGO.EDU erribeir at UCHICAGO.EDU
Sun Aug 10 16:52:34 UTC 2003


Prezados colegas,

As palavras para ‘milho’ em algumas línguas Macro-Jê são extremamente
semelhantes (Karajá maki, Karirí masiki, Purí maki).  Este fato, em línguas tão
remotamente relacionadas (onde correspondências fonológicas são tudo, menos
óbvias), sugere a possibilidade de difusão lexical, em vez de retenção de uma
proto-língua comum.  Se esta hipótese estiver correta, qual seria a fonte
destes empréstimos?  Para tentar traçar a extensão geográfica de prováveis
cognatos desta raiz, bem como a provável origem da mesma, criei um banco de
dados na página do grupo, que pode ser acessado no endereço seguinte:

http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/database

Por enquanto, a tabela contém apenas dados das línguas Macro-Jê aqui
mencionadas.  Peço aos colegas que se interessarem por este assunto que, por
gentileza, contribuam com dados das línguas que estão estudando.  Qualquer
membro do grupo pode acrescentar dados à tabela. Ou, caso prefiram, podem
enviar os dados para o meu endereço, que eu me encarrego de acrescentá-los à
tabela, para que todos possam ter acesso a eles.

Embora em algumas línguas as palavras para ‘milho’ sejam muito provavelmente
empréstimos recentes de uma língua Tupí-Guaraní (por exemplo, Krenák wati?,
Seki 2000:366), o mesmo não parece ser o caso do Karajá, do Purí e do Karirí.
Donahue, um antropólogo que estudou os Karajá, chegou a aventar a hipótese de
que a palavra Karajá fosse um empréstimo de uma língua européia (em última
instância, de origem Karib):

“The Karajá word for corn is mai, which happens also to be the French word for
corn, both surely derived from maize, a word of Carib origin.  It could well be
that corn was introduced to the Karajá by Europeans after contact, an
interesting case of circuitous diffusion.  If such an American staple of corn
were introduced by Europeans, it might indicate that the Karajá have come to
horticulture quite a bit later than many other central Brazilian tribes.”
[Donahue 1982: 83]

Se Donahue tivesse considerado a forma na fala feminina (maki), que é a fala
mais conservadora, talvez tivesse chegado a conclusão diferente.  O que os
colegas que lidam com línguas Karib acham disso?  Se as formas nas línguas
Karib contêm uma consoante quebrando o hiato (mahi, ma?i) talvez as palavras
Karajá, Purí e Karirí representem uma forma mais conservadora de uma palavra
cognata.  Todas estas conjecturas, naturalmente, são apenas isto – conjecturas –
 até que haja mais dados para que a hipótese de difusão lexical seja rejeitada
ou confirmada.  Seria possível que, no final, tanto formas como maki, quanto
formas como awaci e congêneres, provenham da mesma fonte?

Desde já, muito obrigado aos colegas que responderem!

Cordialmente,
Eduardo


Referências:

Donahue Jr., George R. 1982. A Contribution to the Ethnography of the Karajá
Indians of Central Brazil. PhD dissertation. University of Virginia.
Seki, Lucy. 2000. Os Krenak (Botocudo Borum) e sua língua. In Actas del I
Congreso de Lenguas Indigenas de Sudamérica. Tomo I. Lima: Universidad Ricardo
Palma.

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Eduardo Rivail Ribeiro
Museu Antropológico/Universidade Federal de Goiás
Department of Linguistics/University of Chicago
http://www.etnolinguistica.org



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