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Eduardo Rivail Ribeiro erribeir at MIDWAY.UCHICAGO.EDU
Sat Feb 8 02:57:33 UTC 2003


Prezado Denny,

> A Dulce Franceschini considera o afixo  que deriva formas possessíveis, /he-/, um 
> morfema só, e não /h-e-/.


Obrigado por trazer esse tema  -- o 'morfema de posse alienável' -- de volta à discussão. Antes que comecemos um novo mal entendido sobre o que eu NÃO disse, vou me explicar. Nas minhas mensagens sobre o morfema (r)-e- do Tupinambá, (s-)e- em Mawé e seus prováveis cognatos em Macro-Jê, talvez eu tenha mencionado que este morfema tende a pertencer à mesma classe lexical nas diferentes línguas. Para descrever de uma maneira neutra, digamos que morfemas dessa classe tendem a apresentar alterações na consoante no começo do tema em função da pessoa do possuidor -- a chamada classe II em Tupinambá e Karajá. Portanto, não importa se a consoante inicial é parte da raiz ou não.


Mesmo que não possamos falar em casos morfológicos e declinações no português, é possível ainda, ao lingüista histórico-comparativo, apontar resquícios destas distinções morfológicas na língua atual. Da mesma forma, mesmo se não podemos falar de 'relacionais' em Mawé, é ainda interessante notar que as alternâncias morfológicas apresentadas pelo prefixo he- ~ e- são muito parecidas com o que temos nessa língua com raízes "da classe II" como 'nome' (he- ocorre naqueles contextos em que het ocorreria, enquanto e ocorre nos contextos em que set ocorreria; vide Franceschini 2001, que eu menciono em algumas mensagens antigas). Citando o Sérgio Meira,


> E, de fato, a presença de alternâncias iniciais é um 
> argumento aceitável para a inclusão de uma língua na
> família celta -- se essas alternâncias ocorrerem exatamente
> nos contextos certos, e se seus padrões corresponderem
> regularmente aos padrões da família, etc. 


Da mesma forma, o fato de que o 'marcador de posse alienável' apresenta alternâncias similares nas diversas línguas (s-iN ~ y-iN em Panará, hiN ~ xiN em Ofayé, r-e- ~ s-e- em Tupinambá, e assim por diante) casa perfeitamente com a situação Mawé; isso reforça a idéia de que estes morfemas (que têm função e comportamento morfológico tão semelhantes nas diversas línguas) sejam de fato cognatos.


> 
> Nestes exemplos, há somente duas formas, não três, e /s/ e /h/ fazem parte 
> do radical; não há questão de 'prefixos relacionais' .   Para produzir um 
> sistema de três formas, como em Tupi-Guarani e Munduruku, se eu entendo os 
> fatos destas línguas corretamente, seria suficiente apagar, através de uma 
> mudança sonora natural, talvez s>h>0, a consonate inicial da forma livre de 
> Mawé, dando /et/.  E, se eu me lembro bem, de fato há vários exemplos de 
> cognatos que exibem correspondênicas do tipo Surui /l/: Mawé /s/: 
> Tupi-Guarani /0/.


Não sou tupinista e nem tenho pretensões de sê-lo; sei que há gente muito mais qualificada nesta lista para lidar com isso. Mas, se entendi bem, haveria um probleminha matemático aqui: se temos duas formas na proto-língua (digamos, uma com s- e outra com h-) e, por uma mudança fonológica natural (regular, eu presumo) uma delas se torna zero, o resultado não seria, mais uma vez, DUAS formas (em vez de TRÊS)? Talvez eu não tenha entendido bem. Nesse caso, peço desculpas de antemão...
Abraços,
Eduardo


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