[etnolinguistica] Sobre o 'marcador de posse ali enável' em Jê

Dioney Moreira Gomes dioney98 at UNB.BR
Wed Jan 29 15:15:46 UTC 2003


Primeiramente, um grande abraço ao meu amigo Eduarrrrdo e um alô a todos os
demais colegas.
Em Mundurukú, com nomes existe o prefixo alienador e- (w-e-kobe 'minha canoa')
e o prefixo reflexivo je- (je-ba 'braço dele mesmo'). Há também o
reflexivo/recíproco jewe- (talvez, apenas we-), como em [akurice] [o' jewe aha
ip]([cachorro] [3sa OCS morder eles])'os cachorros se mordiam'.(OCS: Objeto
correfencial ao sujeito).
Até mais.
Dioney

Citando Eduardo Rivail Ribeiro <erribeir at midway.uchicago.edu>:

> Caros Andrés e demais colegas,
>
> > Voce deve saber (pelo trabalho da Christiane) que uma parte
> > importante dos nomes (e quase todos os verbos) em Mebengokre e Apinaye
> > comec,am com um numero limitado de "morfemas". Em alguns casos
> > (especialmente com os verbos) e possivel fazer pequenos paradigmas em que
> > uns morfemas substituem aos outros (nhipej, kupej, djapej, kapej - fazer,
> > mexer, trabalhar, apalpar), mas na maioria dos casos eles sao fixos, e sua
> > independencia morfologica e questionavel. Pois bem, um destes e "nhi". Da
>
> Isto -- a ocorrência do formativo nhi tanto com nomes, quanto com verbos -- é
> bem interessante.  Como Luciana Dourado demonstra, o morfema reflexivo é
> homófono do morfema alienador nhi em Panará (se me lembro bem), onde ambos
> são bem mais produtivos do que nas demais línguas da família, aparentemente.
> Em Tupi, tem-se algo muito parecido: o prefixo e- ocorre também com verbos --
> intransitivos, se não me engano (inacusativos, talvez?); estou citando de
> memória, baseado em dados do Munduruku que vi há algumas semanas. Atenção,
> colegas do Munduruku, por gentileza, corrijam-me se estou equivocado.
> [Françoise Rose, que pesquisa o Emérillon, disse-me que e- ocorre com verbos
> também nesta língua.]
>
> Outro fato interessante: em Karajá, vários verbos intransitivos inacusativos
> da classe II (ou seja, da classe que ocorre com prefixos relacionais) começam
> com e- (/e/ aberto; esta vogal tende a corresponder sistematicamente com o
> /i/ nasal das línguas Jê: Proto-Jê (do Davis) *nh-iNkra 'mão', Karajá d-era
> 'antebraço'; Proto-Jê (do Davis) *nhiN 'carne', Karajá de). Eis uma amostra
> (na ortografia Karajá, fala feminina):
>
> ebure 'zangar-se'
> ekosa 'perder-se'
> ekyte 'curar-se'
> eko 'ser enviado'
> ekote 'perder-se'
> ekysa 'alegrar-se'
> ekywese 'cansar-se'
> ele 'fazer-se, tornar-se'
> ekoari 'viciar-se'
>
>
> Note-se que todas estas raízes são semanticamente passivas (ou
> 'médio-passivas'), requerendo, na tradução portuguesa, o "reflexivo" se.
> Sincronicamente, a vogal inicial é parte da raiz verbal, mas talvez este e-
> inicial seja cognato com o (nh-)i- do Jê do Norte. [É claro que temos que
> encontrar cognatos lexicais que confirmem isso, mas, como hipótese inicial, é
> um tanto plausível.]
>
> > Nao entendi as suas ultimas perguntas; talvez lendo com mais calma
> > possa lhe dizer alguma coisa. Voce acha que a aplicativizac,ao com "-nho"
> > poderia ser um "aplicativo alto", enquanto que o possessivo diretamente
> > sobre o nome tem uma relac,ao mais local com o nucleo? Isto faz sentido,
> > pois aparentemente voce pode possuir qualquer coisa com -nho,
>
> Basicamente, é isso aí. Sem dúvida, o possessivo diretamente ligado ao nome
> tem uma relação mais local com este (sendo parte da estrutura argumental
> original do nome, eu presumo). A questão que ainda me intriga é se o
> 'possuidor' com o morfema õ é, de fato, possuidor do nome de significado
> específico. Se a hipótese de que o nome de significado específico é um aposto
> estiver correta, a resposta à questão seria 'não'. Daí a importância de
> testes sintáticos para determinar o status tanto do 'marcador de posse
> alienável', quanto do nome de significado específico.
>
> > irrespectivamente do seu significado ou "relacionalidade". Isto e o mesmo
> > que voce chama de "adjunc,ao"?
>
> Como 'adjunto', refiro-me simplesmente a sintagmas nominais que não são parte
> da estrutura argumental do verbo (ou do sintagma nominal em questão). No caso
> dos nossos 'morfemas alienadores', resta saber se o nome de significado
> específico é parte do sintagma que o precede ou não. Opiniões a respeito
> disso?
>
> Muito obrigado, mais uma vez, pela excelente discussão dos dados.
> Abraços,
> Eduardo
>
> Eduardo Rivail Ribeiro
> Department of Linguistics (University of Chicago)
> Museu Antropológico (Universidade Federal de Goiás)
> http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica
>
>
>
>
>
>


--
Dioney M. Gomes
Doutorando em Lingüística - UnB/IRD (Institut de Recherche pour le
Développement/França)
Tel.: (61)304 1045 e 9961 9342
E-mail: dioney98 at unb.br


-------------------------------------------------
Mail enviado através do WebMail/UnB
CPD - Centro de Informática

Para cancelar sua assinatura deste grupo, envie um e-mail para:
etnolinguistica-unsubscribe at yahoogrupos.com.br



Seu uso do Yahoo! Grupos é sujeito às regras descritas em: http://br.yahoo.com/info/utos.html



More information about the Etnolinguistica mailing list