[etnolinguistica] significado de 'Nimuendaju'

Waldemar Ferreira Netto wafnetto at USP.BR
Mon Mar 1 00:31:47 UTC 2004


Caro Wilmar,
A sua interpretação do nome "Nimuendaju" é muito boa, a do Prof. Aryon também.
Eu ainda apoiaria essa interpretação propondo que o "ju" 'resplandecente' é
tônico, tal como normalmente se pronuncia o nome do Nimuendaju, e o "ju" que eu
propus é átono. De fato, você tem novamente razão quando afirma que se deve
conhecer a cultura para compreender a língua. Justamente os nomes próprios  têm
suas histórias tanto lingüísticas quanto culturais. Como você mesmo diz, os
nomes são sagrados e, portanto, devem ser interpretados pelo mesmo caminho. A
segmentação deles talvez não seja apropriada, nem como "amarelo",
"resplandescente" ou o que quer que seja, tônico ou átono. Talvez o ideal fosse
sugerir que a consulta solicitada pelo Eduardo fosse encaminhada aos próprios
autores desse nome.
Waldemar

Citando "Wilmar R. D'Angelis" <dangelis at unicamp.br>:

> Caro Eduardo
>
> acho que a resposta do Prof. Aryon é bastante precisa, mas acrescentaria
> um dado etnográfico a respeito do sufixo "-ju". As comunidades Guarani
> que, entre a primeira metade do século XIX e a primeira do século XX
> partiram do Mato Grosso ou do Paraguai, em migrações messiânicas, rumo ao
> mar, ainda que hoje sejam alinhadas no que tem-se chamado (desde Egon
> Schaden), os "Nhandeva-Guarani", partilhavam, naquele momento, de muitos
> elementos comuns a outros grupos, alguns dos quais hoje tomamos por
> 'marca' dos Mbyá-Guarani (os mais "fundamentalistas" dos Guarani, alguém
> já disse). Uma dessas coisas é a composição dos nomes pessoais. Tais nomes
> são sagrados, e os Mbyá ainda hoje não os revelam aos nãó-índios, mas
> junto aos "Nhandeva" que ainda os tenham, não há dificuldade para os
> revelarem. Bem, nesses nomes sagrados, o elemento "-ju" (cuja pronúncia,
> em Guarani, é algo que em português escreveríamos como "dju", por conta do
> caráter africado alveo-palatal sonoro da consoante), que em linguagem
> comum significa "amarelo", em linguagem religiosa tem o sentido de
> "resplandecente", o que equivale, também, a sagrado, próprio ou originado
> das divindades. Entre os Nhandeva-Guarani atuais da Aldeia Nimuendaju
> (antigo Posto Araribá), onde o próprio foi batizado, encontrei pessoas
> como Avá Ropodju, Kunhã Nimbokotyvydju, Rokwawydju , Nimoapendju,
> Niaryasaju, e vários outros.
> Por isso, aliás, discordo completamente da sugestão do Waldemar, que os
> nomes se interpretem ao gosto pessoal. Línguas tem, evidente, espaço para
> a indeterminação, mas também são regradas, e também estão inseridas em uma
> cultura, e é preciso conhecer a cultura para falar das línguas.
> Abraço
> Wilmar D'Angelis
>
>
> > Caros colegas,
> >
> > Aos conhecedores de Guarani, em geral, ou de Apapokuva, em particular, eu
> > ficaria grato se pudessem me esclarecer uma dúvida. Ao longo dos anos,
> > tenho lido e ouvido diferentes traduções para o nome 'Nimuendaju', dado
> > pelos Apapokuva ao grande pioneiro da etnologia (e lingüística)
> > brasileira, nascido Curt Unkel (1883-1945).
> >
> > As duas traduções mais comuns são 'aquele que faz o seu próprio caminho' e
> > (se me lembro bem; estou citando de memória) 'aquele que fez morada entre
> > nós'. Recentente, deparei com mais uma, em uma matéria da revista Ciência
> > Hoje: 'aquele que constrói sua própria casa' (de certa forma, uma
> > 'mistura' dos dois primeiros).
> >
> > Qual seria a tradução mais correta?  Alguém poderia me explicar a
> > morfologia desta palavra?
> >
> > Desde já, muito obrigado.
> >
> > Cordialmente,
> >
> > Eduardo
> >
> >
> >
> >
> >
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