Imprensa: Americana tem nova tese sobre "amazonas"

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Tue Jan 3 17:25:41 UTC 2006


Matéria publicada na Folha Online (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14109.shtml)
   
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  03/01/2006   Americana tem nova tese sobre "amazonas" CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

A arqueóloga americana Anna Roosevelt, cujo trabalho revolucionou o entendimento da pré-história amazônica, diz estar prestes a desvendar um dos maiores mistérios da Amazônia pré-cabralina: a identidade dos índios da cultura Santarém, que habitaram a foz do rio Tapajós, no Pará. Mas, primeiro, terá de lidar com uma questão bem menos acadêmica --parte do sítio arqueológico onde as escavações deveriam acontecer foi destruída.

Roosevelt, professora da Universidade de Illinois em Chicago e coordenadora de um grande projeto arqueológico na Baixa Amazônia, acha que os povos que produziram as espetaculares cerâmicas decoradas de Santarém na pré-história não são os mesmos tapajós que receberam --a flechada-- os conquistadores ibéricos no século 16 e que pareciam confirmar a lenda das Amazonas.

Ela diz acreditar que os tapajós tenham sido apenas descendentes do povo de hábeis artesãos que se desenvolveu na região de Santarém a partir do ano 1200.

Camada por camada

Para comprovar sua hipótese, no entanto, ela precisa datar toda a ocupação de Santarém, de 1200 até a época colonial, escavando o subsolo da cidade desde camadas mais antigas (mais profundas) até a superfície. E é aí que está o problema: o seu local de escavações, no porto de Santarém, tem cada vez menos superfície.

Roosevelt e sua equipe estiveram no mês passado no porto, fazendo um levantamento da área a ser escavada. E não gostaram do que viram: as camadas superiores do sítio, afirma a pesquisadora, foram arrancadas por tratores --segundo ela, com a conivência da Companhia das Docas do Pará, a CDP, que é dona da área.

"Uma fatia grande do sítio foi raspada por um buldôzer no centro do local. Segundo o Márcio [Amaral, colaborador da arqueóloga], isso foi feito por uma pessoa que aluga a área da CDP para fazer campos de futebol. Além disso, parte da cerca que protege o sítio foi derrubada por tratores."

Segundo a americana, o estrago foi posterior à sua última temporada de escavações em Santarém, em 2002. "A cada vez que voltamos para pesquisar, mais um pedaço do sítio foi raspado ou levado embora pela erosão porque alguém removeu a vegetação. As duas coisas aconteceram depois da nossa temporada de campo."

A perda das camadas superiores, lamenta ela, pode levar junto informações preciosas sobre o período de contato dos tapajós com os espanhóis e portugueses. Um buraco na cronologia significa um buraco na história brasileira.

Segunda maior cidade do Pará, Santarém foi construída sobre um imenso sítio arqueológico. A área do porto é preciosa porque é um dos poucos lugares sem urbanização, que podem ser escavados. Em 2002, a CDP fez acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para cercar e proteger o sítio.

"Segundo o acordo nenhum pedaço do sítio pode ser danificado sem um esforço de salvamento supervisionado pelo Iphan, e as áreas cercadas devem ser perpetuamente protegidas de construção", disse Roosevelt. "Nem a CDP nem seus locatários estão obedecendo a lei."

"Não procede"

Procurado pela Folha, o supervisor do porto de Santarém, Raimundo Lima, disse ter percorrido o local de carro sem encontrar nenhum indício de destruição. "A denúncia não procede", disse. "Estamos cuidando da área."

Segundo Lima, "um campinho de futebol "society'" já existia no local antes de ele ser cercado, construído por um locatário da CDP. "Eles estão até protegendo o sítio", disse o supervisor. "A CDP tem esse compromisso com ela [Anna Roosevelt]." Ele negou também que a retirada das camadas superiores do sítio tenha sido realizada com um trator da prefeitura de Santarém.

"Um trator só foi usado, até onde nós sabemos, para acertar um barranco numa área de 40 metros quadrados, mas fora do sítio arqueológico", afirmou.

Além dos vestígios tapajós, a região de Santarém abriga a mais antiga cerâmica das Américas, com mais de 7.000 anos. 


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