Cen ário Indígena Bra sileiro

Victor Petrucci vicpetru at HOTMAIL.COM
Sun Jul 16 13:00:49 UTC 2006


Caros Companheiros

Parto do princípio de que qualquer tentativa de imposição ou sugestão de 
mitos sagrados é uma ingerência indevida entre nossos irmãos indígenas que 
tanto sofreram em nome de nossos "valores" judáico-cristãos. O meu Deus é 
melhor que o Seu não cabe mais.

Cito um exemplo que presenciei numa aldeia Guarani Kaiowaa em Caarapó no 
Mato Grosso do Sul. Um membro da aldeia/comunidade havia proposto a 
construção de uma maloca. Dezenas de metros de comprimento, outros tantos de 
largura e de altura. Há muito os Kaiowáa "não sabiam" mais construir tais 
malocas.  O construtor viajou até encontrar um local com tal tipo de 
construção. Pesquisa daqui, pesquisa dalí e ele retorna à aldeia com o 
conhecimento para tal empreitada. Em conjunto a maloca é construida, 
adaptada para uma estrutura de bambu, único material disponível.  Imponente, 
imensa, cheirando a cobertura fresca lá estava a maloca, orgulho do grupo 
que a construíra e de boa parte da aldeia. No centro a Curuça colonial da 
qual ainda se lembravam, resquício jesuítico imposto/aceito aos/pelos 
antigos guaranis. A inauguração seria no dia seguinte. Impasse. O capitão da 
aldeia não estaria presente Por que  não participar de tal reapropriação 
culturall? Simplesmente porque além de capitão ele era pastor evangélico e 
se recusava a "retomar" os cultos de seu povo. O impasse estava formado 
todos perderam. Minha visita ocorria juntamente com uma freira que assistia 
à aldeia. Não resisti à pergunta. "Irmã como fica a questão catequética para 
este povo" Resposta. Não fica, não fazemos. Não pude assistir a inauguração 
e de lá saí com a certeza da incoveniência da presença de todos os 
"civilizados". e de que a ingerência  não era melhor proposta.

Victor A. Petrucci
Campinas - Brasil
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>From: "Renato Athias" <renato.athias at gmail.com>
>Reply-To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
>To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
>Subject: [etnolinguistica] Cenário Indígena Brasileiro
>Date: Thu, 13 Jul 2006 15:14:12 -0300
>
>http://www.antropos.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=90&Itemid=26
>
>O Cenário Indígena Brasileiro e a Atuação Missionária Evangélica
>
>
>
>Por Ronaldo Lidorio
>
>30/03/06
>
>Nos últimos 500 anos o pensamento coletivo brasileiro não mudou a ponto de
>gerar uma diferença visível em termos de abordagem e interação com o
>indígena e sua sociedade. No cenário leigo o índio ainda é visto por alguns
>como selvagem, por vezes como herói, ignorante ou, ainda, como 
>representante
>de uma cultura superior e pura. Poucos pararam para escutá-lo nos últimos
>cinco séculos, e havia muito a ser dito.
>
>No meio acadêmico fala-se sobre a desmistificação da identidade indígena.
>Creio que precisamos primeiramente desmistificar a nós mesmos, repensar
>nossas expectativas em relação a essa sociedade com a qual convivemos por
>séculos sem compreendê-la, e passar a interpretá-la de forma igualitária na
>dignidade e respeitosa nas diferenças.
>
>Calcula-se que havia 1,5 milhão2 de indígenas no Brasil do século 16, os
>quais, irreparavelmente, somam hoje não mais de 350 mil. Infelizmente essa
>realidade etnofágica vai muito além das estatísticas e das palavras, pois é
>composta por faces, vidas, histórias e culturas milenares, as quais têm
>sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquistadores, a forte 
>imposição
>socioeconômica e perdas sociais tremendas. Permita-me redefinir os termos
>desta afirmação. Os conquistadores não são os outros. Somos nós.
>
>A sociedade indígena ainda vive hoje sob o perigo de extinção. Não
>necessariamente extinção populacional, mas igualmente severa, quando se
>perde língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar
>diferente convivendo em um território igual.
>
>Segundo Lévy-Strauss, a perda lingüística é um dos sinais de declínio de
>identidade étnica e decadência de uma nação. Ao observarmos tal sinal,
>percebemos quão desolador é o cenário.  Michael Kraus afirma que 27% das
>línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas crianças. 3 Isso
>significa que um número cada vez maior de crianças indígenas perde seu 
>poder
>de comunicação a cada dia.
>
>Aryon Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 
>1.273línguas,
>4 ou seja, perdemos 85% de nossa diversidade lingüística em 500 anos.
>Luciana Storto chama a atenção para o Estado de Rondônia, onde 65% das
>línguas estão seriamente em perigo por não serem mais aprendidas pelas
>crianças e por terem um ínfimo número de falantes.
>
>Precisamos perceber que a perda lingüística está associada a perdas
>culturais complexas, como a transmissão do conhecimento, formas artísticas,
>tradições orais, perspectivas ontológicas e cosmológicas. No processo de
>transição, quando a língua materna cai em desuso, normalmente há o que
>podemos chamar de "geração perdida": um vácuo cultural atinge uma geração
>inteira. Ou seja, no processo de perda lingüística e migração para o
>português, os grupos indígenas passam por um processo de adaptação quando 
>>não têm mais fluência na língua materna nem aprenderam o suficiente o
>português para uma comunicação mais profunda. Tal processo em média não 
>dura
>menos que três décadas. Esse é um momento de perigo, em que a identidade
>indígena é autoquestionada e muitos valores e, sobretudo, seu poder de
>comunicação e transmissão de conhecimento são perdidos. Perdem-se também os
>sonhos.
>
>Na tentativa de repensar a realidade de nossos irmãos indígenas é preciso
>filtrar a informação sobre a atuação missionária evangélica em relação a
>eles. A contribuição evangélica, na tentativa de relacionamento com a
>sociedade indígena nacional, teve início com a influência holandesa no
>século 16 e permanece hoje representada por um grande número de 
>organizações
>que tenta reduzir os prejuízos sofridos. Isso se traduz em um sem-número de
>biografias daqueles que deram a vida, na impossibilidade de darem mais, 
>para
>minimizar alguns dos efeitos do extermínio social indígena de séculos.
>
>Dentro de um vasto universo de ações sociopolíticas percebemos que a força
>evangélica missionária se destacou especialmente em três áreas: preservação
>lingüística (com a grafia e conseqüente preservação de diversas línguas — e
>muito ainda está sendo feito); educação (tanto na língua materna, com forte
>destaque, quanto na educação formal em programas governamentais); e saúde
>(tanto de base, nas comunidades, quanto também organizacional, em clínicas 
>e
>hospitais). Permita-me pontuar: o evangelho jamais será motivo de alienação
>social ou imposição de credo. É, ao contrário, motivação para uma contínua
>tentativa de se recuperar as perdas humanas nos segmentos mais sofridos.
>
>Ainda há muito a ser feito. É necessário caminhar.
>
>Notas
>[1] FONSECA, Ernesto. *Breve história da colonização*. Lisboa: 1897.
>2 Antropólogos da  ALAB  falam em 5 milhões.
>3 KRAUSS, Michael. *The world's languages in crisis*.
>4 RODRIGUES, Aryon. Línguas indígenas — 500 anos de descobertas e perdas.







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IV Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares
Goiânia, 18 a 20 de outubro de 2006
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