Certos termos estudados pela filosofia

Eduardo Ribeiro kariri at GMAIL.COM
Sat Sep 1 16:27:22 UTC 2007


Caro César,

Não sei o quanto isto seria relevante, mas talvez seja interessante
mencionar que em línguas do tronco Macro-Jê o *ouvido* (e não a *cabeça*,
como em português) parece ser o "locus metafórico" para *
conhecimento/consciência*.  Assim, nas famílias Jê e Jabuti, a raiz para
"ouvir" (que tem cognatos em ambas as famílias e é, portanto, provavelmente
reconstruível para o Proto-Macro-Jê) também tem os significados de
"experimentar", "entender", "saber" (Ribeiro & van der Voort 2005).  E, em
Karajá, "pensar" e "ouvir" são ambos expressos pelo mesmo verbo (derivado do
nome "ouvido"). Ser burro é "não ter orelhas/ouvido"; perder a consciência é
"entupir o ouvido/orelha"; esquecer-se é "perecer o ouvido"; lembrar-se é
"acordar o ouvido"; e assim por diante (traduções aproximadas).

Isto parece ter correlatos etnográficos interessantes -- vide, por exemplo,
a descrição e interpretação da cerimônia da perfuração das orelhas entre os
Canela (família Jê), por Bill Crocker (
http://www.nmnh.si.edu/naa/canela/canela1.htm).

Meu interesse nestas construções é, além de etnolingüístico,
histórico-comparativo. Seria interessante saber se algo semelhante ocorre em
outras famílias (e, se este é o caso, com que freqüência e qual a sua
distribuição geográfica), para ajudar a responder algumas das questões que
tenho:

(1) até que ponto estes "esquemas metafóricos" são estáveis diacronicamente
(servindo, assim, de evidência para relacionamento genético)?

(2) até que ponto podem ser emprestados (servindo, assim, como evidência de
contato lingüístico, áreas lingüísticas, etc.)?

Agradeço quaisquer exemplos e sugestões.

Abraços,

Eduardo

Referência:

Ribeiro, Eduardo & Hein van der Voort. 2005. The inclusion of the Jabuti
language family in the Macro-Jê stock. Trabalho apresentado no Simpósio
Internacional sobre Lingüística Histórica na América do Sul, Belém: UFPA &
Museu Goeldi.


On 8/23/07, César xrmr <cesarschirmer at gmail.com> wrote:
>
>   Prezados lingüistas,
>
> Adoro este grupo, onde sou mero espectador. Sou doutorando e professor de
> filosofia, e estou dando um curso sobre mente, pensamento e liberdade em
> Descartes. Eu gostaria de indicações bibliográficas para tais termos nas
> línguas ameríndias, com seus campos semânticos etc.
>
> O que motiva meu pedido é a experiência feliz de ter aprendido sobre a
> noção (geral e filosófica) de pessoa após ter lido um texto do Eduardo
> Viveiros de Castro. O que quero (obviamente) não são esclarecimentos sobre a
> filosofia de Descartes, mas sim uma visão mais ampla dessas noções.
>
> Enfim, se meu pedido não for muito extravagante, e vocês puderem me
> ajudar, fico muito agradecido.
>
> César
> 
>
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