Resumo: Quarar, suruca

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Thu Apr 23 02:07:23 UTC 2009


Prezados,

Muito obrigado à Profa. Yonne Leite, à Simoni Valadares e ao Jefferson Barbosa pelas informações adicionais.  Esta discussão deixou claro, para mim, que a lexicografia do português brasileiro ainda tem muito a aprender com os avanços ocorridos, nas últimas décadas, nos estudos das línguas indígenas brasileiras. Além disso, ainda se faz uso de terminologia que tem pouco ou nenhum valor científico. Minha bronca, neste caso, é com o termo "corruptela", que não só é vago, de um ponto de vista descritivo, mas tende a ser preconceituoso.

Quando se diz "corruptela", a idéia é que a forma não-padrão seria uma deformação de uma forma padrão supostamente original -- e isto não é sempre o caso.  Por exemplo, nos meus tempos de escola, insistiam que uma forma caipira como "vortemo(s)" seria uma "corruptela" de "voltamos" -- uma explicação que carece completamente de base científica. Neste caso, o dialeto caipira (e qualquer outro dialeto que faça uso de formas equivalentes) é, de fato, mais conservador que o padrão, preservando uma distinção ("vortamo" vs. "vortemo") que se perdeu em espanhol e no português padrão brasileiro, mas que se preserva no português europeu (cf. voltamos vs. voltámos).  Enfim, em muitos casos, formas dialetais é que se mostram fonologicamente mais conservadoras com relação ao étimo latino (cf. luita vs. luta, vinheram vs. vieram, etc.).

Como os portugueses padrões só viriam a se solidificar muito depois da expansão colonial portuguesa, a diversidade de dialetos de hoje se deve, em grande parte, à diversidade que já havia quando o português se espalhou pelo mundo. Enquanto formas regionais são o resultado de evolução histórica regular desde o latim vulgar, as versões padronizadas podem vir a ser de certa maneira artificiais, resultados de coineização ou nivelamento. Se fôssemos estudar a evolução histórica do português e não contássemos com documentos antigos, falares regionais acabariam sendo fontes mais valiosas que as variedades padrão (como no caso em questão, tendem a ser testemunhas mais fiéís da história da língua).

Enfim, obrigado a todos os que participaram desta discussão, que me deu muito o que pensar.

Abraços,

Eduardo

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