Índio dá aulas de guarani para sustentar sua aldeia em área nobre de Niterói

arianaluzes arianaluzes at YAHOO.COM.BR
Wed Mar 11 01:44:54 UTC 2009


- O Hóspede que Queria Eliminar o Hospedeiro –



Murilo Marques Filho

Fevereiro/Março de 2009



I

Niterói possui alguns dos patrimônios históricos e arqueológicos mais relevantes
do Brasil - patrimônio indígena de especial interesse para toda a espécie humana
- sucessivamente desprezado tanto pelos políticos que alçaram à prefeitura pela
via direta quanto pelos alcaides que alçaram a essa condição indiretamente.

O Sambaqui Camboinhas - hoje parcialmente destruído pela ação voraz da
especulação imobiliária - construção humana de mais de 8.000 anos de idade,
anterior à edificação às estruturas do Velho Mundo, sendo duas vezes mais antigo
do que as Pirâmides do Egito, é Patrimônio dos Povos Indígenas Brasileiros,
independente de troncos culturais ou lingüísticos, pois precede a constituição
das atuais etnias contemporâneas, assim como o Sambaqui de Duna Pequena, de
2.170 anos, ambos testemunhos vivos da presença e do engenho do Homem –
paleoindígena ou indígena – nas Américas.

Já Duna Grande, separado do Sambaqui Duna Pequena pelo canal aberto
artificialmente entre a Lagoa de Itaipu e o Mar pela Veplan, é um cemitério
Tupinambá dos primórdios da colonização e pertence, por direito sucessório, aos
Povos de Tronco Tupi e à Comunidade Tradicional Caiçara, em parte descendente
dos Povos Tupi que habitaram a região.

Como é de conhecimento público, o CESAC – entidade formada por indivíduos da
etnia Guajajara, de Tronco Tupi - desde 2002 se mobiliza em defesa do Sambaqui
Camboinhas e Duna Pequena, dos demais cemitérios indígenas e do sistema lagunar
e do ecossistema de restinga remanescente de Itaipu, juntamente com as entidades
ambientais, as populações originárias e tradicionais, por meio de suas
entidades.

Como é também de conhecimento público a área dos Sambaquis Camboinhas e Duna
Pequena são disputada pelos setores imobiliário e empreiteiro, que pretendem
erguer sobre a restinga remanescente e os Sambaquis um empreendimento
imobiliário que conjuga 220 prédios de apartamentos.

O CESAC apresentou juntamente com a Comunidade Caiçara de Itaipu - comunidade
tradicional, em parte descendente de Povos Originários da Região – por meio da
ALPAPI (Associação Livre dos Pescadores Artesanais da Praia de Itaipu) um
projeto interétnico de manejo sustentável da área para as principais etnias
herdeiras - demonstrando o interesse em dar uma destinação indígena e
interétnica à uma área indígena por direito.

O projeto do CESAC e ALPAPI conjuga sustentação econômica e preservação e -
desde 2004 - etnias originárias, como os Kayapó, os Pataxó, os Tukano, os
Guajajara e os próprios Guarani, entre outras etnias, tem ocupado pontualmente o
Sambaqui Duna Pequena, mobilizadas pelo CESAC, visando por um freio literal na
especulação imobiliária e, ao mesmo tempo, conscientizar a população.



Como um meio de frear a especulação e dar início ao projeto de manejo
sustentável o CESAC adquiriu do velejador George Mollin a área que ocupava
informalmente, por meio de escritura de Cessão de Direitos em 2007.



Em fins do mesmo ano, o CESAC foi procurado pelo Sr. Cristino Machado,
representante da Funai/RJ, para alocar ou assentar uma família Guarani Mbyá,
oriunda da Argentina, que havia sido expulsa da Comunidade de Paraty - Mirim. O
projeto de manejo sustentável foi apresentado ao Sr. Cristino Machado (Funai) e
às lideranças Guarani, assim como, amplamente discutido com a referida família -
objeto de ampla e intensa discussão acadêmica e comunitária, o projeto do CESAC
e da ALPAPI diz respeito às áreas da Cultura, da Arqueologia, da Museologia, da
Antropologia e dos Direitos Aplicados, indo muito além da querela sobre a
permanência ou impermanência de famílias indígenas sobre o Sambaqui Duna
Pequena.



O restante da estória é de conhecimento público: o incêndio criminoso – e
misterioso – do aldeamento indígena, os holofotes, as campanhas de doações na
mídia, a entrega de um prêmio de luta pelos Direitos Humanos ao "cacique" Darci
Nunes, a campanha difamatória e pusilânime do CCOB e as ações covardes de
indivíduos Guarani (que agora tentam escapar da opinião pública migrando para
Maricá), culminando com a expulsão dos Guajajara que um dia abrigaram os Guarani
pelos mesmos, o hóspede tentando assassinar o hospedeiro.





II



OS OSSOS



A família Guarani foi alocada sobre a área do Sambaqui Duna Pequena por
princípios humanitários e legítimo anseio de reparação, compensação e
indenização às etnias (os Guarani Mbyá pertencem ao Tronco Lingüístico
Tupi-Guarani), pois a mesma – já expulsa das aldeias Guarani de Paraty-Mirim,
Bracuí e Arapongas - estava sem eira nem beira, condenada a viver de favor na
ocupação do antigo Museu do Índio, no Maracanã.



Desde o primeiro momento que chegaram os Guarani foram alvos de ataques por
parte da Soprecam, entidade "governada" por Stuessel Amora que pedia a pronta
expulsão dos mesmos alegando que "desvalorizavam a área", ao mesmo tempo que
foram "adotados" pelo CCOB, ONG que diz representar interesses comunitários em
Niterói, que se valendo de um discurso de "solidariedade aos irmãos Guaranis",
utilizava os indígenas como estandarte na sua querela pessoal contra a Soprecam.



O discurso feito pelo "cacique" Darci Nunes no RJ/TV, segurando ossos escavados
nos Sambaquis (e beirando não somente ao ridículo, como ao criminoso), de que
ali estavam "os ossos dos antepassados" não se sustentava em pé, em primeiro
lugar, por que não consta em nenhum livro ou relato histórico que os
antepassados dos atuais Guarani ("Carijó") estiveram por essa área, que era
ocupada pelo Tupinambá na ocasião do massacre ocorrido no Século XVI. Em segundo
lugar porque, por mais aguçado que seja espiritualmente o Pajé, não se pode
determinar ascendência para um osso anônimo de 2.170 anos de idade, anterior à
constituição das etnias contemporâneas, como os ossos do Sambaqui Duna Pequena
(além, de repito, ser criminoso removê-lo).



Fontes orais atestam a presença de indígenas na região da Grande Itaipu,
assimilados pela sociedade dominante, até os anos 20 do Século XX - mas nenhuma
se refere à etnia Guarani.



Etnia hoje em grande parte sob a proteção do Conselho Indigienista Missionário
(CMI), os Guarani Mbyá possuem hoje uma religiosidade onde pode se encontrar
ecos das crenças trazida pelos Jesuítas. Ao contrário do que escreveu Bessa
Freire em uma polêmica sobre a permanência dos Guarani em Camboinhas, alguns
Guarani Mbyá foram tão manipulados pelos Jesuítas que acabaram por se tornar
manipuladores.



Curiosamente o mesmo senhor Bessa Freire, que – com o "cacique" Darci Nunes,
Presidente – é hoje Vice-Presidente do CIN (Conselho Indígena de Niterói),
entidade que defende a área como de "ocupação tradicional", em seu trabalho
conjunto com Márcia Fernanda Malheiros, Os Aldeamentos Indígenas do Rio de
Janeiro – de publicação anterior à chegada da atual família Guarani, portanto,
anterior à criação da própria CIN - não lista nenhuma tribo Guarani ou "Carijó"
como originária do litoral do atual RJ (apontados os Tupinambá, Temiminó,
Tupinikin ou Margaya e os Ararape ou Arary como os únicos grupos de família
Tupi-Guarani localizados na região do atual estado).



Xamãs Guarani Mbyá sérios como Jonas Tupã, de Boa Esperança, Espírito Santo,
declaram ser o Paraguai a "Terra Mãe", o "Centro da Terra" para a etnia, sendo o
litoral o "Limite da Terra" e tendo a peregrinação para o litoral pelos Mbyá
sido decorrente de uma Oguatá, uma busca messiânica pela prometida "Terra Sem
Males", não – e nunca - uma busca por uma "Terra Ancestral". O Pajé Jonas Tupã
ainda ressalta ser a "Terra Sem Males" um lugar metafísico, não terreno como a
área do Sambaqui Duna Pequena (tenho guardado o depoimento completo em DVD).



Hoje está muito claro para quem acompanhou o processo que os ossos que o
"cacique" Darci Nunes de Oliveira segurava não eram "ossos de antepassados", os
ossos que o senhor Darci Nunes não quer largar são os ossos da rentabilidade
farta, pois, estando em um trecho de litoral privilegiado, visitado por turistas
e banhistas durante todo o ano (não somente durante o verão), pode ali cobrar 10
reais por cabeça aos visitantes e vender artesanatos Guajajara e Pataxó como se
fossem originários da "cultura Guarani" – assim como artesanato de famílias de
três aldeias Guarani do Espírito Santo – sem dar satisfação aos
donos/produtores, pois esses foram todos expulsos dali (acabando esse estoque
aparecerá um outro fornecedor, de outra etnia e de igual boa fé, que, comovido
pela "luta" dessa família Guarani, se oferecerá para ajudar).



Não bastesse, os holofotes trazidos pelo misterioso incêndio que assolou a
aldeia (e o prêmio pela "luta pelos Direitos Humanos" decorrente) renderam boas
doações em gêneros e espécie, estando essa família Guarani hoje em estado de
"sustentabilidade plena", não necessitando de qualquer esforço para ganhar o pão
com o suor de seu rosto – visto que até os peixes são doados pelos pescadores de
Itaipu, em gratificação à ajuda no arrastão, não necessitando aos Guarani de
Camboinhas de tomar iniciativa nem para pescar.



Com uma vida farta dessas, não é de estranhar que o sulista Darci Nunes de
Oliveira não queira "largar o osso" da rentabilidade farta e sem algum esforço,
podendo passar as noites criando barriga no quiosque defronte a aldeia sem
precisar pensar no amanhã.



III



O SEQUESTRO



É de se estranhar que, após a instalação definitiva dos Guarani sobre o Sambaqui
Duna Pequena, com apoio da Funai e do CCOB, ainda estejam ali instalados, logo
defronte, os containers e os seguranças pagos pelas construtoras, visto que tudo
isso tem um custo – e já se passa quase um ano desde que os Guarani se
instalaram "definitivamente" sobre a área.



Não basta o soterramento de parte do Sambaqui Camboinhas para a construção de um
prédio de apartamentos, aos empreiteiros e às imobiliárias interessa mais
destruição, a especulação avançando sobre o Sambaqui Duna Pequena.



Não é todo o dia que as construtoras vislumbram uma oportunidade dessas, a de
construir em local de vista privilegiada, defronte para o mar, 220 prédios de
apartamentos. Principalmente quando se sabe que as construções possuem o aval e
o total apoio de Prefeitura (e a omissão da Soprecam, entidade representativa
dos moradores, em Audiência Pública), apesar de serem os prédios sobre Área de
Preservação Permanente, "protegida" pelo IPHAN e por legislação federal (sobre o
terreno de posse do CESAC, entidade fundada e dirigida por indivíduos da etnia
Guajajara, ocupado hoje ilegitimamente por uma família Guarani).



Não seria de se estranhar o pagamento de seguranças por parte das construtoras –
para uma área ocupada por aldeia indígena, com apoio da Funai e CCOB - caso eu
houvesse dado atenção a algo que ouvi, mas "fiz que não ouvi" - não acreditando
no que ouvia, acabei desacreditando no que tinha ouvido, não fosse alertado por
outras testemunhas que ouviram a mesma frase em outras ocasiões. A argentina
Lídia, mãe do "cacique" Darci Nunes, matriarca e "cacique de fato" do grupo,
pronunciou a frase: "A gente só sai se houver indenização".



A frase criminosa da "pajé" do grupo, lida de trás para frente, significa
simplesmente: "Se houver indenização a gente sai". O que não somente justifica a
presença de seguranças pagos pelas construtoras na área defronte aos Sambaquis,
investimento com fins de resguardar o local de futuras construções, como
confirma e reafirma que toda a estória de "área de ocupação tradicional", de
"lugar sagrado" e de "ossos dos antepassados" é pura balela para ninar turista.



A frase da "pajé" é criminosa porque, em primeiro lugar, isso confirma que o
aldeamento Guarani se configura não numa ocupação, mas em um seqüestro – e o
seqüestro da restinga e do Sambaqui Duna Pequena é tão criminoso quanto o
seqüestro de um ser humano.



A frase da "pajé" é criminosa, assim como tal seqüestro é tão criminoso quanto
ao de um ser humano, pois o Sambaqui Duna Pequena é uma construção humana de
2.170 anos de idade (o Sambaqui Camboinhas com 8.000 anos), anterior à
constituição das etnias ameríndias contemporâneas, sendo Patrimônio de Todos os
Povos Indígenas Brasileiros e área de especial interesse para Toda a
Humanidade..



A frase da "pajé é criminosa, pois o terreno, de posse legal do CESAC (entidade
fundada e dirigida por indivíduos da etnia Guajajara) e ilegitimamente ocupada
por uma família Guarani, está sobre uma local de especial interesse para as
áreas da Cultura, Meio Ambiente, Museologia, Antropologia, Antropologia e para
própria Genealogia do Homem nas Américas.



A partir do mês de fevereiro, com o CCOB estando em conversações com o Prefeito
de Maricá a fim de realocar os Guarani, surgem especulações de todos os tipos,
não ausentes de fundamentos (vide as declarações de Dona Lídia), sobre as reais
intenções da família Guarani, do CCOB e sobre a própria criação do CIN (entidade
criada como "braço indígena" do CCOB, ligada a políticos de Niterói).



Agora com a denúncia de que os Guarani estacionaram criminosamente 60 carros
sobre o Sambaqui Duna Pequena, cobrando 10 reais a vaga, transformando uma dos
patrimônios históricos e culturais mais relevantes do Brasil – testemunho da
ocupação nas Américas, área de interresse para toda a espécie humana - em
estacionamento praiano, prova que essa família não somente seqüestrou o
Sambaqui, como – não havendo resgate - tenta assassinar o seqüestrado.



IV



OS "OPRIMIDOS" VIRAM OPRESSORES



Uma dos povos indígenas mais numerosos do Brasil, os Guajajara, de Tronco Tupi,
constituem o maior grupo de refugiados étnicos do país. Habitam 11 Terras
Indígenas na Margem Oriental da Amazônia sufocadas pelo desmatamento criminoso,
pelo latifúndio, pela mineração e pela pistolagem - sendo paulatinamente
expulsos de suas terras. No afã de desalojá-los de suas terras pistoleiros não
distinguem adultos de crianças, homens de mulheres (e a mídia, desinteressada
pelo êxodo Guajajara, não exibe casos como o de Maria Paulina dos Anjos, de 6
anos, morta com um tiro na cabeça por pistoleiros que invadiram a aldeia de
Anajá, no Maranhão em maio de 2008, entre outras centenas de casos).



Primeira etnia a ocupar o Sambaqui Duna Pequena no Século XXI, os Guajajara
possuem uma história de 380 anos de contato com os brancos marcados por
aproximações, recusas, revoltas e tragédias: a revolta contra os missionários
capuchinhos de 1901 – comandada por Cauiré Imana, bisavô dos fundadores do CESAC
- teve como resposta a última guerra oficial contra índios na História do
Brasil, com mais de 200 mortos do lado "branco".



De língua similar à falada pelos Tupinambá do Século XVI, enterrados hoje no
Cemitério de Duna Grande, separado do Sambaqui Duna Pequena apenas por um canal
artificial construído nos anos 70, os Guajajara que para aqui vieram não tiveram
o recepção humanitária que membros de sua etnia deram aos Guarani que aqui
chegaram.



Instigados por uma entidade que diz representar interesses comunitários em
Niterói (CCOB), cujo diretor de comunicação afirma "não achar saudável a mistura
de etnias" (desconhecendo casos de Terras Indígenas interétnicas pelo Brasil
afora e experiências como a do Parque Indígena do Xingu, mais especificamente no
Alto Xingu, onde as aldeias tradicionalmente abrigam famílias de etnias
distintas, havendo em quase toda a família algum casamento interétnico),
estimulando o dissenso e a conspiração para melhor dominar, indivíduos da
família Guarani alocados no Sambaqui Duna Pequena passaram a hostilizar não
somente uma família Guajajara recém chegada, bem como a hostilizar e agredir
lideranças e anciãos da própria etnia Guarani, assim como apoiadores de opiniões
independentes que ameaçavam a "liderança" de pensamento único, protagonizada
por um rapaz imaturo e violento, de caráter deslumbrado, facilmente manipulável
por aproveitadores organizados à órbita dessa entidade movida por interesses
estranhos ao das etnias envolvidas.



Valdetaro, diretor de comunicação do CCOB, declara escandalizado em e-mail que
"os Guajajara incentivados pelo advogado Arão da Providência afirmam que não
devem obediência às lideranças Guarani" – o que entendido espantosamente como
desafio – e que esse motivo fútil poderia ser detonador de conflito violento,
quando as etnias ameríndias (quando não "teleguiadas" e incentivadas à ditadura
por órgãos estranhos aos seus interesses como o CIMI e o CIN), vivem em regime
denominado pelo etnólogo Pierre Clastres como "democracia de consenso", não
devendo obediência à Cacique algum (sendo que nenhum Cacique assume a função de
"chefe"), muito menos obediência à um jovenzinho deslumbrado com os holofotes,
manipulado por meia dúzia de aproveitadores brancos e adepto da opressão como o
senhor Darci Nunes.



Uma das atribuições do Cacique entre grupos de Tronco Tupi é a de dividir,
compartilhar, sejam presentes doados por um visitante ou frutos de uma pescaria
(como relatado em depoimento do Cacique Kotok Kamayurá, em minha posse, gravado
em DV em setembro de 2006), sendo assim, como os Guajajara, de Tronco Tupi,
respeitariam uma "liderança" que nega comida à idosos de sua própria etnia –
expulsando-os pela fome? Qual o líder, qual o cacique que deixa seus aldeados
passando fome?



Indo mais longe, se respeito para o senhor Valdetaro, íntimo do ex-comandante do
Forte Imbuhy, é submissão, por que os Guajajara que não se submeteram nem à ação
do Exército em 1901 se submeteriam aos caprichos do filho de Dona Lídia?



Não passa pela cabeça do Sr. Valdetaro (autor, junto com José de Azevedo,
presidente da entidade, de campanhas discriminatórias, difamatórias e
injuriosas) que o advogado Arão da Providência não poderia ter nunca instigado
os Guajajara a algo que já lhes é próprio de sua formação cultural, a
autodeterminação e a nobreza. Espantosamente nem passa pelo discurso
valdetariano que em um Estado de Direito só se deve obediência às leis da
República.



Desinteressantes do ponto de vista estratégico por não serem manipuláveis, os
Guajajara passaram a ser para o CCOB e para a família Guarani alocada em
Camboinhas vistos como obstáculo para os interesses dessa família e da ONG, um
empecilho para a agenda oculta de ambas.



O CCOB, então, passou a fazer uma campanha suja e conspiratória contra Arão da
Providência e o CESAC, escrevendo para ministros, indo à estâncias judiciais,
procurando apoio de antigos adversários para tal, enquanto, de outra ponta, os
"Guarani de Camboinhas" começaram a sua campanha discriminatória de coação e
violência contra a família Guajajara que se encontrava no local, iniciando com o
corte d'água, passando pela coação diuturna e culminando com uma chuva de pedras
contra a casa de teto de palha dos Guajajara onde no interior se encontravam
crianças pequenas (há pelo menos quatro testemunhas, fora as vítimas).



Já temendo o pior por sua culpablidade no atiçamento dos Guarani, o CCOB
covardemente quis culpabilizar Arão da Providência, de etnia Guajajara, diante
de um Procurador de República pelos atos que direta ou indiretamente estimulou,
imputando a Arão a responsabilidade pela presença dos Guajajara (como se esses
fossem índios "teleguiados" como os que os membros da ONG estão acostumados a
lidar e também como se os Guajajara fossem os "intrusos" e não os anfitriões).



V



CONSPIRAÇÕES E COMISSÕES ILEGÍTIMAS



O CCOB age agora como os portugueses do Século XVI agiram na Guerra dos Tamoios,
estimulando o dissenso e fornecendo armas para os Guarani (Temiminó) para que
atacassem os Guajajara (Tupinambá), com fins de, tendo pleno domínio do
território, pudessem lutar livremente contra a Soprecam (os franceses). No caso
contemporâneo talvez a motivação seja mais abjeta: é possível que aos membros da
ONG que diz representar interesses comunitários de Niterói (e agora criou um
braço para "representar interesses indígenas") seja conveniente limpar o terreno
de testemunhas, como os Guajajara e o CESAC, para forjar mais à frente uma
aliança (sigilosa e proveitosa para ambas as partes) com a Soprecam ou mesmo com
as próprias empreiteiras.

O CCOB, com fins de limpar terreno, não se furta em levar sua campanha caluniosa
e difamatória ao procurador de Justiça que é contra a ocupação Guarani, senhor
Canedo, como ao próprio presidente da Funai e ao Ministro do Meio Ambiente, ao
qual "minutos antes" atacou duramente.

Uma das armas que a entidade dispôs para os "Guarani de Camboinhas" foram a
criação de um "Conselho Indígena de Niterói", fundado em Assembléia
Extraordinária da CCOB, criado à revelia dos Guajajara e demais etnias, bem como
os caiçaras de Itaipu e Imbuhy, descendentes dos grupos Tupi da região, tendo
somente um indígena na comissão, o presidente mestiço Darci Nunes, "cacique de
Camboinhas", ocupando cargo puramente ilustrativo, visto que quem são os
verdadeiros "caciques" são o senhor Bessa e os "caciques do CCOB", não possuindo
tal conselho legitimidade alguma.

Tendo como Vice-Presidente Bessa Freire, do Conselho da Funai do Museu do Índio,
para dar "legitimidade acadêmica" à comissão, o Conselho Indígena de Niterói tem
ainda uma atriz obscura que usa os eventos aos quais os Guarani são convidados
como plataforma de divulgação de si e de seu trabalho, um vereador que fez
ouvidos de mercador às primeiras denúncias de opressão contra os Guajajara (o
maior grupo de refugiados étnicos do Brasil, repito), políticos e os
conspiradores e difamadores profissionais José de Azevedo e Carlos Valdetaro.



Vozes indígenas alegam que tal conselho não tem legitimidade, em primeiro lugar,
porque se não convocou representantes de outras etnias um conselho indígena de
Niterói não possui legitimidade alguma. Em segundo lugar, indígenas argumentam
que sendo "teleguiado" por José Ribamar de Bessa Freire, que há décadas é
"cacique" do programa Pró-Índio da Uerj, recebendo verbas públicas para formar
indígenas sem formar um só índio nos últimos dez anos (apesar do valor de lei de
cotas haver aumentado), tal conselho poderia servir a quaisquer interesses menos
aos interesses dos indígenas.



Em terceiro lugar, argumento com os indígenas, um conselho que apóia direta ou
indiretamente a discriminação contra qualquer grupo étnico, principalmente
contra o maior grupo de refugiados étnicos do país, não deveria ter legitimidade
alguma em nenhum lugar.



VI



CHUVA DE PEDRAS E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA



Não bastasse a chuva de pedradas, em ação coordenada com o CCOB, a Funai, na
segunda semana de fevereiro estabeleceu um prazo até o fim daquele maldito mês
para que os Guajajara deixassem a área do Sambaqui Duna Pequena – caso
contrário, sairiam judicialmente.



Na mesma semana que foi instaurada uma Câmara de Conciliação da Advocacia Geral
da União e divulgado o pedido de saída dos Guajajara (pelos jornais, pois a
Funai, na pessoa do senhor Cristino Machado, não teve nem a hombridade de
comunicar diretamente), o CCOB começou uma campanha difamatória contra a pessoa
de Arão da Providência e o CESAC, coagindo o CESAC a retirar seus parentes
Guajajara da área, pois, segundo dá entender Valdetaro, os Guarani poderiam
partir para a violência e o CCOB – segundo e-mail – lavava as suas mãos tal como
Pilatos, colocando Arão como responsável pelo dissenso que o próprio CCOB
alimentou (e pelas possíveis conseqüências).



Quem fere o artigo 37 da Constituição é a Funai, na pessoa do Senhor Cristino
Machado, maculando a Impessoalidade do cargo que ocupa, sob pena de Improbidade
Administrativa, ao eleger uma família Guarani em detrimento a outras famílias,
uma etnia em detrimento a outra, ferindo os direitos dos Guajajara, assim como
os direitos dos Tupinambá e dos pescadores de Itaipu, herdeiros da área do
Sambaqui Duna Grande e Duna Pequena por conta do direito sucessório.



O senhor Cristino Machado – a "peça oculta" na dita "guerra de Camboinhas" - é o
responsável direto tanto pela instalação dos Guarani em Camboinhas quanto pela
expulsão dos Guajajara do local, assim com responsável indireto pelo
"estacionamento", cometendo improbidade administrativa ao perder a
imparcialidade e contemplar os interesses de apenas uma família.



Agora, enquanto escrevo essa linhas, sou informado que Oswaldo. agente de saúde
e motorista da comunidade (que tanto fez pela família), foi espancado e teve os
seus pertences roubados pelos "Guarani de Camboinhas". Abafando o caso, senhor
Cristino Machado (FUNAI) pagou a viagem de Oswaldo – imediatamente transferido -
para o Paraná.



Pior do que isso, não tendo mais artesanato para vender, os Guarani abriram a
área do Sambaqui Duna Pequena para um estacionamento de 60 carros, cobrando 10
reais por veículo, cometendo não somente um crime ambiental como um crime contra
a Memória Humana – um crime contra a própria Humanidade, em suma.



Havendo destruição do Sambaqui Duna Pequena, construção humana ancestral e
patrimônio indígena de interesse para toda espécie humana, o CCOB e a Funai
devem ser responsabilizados criminalmente, assim como o "cacique" Darci Nunes.



VI



HISTÓRIA E ESTÓRIAS



O "cacique" Darci Nunes, ao expressar o seu desejo pela expulsão dos Guajajara
ao Globo-Niterói, afirmou: "Não podemos confundir as coisas. Eles não tem
história aqui."



Incrível o imaginativo "cacique" supor que os Guarani tem história na cidade,
antes da chegada ruidosa de sua família ninguém havia ouvido falar deles por
aqui. Aliás, antes mesmo de Darci e Dona Lídia aprenderem a pronuciar
"Ni-te-ró-i", os Guajajara – primeira etnia indígena a ocupar o Sambaqui Duna
Pequena no século XXI - já estavam lutando pela preservação da área,
organizando atos públicos, trazendo outras etnias para discussão, criando um
projeto um projeto que protege e garante a sustentabilidade dos territórios
originários e tradicionais (de acordo com o Decreto 6.040/07, da Ministra Marina
Silva) e, inclusive, adquirindo o terreno no qual Darci mora – usa, abusa e
destrói - para melhor protegê-lo da especulação.



Os Guarani não possuindo história, criam "estórias" e fabricam história, a
primeira, "a estória" é que eram descendentes do Homem do Sambaqui, coisa que
qualquer um que tiver um menor entendimento sobre a história da ocupação humana
nas Américas simplesmente refutaria. Estória que mesmo "o professor Darci", se
procurasse minimamente se informar, não teria coragem de ventilar, por mais
"corajoso" que seja.



Os Guarani de Camboinhas fazem história ao expulsarem covardemente Eva, Hilário,
Lucia, Oswaldo, Mário e o seu próprio Pajé, entre outros tantos que "ameaçaram"
a liderança de pensamento único.



Os Guarani entram para a história ao não se darem conta que o espaço onde vivem
está aberto a "mil olhos", a não se aperceberem que a opinião pública está de
olho em tudo o que se passa, ao não conceberem nem imaginarem o número de
pessoas prontas – e aptas – a testemunhar.



Os Guarani de Camboinhas fazem história ao conseguir expulsar, se valendo da
violência e da coação, os Guajajara, etnia Tupi que se instalou na área ao qual
é hereditária por direito (Duna Grande, separado por Duna Pequena por canal
artificial construído nos anos 70, é um grande cemitério Tupi), cuspindo no
prato que lhes foi dado a comer e discriminando e coagindo representantes do
maior grupo de refugiados étnicos do Brasil com chuvas de pedras.



Os Guarani entram para história ao negarem a própria etnia, se auto-declarando
Tupi-Guarani (não existe tribo Tupi-Guarani, somente o Tronco Cultural), já de
olho no direito sucessório de Duna Grande.



Não satisfeitos com a pequena história, os Guarani de Camboinhas querem entrar
na Grande História, danificando irremediavelmente o Sambaqui Duna Pequena,
edificação humana de 2.170 mil anos de idade, área de relevância ambiental,
cultural, acadêmica e espiritual - destruindo a memória humana a troco de
míseros dez reais e provando ao mundo do que é feita a sua espiritualidade.



Os Guarani de Camboinhas, nessa ação que tende a apagar a continuidade da
memória pré-histórica, provam ao mundo que, se podem vender o espaço sagrado do
Sambaquis de Camboinhas e permitir a sua destruição por dez reais, podem
perfeitamente entregar a área – de especial interesse para a Cultura, para
Arqueologia, para Museologia, para a Antropologia e, principalmente, pela
Memória Humana –, vendendo o que não lhes pertence para especulação imobiliária
a preço de banana (por isso mesmo o CCOB negocia, sabe-se lá com quais
interesses, um terreno com a prefeitura de Maricá para realocar os Guarani).



Os Guarani de Camboinhas, não satisfeitos em expulsar aqueles que os acolheram,
vendem agora o solo sagrado que os acolheu.



VII



ATENTADOS



Sejam quais forem os danos ao Sambaqui Duna Pequena, afundado sobre o peso de 60
carros, e à arqueologia e ao Meio Ambiente, o CCOB, nas pessoas dos senhores
José de Azevedo e Carlos Valdetaro, e a Funai, na pessoa do senhor Cristino
Machado, devem ser responsabilizados criminalmente. Atentar contra um Sambaqui é
Crime, tão grave contra atentar contra a vida humana.



Da mesma forma que todo o dito Conselho Indígena de Niterói, criado para
defender direitos e interesses exclusivamente dessa família Guarani, deve ser
chamado à juízo para responder aos possíveis danos ao Sambaqui Duna Pequena,
assim como o senhor Ribamar de Bessa Freire para esclarecer quais os interesses
que o fizeram contrariar seus próprios estudos ao aceitar cargo de
Vice-Presidente numa ONG que declara ser a área citada "território tradicional"
dos Guarani.



Quanto ao "cacique" Darci Nunes, responsável direto pelo "estacionamento do
Sambaqui Duna Pequena", esse já demonstrou ser suficientemente emancipado – e
"escolado" - para responder em juízo quaisquer acusações.



VII



SAINDO PELA TANGENTE



Agora, com denúncias sobre o estacionamento e uma foto do dito cujo publicado no
CMI-Brasil, os Guarani Mbyá avisam pelo CCOB que estão de mudança para Maricá e
o CCOB tergiversa enviando comunicados sobre os preços das tarifas de ônibus em
Niterói.



Quem hoje ataca o CESAC é um energúmeno, provavelmente a mando do CCOB (que
estrategicamente tirou corpo fora), alegando que o mais puro esclarecimento da
verdade são "argumentos anti-guarani" – para se ter uma idéia do desespero.



No momento em que fotos do estacionamento criado pelos Guarani circulam pela
internet, o CCOB anuncia a mudança da aldeia para Maricá. O próprio prefeito de
Maricá vem a público dizer que o município está abrigando uma família de
"tupis-guaranis" sobre a restinga (pobre restinga!).


Não adianta escapar pela tangente, todos os atentados contra o Sambaqui Duna
Pequena e contra a verdade estão bem documentados, assim como a campanha
difamatória e venal do CCOB (e as testemunhas sobre tudo o que foi relatado,
agora, pululam)

Texto publicado  em
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/03/442262.shtml



Outros links relacionados:

http://brazil.indymedia.org/pt/red/2009/02/441087.shtml

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/02/441769.shtml



--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Paulo Bagdonas <paulo_dois at ...> escreveu
>
> A notícia abaixoi foi publicada em 17/janeiro no jornal Folha de São Paulo, no endereço http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1701200911.htm
>  
>  
> Foco
> 
> Índio dá aulas de guarani para sustentar sua aldeia em área nobre de Niterói 
> TAI NALON
> DA SUCURSAL DO RIO 
> 
> Para juntar forças na luta por sua controvertida permanência no Parque Estadual da Serra da Tiririca, em Niterói, a aldeia Tekoá Mboy-ty oferece curso de guarani para quem é de fora. As aulas, que também fazem parte das atividades de sustento da aldeia, são ministradas pelo líder indígena Darci Tupã.
> 
> Desde o início do segundo semestre do ano passado, cerca de 20 alunos assistem a aulas na aldeia. Por R$ 40 ao mês, Tupã ensina a falar e escrever em guarani através de músicas, histórias e cânticos.
> 
> "Não é questão de atrair pessoas que gostam da cultura indígena, mas de mostrar que estamos aqui e queremos mantê-la viva", diz Tupã.
> 
> A contadora de histórias Priscila Camargo conta que aprender guarani é uma forma de acessar registros brasileiros antigos. "É um desafio. Estamos tentando botar no papel uma cultura que é predominantemente oral", diz.
> 
> O guarani começou a ser ensinado depois que um incêndio supostamente criminoso atingiu a aldeia, em julho de 2008. As aulas surgiram como uma reação ao fato.
> 
> Às margens da lagoa de Itaipu e na beira da praia de Camboinhas -um dos locais mais valorizados da cidade-, a aldeia tem 50 pessoas e trava com a Prefeitura de Niterói, o Instituto Estadual do Ambiente, o Ministério do Meio Ambiente e a Funai uma batalha para permanecer na área.
> 
> Segundo Tupã, a pressão pela retirada da aldeia tem motivação econômica. "Eles dizem que nos querem fora daqui para conservar, mas sabemos que existem construtoras de olho no terreno".
> 
> Segundo o diretor de biodiversidade e áreas protegidas do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), André Ilha, uma unidade de conservação ambiental não pode ter moradores fixos. "Somos a favor da retirada negociada dos índios e sua recolocação em outro local", afirmou.
>


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