AW: [etnolinguistica] Re: Grafia de nomes ind íge nas

C. Sandro Campos csampos at YAHOO.DE
Mon Mar 23 10:16:54 UTC 2009


Prezados Eduardo e Christiane,

Agradeço muitíssimo pelas respostas à minha dúvida sobre a grafia de nomes. 
Vou matutar sobre suas considerações e decidir qual forma usar. 
Muito obrigado!
Abraço, 
Sandro.

--- eduardo_rivail <kariri at gmail.com> schrieb am Sa, 21.3.2009:
Von: eduardo_rivail <kariri at gmail.com>
Betreff: [etnolinguistica] Re: Grafia de nomes indígenas
An: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
Datum: Samstag, 21. März 2009, 15:03











    
            Prezados,



Obrigado, Sandro, por levantar este assunto.  Eu tento seguir a tal regra o máximo possível, embora às vezes a força da tradição me faça ficar indeciso. Talvez o melhor seja buscar um consenso entre os que trabalham com a mesma língua, tentando seguir a regra no que for possível. Nem sempre é uma tarefa fácil.



O caso das línguas com que trabalho mais diretamente (o Karajá, o Kipeá/Kirirí e o Ofayé) serve para ilustrar bem algumas das dificuldades. "Karajá" não é sequer termo da própria língua (eles se autodenominam "iny" [i'nã]), sendo supostamente de origem Tupí-Guaraní (LGP?). Não sendo de origem Karajá, não posso usar a fonologia da língua como argumento (a propósito, Chris: "Apinajé" seria de origem Apinajé?). Em grande número de casos (talvez a maioria deles) o etnônimo é de origem aloglótica -- às vezes, desconhecida: Xavánte, por exemplo.



Como o termo "Karajá" (apesar de seu suposto significado original, "guariba") não é visto como ofensivo pelos próprios iny, continuo usando (da mesma maneira que todos os pesquisadores que trabalham atualmente com os Karajá). Felizmente, parece haver consenso entre nós sobre o uso desta grafia. Eu o uso como palavra invariável: os Karajá, a morfologia Karajá etc.



Quanto a "Ofayé", a fonologia da língua fornece argumentos relevantes, já que se trata de termo de origem Ofayé. A principal diferença, hoje em dia, é entre "Ofaié" e "Ofayé". Eu (e, se me lembro bem, a Maria das Dores Pankararu) uso este último, já que o glide /j/ tem valor fonêmico nesta língua (e <y> seria provavelmente a melhor maneira de representá-lo ortograficamente, pelo menos na ortografia a que cheguei).



Quanto ao Kirirí, eu me acostumei a pôr o acento no <i> final, como sugerido pelas regras (faço o mesmo com Tupí, Mundurukú etc.). Mais uma vez, a tradição acaba tendo papel relevante: como Aryon Rodrigues, que é o principal autor a lidar com esta língua em tempos modernos, usa "Kirirí/Karirí ", eu já estava de certa forma acostumado com esta grafia. "Kipeá" (que era, aparentemente, um termo de origem Karirí) não apresentaria, em princípio, problema algum, exceto pelo seguinte: a fonte original desta denominação (Nantes 1709) o escreve como "Quippea". Com base em minhas pesquisas comparativas da família Karirí, parece-me que o uso de consoantes dobradas por Nantes tende a relacionar-se com a tonicidade da sílaba, de tal maneira que desconfio que a pronúncia poderia ter sido [ki'pea] -- portanto, Kipéa.



Eu acho que, no final, é o bom senso que dita o que se pode fazer. Por exemplo, o que fazer com relação às denominações de origem portuguesa: "Arára" ou "Arara"? "Os Gavião" ou "os Gaviões"? E quanto aos nomes de povos e línguas dos nossos países vizinhos? Embora eu não tenha qualquer objeção à forma "Xavánte", sinto-me pouco inclinado a escrever "Aymára" ou "Puináve"...



Bem, espero que esta discussão inicidada pelo Sandro ajude a encontrarmos soluções.



Abraços,



Eduardo



--- Em etnolinguistica@ yahoogrupos. com.br, oxumcominhasan@ ... escreveu

>

> 

> 

> Sandro,

>  

> Eu também já havia assuntado sobre isso há algum tempo atrás. Após algumas conversas com meu irmão, que é antropólogo, e outros colegas daquela área, resolvi usar letra maiúscula para quando eu estiver me referindo ao nome da língua ou do povo, mas usar a minúscula quando o termo estiver na função adjetival: "a língua apinajé"; "a língua maxakali" <=> "a língua portuguesa", mas "o Apinajé", "o Maxakali" <=> "o português".

>  

> Também tenho usado a marca de pluralidade, que nas décadas anteriores não se utilizava: "o Apinajé", "o Maxakali" (p. ex. a língua), "os Apinajés", "os Maxakalis" (os membros daquela comunidade). Pessoalmente, acho desnecessário o uso de acentuação sobre vogais "i, u" finais. Querendo ou não, somos todos usuários da ortografia do português e, no português, essa regra de acentuação é desnecessária.

>  

> Finalmente, no caso do termo "Apinajé", adotei, desde o início da minha pesquisa junto àquela comunidade, o uso do "j" em vez do "y". Optei por fazê-lo porque esta forma de grafar -- "Apinajé" -- representa mais fielmente o sistema fonológico da língua (o /j/ é o fonema relevante para esta palavra), bem como o seu sistema ortográfico.

>  

> Já o uso do "y" -- "Apinayé" -- , conforme grafado por alguns autores do passado e do presente, representa muito mais o sistema ortográfico da língua inglesa (que era o idioma dos primeiros pesquisadores daquela língua, na década de 60 em diante) do que do Apinajé. Inclusive, a letra "y", na ortografia da língua, representa a vogal central alta, e não a semivogal /j/ e seus alofones. Isso sempre provoca certa confusão entre os falantes da língua, na hora de grafar o termo utilizando o "y". Por isso, sempre grafo com "j". Já o acento no "é" indica a qualidade fonética da vogal e não apenas o fato de que a tonicidade recai sobre a última sílaba.

>  

> Um abraço,

> Christiane.

>




 

      

    
    
	
	 
	
	








	


	
	


      
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