Sobre algumas palavras...

Sebastian Drude sebastian.Drude at GMAIL.COM
Mon Nov 30 13:53:32 UTC 2009


Oi Jefferson,


creio que a palavra "não" ( *_ã?ã_* e semelhantes) não é apropriada para
tirar quaisquer conclusões sobre relações lingüísticas.  Já a forma (em
particular, a reduplicação) mostra que a palavra se assemelha mais a uma
onomatopeia ou é pelo menos um simbolsimo sonoro.

Em muitas línguas claramente não relacionadas você pode indicar "não" desta
forma, inclusive em Alemão, minha língua materna (lá são dois Schwas com
oclusivas glotais, e sem ser nasal).  Importante é a intonação -- a primeira
sílaba tem que ser mais alta do que a segunda.

Se você inverte esta intonação, você obtem uma forma que diversas línguas
pode sinhalar um "sim".  Inclusive em Awetí a única palavra isolada para
"sim" é *_eh~e_* (com nasalidade no segundo e, e por harmonia nasal também
no primeiro), com tonalidade alta na segunda sílaba, e apesar de agora já
lexicalizada (ela aparece até em lexicalizações, como *_eh~e
'etu_*"concordar", literalmente "dizer sim"), ela não me parece
apropriada para
estudos diacrônicos exatamente pela forma de onomatopeia.  Mas é
interessante que em várias línguas do Alto Xingú se diz "sim" assim, pode
ser um indício para empréstimos (fraco, já que fora da área esta simbologia
também existe).

Oi seja, estou convicto que estas formas para "sim" e "não" podem muito
melhor servir para um estudo para possíveis universais (se a intonação é
confirmada em muitas línguas, inclusive em outros continentes, e se o
material segmental para carregar esta intonação muda conforme os padrões
fonológicos de cada língua) do que para relações genéticas entre línguas.

Quanto à palavra "xará", a explicação da origem desta que ouvi era que seria
corruptela de *_xe-réra_*, "meu nome", do Guaraní.  Mas sempre me perguntei
porque ou a vogal tônica mudou sua qualidade de *_e_* para *_a_*, ou porque
então o acento lexcical mudou para a última sílaba (o *_a_ *do famoso caso
genérico do Tupí-Guaraní) e porque a sílaba *_re_* depois teria caido.  Há
muitos outros empréstimos do Tupí (ou Guaraní) em que nenhuma das duas
mudanças ocorreu.  Mas as explicações apresentadas até agora também não me
convencem muito (*apixara* também teria que mudar seu acento lexical), então
talvez valha contribuir com esta...

Não sei nada a dizer sobre *_mané_* ou *_maném_*.

Cordialmente,

Sebastian
-- 
| Sebastian Drude (Linguist)
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