D. Maria Rosa: a última dos Otí?

Wilmar R. D'Angelis dangelis at UNICAMP.BR
Sun Jan 24 12:35:38 UTC 2010


Caro Eduardo

Conheci Maria Rosa, praticamente 'de vista', em 1977, mas à época não tive
ocasião de ter uma conversa com ela. Mas a versão que corria na aldeia era
de ela ser Oti, é do que me lembro.
Também conheci o material do Zelito (está no filme essa passagem), e ali
Maria Rosa está falando, de fato, em Kaingang. Possivelmente perdera a
língua materna Oti, ou nunca a tenha falado (não é certo se ela era
considerada Oti por ser mesmo tomada daquele povo, ou se era filha de um
menino Oti criado pelos Kaingang e casado com uma Kaingang).
Não tenho tempo nesse exato momento, mas quando possível, vou buscar ouvir
aquele diálogo novamente, e transcrevê-lo.
Abraço

Wilmar

> Prezados,
>
> Transcrevo abaixo nota publicada em meu blog (http://blog.wado.us/) sobre
> um assunto que talvez seja de interesse para outros assinantes da lista.
> Caso alguém tenha informações a respeito, agradeço desde já.
>
> Abraços,
>
> Eduardo
>
> ----------------
> D. Maria Rosa: a última dos Otí?
>
> Em 2004, o quadro "Cena Mágica" do programa Fantástico, da Rede Globo,
> levou ao ar um trecho do documentário Terra dos Índios, do cineasta Zelito
> Viana (1979). No trecho (gravado em Bauru, SP, em 1978), a índia Maria
> Rosa — identificada no documentário como a última remanescente Ofayé —
> parece travar um "diálogo" com sua própria voz registrada por um gravador
> (http://bit.ly/mariarosa). A narração, na inconfundível voz de Fernanda
> Montenegro, descreve assim a cena, singela e comovente:
>
> "Não tendo ninguém com quem possa falar sua língua, Dona Maria Rosa, ao
> ouvir o gravador repetindo suas palavras, acreditou que pudesse
> estabelecer um diálogo com a máquina. Faz perguntas como: Cadê meu pai?
> Cadê minha mãe [...]."
>
> O documentário, no entanto, se engana. Primeiro porque, de acordo com o
> historiador Carlos Alberto dos Santos Dutra (http://bit.ly/carlito), Maria
> Rosa (falecida em 1988, aos 122 anos de idade) seria uma sobrevivente da
> tribo Otí (esta, de fato, agora extinta). Mas, mesmo se fosse Ofayé, não
> seria a última remanescente da tribo: enquanto o documentário, ecoando
> autoridades como Darcy Ribeiro (e a lingüista Sarah Gudschinsky),
> apregoava a virtual extinção da tribo Ofayé, os verdadeiros remanescentes
> da tribo sobreviviam a duras penas em terra alheia e hostil -- a reserva
> Kadiwéu na Serra da Bodoquena, MS.
>
> Contactado pela equipe do Fantástico antes que o programa fosse ao ar,
> Dutra (o maior conhecedor da história Ofayé, mais conhecido como Carlito)
> tentou corrigir o engano, mas em vão. Entre a verdade histórica e uma boa
> história mal contada, o jornalismo fantástico optaria pela segunda opção.
> Mais intrigante que a opção preferencial pelo sensacionalismo midiático
> ilustrada por este episódio é, para mim, o potencial impacto que a
> "descoberta" da última representante de uma etnia, falante ainda de sua
> língua, poderia ter tido entre lingüistas e antropólogos. Como explica
> Carlito, a língua falada por Maria Rosa não é o Ofayé. Seria mesmo o Otí?
> Se era língua desconhecida, quem teria fornecido as traduções? A própria
> Maria Rosa? Ou seria uma outra língua também falada na reserva, como o
> Kaingáng Paulista?
>
> Falante ou não de uma língua hoje extinta, D. Maria Rosa, uma janela para
> o passado indígena do oeste paulista, estava certamente aberta ao diálogo.
> Estariam os antropólogos e lingüistas de então dispostos a ouvi-la?
>
>


-- 
Wilmar R. D'Angelis
Professor Doutor - Depto de Lingüística
Instituto de Estudos da Linguagem - IEL
UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas)
Estado de São Paulo - Brasil

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