Imprensa: "Aprendendo tupi"

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Thu Mar 11 00:01:57 UTC 2010


A seguinte nota foi publicada no site da *Revista de História da Biblioteca
Nacional* em 22 de fevereiro.
Para detalhes, visite http://www.etnolinguistica.org/media:22fev2010

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 Aprendendo tupi  **

por Renato Venâncio

(Professor da Universidade Federal de Ouro Preto)

No senso comum, “civilização” e “sociedade indígena” são inimigas. A segunda
sempre sucumbe frente à primeira. Essa idéia é sabidamente falsa e na
internet há inúmeros exemplos demonstrando isso. Um deles diz respeito à
revitalização ou mesmo a expansão da cultura indígena via on line. Sites de
língua tupi revelam esse esforço.

A “língua geral” (tupi simplificado, descrito com base em parâmetros
gramaticais latinos) há mais de quatrocentos conheceu seus primeiros
registros escritos. Graças a isso, é hoje ensinada às novas gerações. Alguns
vídeos do Youtube dão os primeiros passos nesse
sentido.<http://www.youtube.com/view_play_list?p=5264DBFE46290A6E&search_query=%22falando+tupi%22>

Uma imensidão de dicionários de tupi, espalhados em centenas de sites,
complementa esse aprendizado. Muitos desses livros reproduzem textos de
época, como *Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil*,
1595, de José de
Anchieta<http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00059200>ou o
*Diccionario da lingua geral do Brasil, que se falla em todas as villas,
lugares, e aldeas deste vastissimo Estado, escrito na cidade do Pará, anno
de 1771*<http://web.bg.uc.pt/Bibliotecadigital/Obras/POC/UCBG-Ms-81/UCBG-Ms-81_item1/index.html>
.

Para aprofundar ainda mais esses estudos, basta navegar em direção à
excelente Biblioteca Digital Curt
Nimuendaju<http://biblio.etnolinguistica.org/barbosa-1956-curso>,
que disponibiliza gratuitamente obras dos principais tupinólogos brasileiros
e internacionais. Navegando um pouco mais, é possível acompanhar curso de
tupi antigo ministrado por professor da USP, Eduardo
Navarro<http://www.fflch.usp.br/dlcv/tupi/index.html>.


Para a grande maioria dos pesquisadores e professores de história, tal
aprofundamento pode não ser necessário. Explorar uma língua como um
“documento” não implica em dominá-la, mas sim em estudar suas formas de
apreensão. No século XVI, por exemplo, o tupi serviu para que os jesuítas
catequizassem os índios, fazendo deles aliados da colonização. No século
XIX, outro exemplo: historiadores ansiosos por descobrir um passado
pré-colonial brasileiro e monumental, tal como estava ocorrendo no México e
Peru, buscaram raízes nobres (ou seja, indo-européias) para nossos índios. O
mais famoso desses historiadores, Francisco Adolfo de Varnhagen, chegou a
escrever um pequeno livro em que considera os índios do litoral parentes dos
antigos egípcios, *L'origine touranienne des américains tupis-caribes et des
anciens egyptiens: indiquée principalement par la philologie comparée;
traces d'une ancienne migration en Amérique, invasion du Brésil par les
tupis, 1876*<http://www.archive.org/stream/loriginetourani00varngoog#page/n9/mode/1up>.


A partir de rudimentos filológicos, o autor estabeleceu comparações entre a
língua dos índios e a do tempo dos faraós. Varnhagen atribui a origem  de
muitas palavras a uma mesma raiz, como é o caso das que designam
respectivamente, em tupi e copta, as expressões “canoa” ( ubá e uáa) e
“aldeia” (taba e thebes)

Tais aproximações são superficiais e não encontram suporte científico nos
dias atuais, mas revelam o quanto tradições culturais indígenas foram
reapropriadas na construção do nacionalismo aristocrático do Brasil Império.
Também nesse sentido essas tradições são um “documento” a respeito de nosso
passado.
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