Yan: [etnolinguistica] Re: Kaing áng e Polinésio?

Eduardo Rivail Ribeiro kariri at GMAIL.COM
Mon Mar 15 14:28:35 UTC 2010


Caro Marcelo,

É, sem dúvida, um caso interessante de influência lexical; eu não tenho a menor idéia sobre a história destas línguas, mas, com base nos casos que conheço, vejo pelo menos uma possibilidade -- um contato prolongado, em que uma das línguas tenha servido de veículo para a introdução de novas práticas culturais (religião? tecnologia? etc.?).

Mais uma vez, exemplos assim são discutidos didaticamente na maioria dos livros de lingüística histórica. O exemplo clássico é, claro, o inglês, tão influenciado pelas línguas românicas que, à primeira vista, pareceria pouco germânico. Mas, como você demonstra no caso Azeri/Lezgi, a morfologia e o léxico básico é que determinam, em última instância, a filiação genética.

Enfim, este tipo de exemplo, em vez de pôr em cheque a eficácia do método histórico-comparativo, serve para demonstrar as vantagens de sua aplicação.

De volta ao Brasil, um exemplo interessante é o que resta(va) da língua indígena falada pelos Pankararú. Já ouvi colegas dizendo que era provavelmente relacionada ao Iatê. Mas, se se observa bem, as palavras básicas (incluindo pronomes, termos de parentesco e partes do corpo) são Tupi(nambá). As palavras Iatê foram provavelmente introduzidas mais tarde, como em outros povos indígenas da região que perderam suas línguas originais. [Agora, isto não quer dizer que a língua original dos Pankararú fosse o Tupinambá; como estiveram em aldeamentos missionários, pode ser que tenham substituído sua língua original pelo Tupinambá.]

Enfim, é um tópico fascinante, espinhoso até, mas que merece ser levado a sério. Afinal, sabemos muito pouco ainda sobre a história de contatos pré-colombianos entre as línguas do continente e a possibilidade de que uma tenha influenciado outras profundamente não pode ser descartada a priori.

Abraços,

Eduardo

--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Marcelo Jolkesky <marjolkesky at ...> escreveu
>
> Prezado Eduardo, 
>  
> Sim, por favor, gostaria muito de ler seu artigo sobre a identificação de cognatos adicionais entre o Chiquitano e as línguas Macro-Jê.
> Ainda me pergunto.. O que teria motivado a intrusão marcante do Azerí no léxico básico Lézgi? Ou como você mesmo mencionou, entre o Quechua e o Aymara (em que sentido?).  Não seria algo que contraria uma das premissas do método?  Ou seriam, então, somente casos excepcionais?
>  
> um abraço,
>  
> Marcelo

-------------- next part --------------
An HTML attachment was scrubbed...
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20100315/2e94e3c5/attachment.htm>


More information about the Etnolinguistica mailing list