Sons palatais

Wolf Dietrich dietriw at UNI-MUENSTER.DE
Sat Mar 5 09:33:00 UTC 2011


Caro Eduardo,

com referência à primeira menção ao processo da deslateralização do <lh> em
/j/ <y> remeto ao livro de meu colega Volker Noll, O português brasileiro, São
Paulo: Globo, 2008: 154-155, onde se acham os primeiros testemunhos de 1620 e
1627, na imitação ridiculizante do português dos índios. O Noll estudou com
destacada atenção os primeiros testemunhos de traços diferenciadores do
português brasileiro e do europeu.
No espanhol o chamado fenômeno do "yeísmo" se observa como processo que vai do
centro e do sul da Espanha ao norte entre os séculos XIII e a atualidade. No
espanhol americano já não se estabeleceu a antiga pronunciação, com a excepção
dos centros da colonização, a Cidade de México e Lima, onde hoje também se
perdeu.
Na história do francês o fonema lateral palatal - que existia em palavras como
"bouteille", "bataille", mais também em "soleil" 'sol' e "fusil" 'espingarda'
- passou a /j/ entre os séculos XVI e XVIII.
No italiano, a líquida palatal existe no dialeto toscano, quer dizer na língua
nacional, mas não na maioria dos dialetos.
Aliás, eu não falaria em "vocalização" porque o resultado da deslateralização
não é a vogal /i/, mas a fricativa palatal /j/.

Um abração,

Wolf


Eduardo Rivail Ribeiro schrieb am 2011-03-04:
> Prezado Gabriel,

> No último encontro da SSILA (Pittsburgh, janeiro último), o colega
> Lev Michael (UC Berkeley) apresentou um levantamento de inventários
> fonológicos contrastando as línguas das terras baixas e das terras
> altas da América do Sul. Se entendi bem, a líquida palatal é mesmo
> extremamente rara nas terras baixas. Eu não me lembro, de memória, de
> nenhuma língua Macro-Jê que a tenha, mas certamente outros colegas na
> lista terão acesso a informações mais seguras (o Lev também é
> assinante da lista).

> Mas, claro, a líquida palatal é um fonema geralmente raro nas línguas
> do mundo. Mesmo nas línguas românicas, é uma inovação, e tende a ser
> instável não apenas em português. A "explicação" que se dá, de que a
> vocalização se deve a influência indígena, me lembra o caso do <r>
> caipira, também geralmente atribuído a influência indígena, mesmo que
> não haja evidências para tanto (Brian Head tem uma explicação
> perfeitamente plausível para o <r> caipira, tendo a ver com a própria
> dinâmica interna da língua portuguesa).

> Aproveitando a ocasião, gostaria de saber que você ou outros colegas
> na lista poderiam me informar quando teria sido a primeira menção a
> este processo de vocalização do <lh>.

> Abraços,

> Eduardo

> --- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Gabriel de Ávila Othero
> <gab.othero at ...> escreveu

> > Prezados colegas.

> > Estou lendo um trabalho sobre a "líquida" palatal de a[lh]o (como
> > tb em o[lh]o, joe[lh]o, etc.), e, lá pelas tantas, aparece um
> > trecho que me deixou com dúvidas. Diz o trabalho que a palatal é
> > pronunciada como [y] -- ou seja, é vocalizada -- (como em a[y]o,
> > o[y]o, joe[y]o, etc.) em PB provavelmente por causa da inflência de
> > línguas indígenas brasileiras que não apresentam a líquida palatal
> > em seu inventário fonético.

> > Minha dúvida principal é a seguinte (apesar de eu não ter gostado
> > da explicação em si): há registro de alguma língua indígena
> > brasileira que conte com essa consoante palatal em seu inventário
> > fonético?

> > Agradeço pelos esclarecimentos.

> > Um abraço,

> > Gabriel



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