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<BODY>
<DIV><FONT size=2>Caros Andrés e demais colegas,</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>> Voce deve saber (pelo trabalho da Christiane) que uma
parte<BR>> importante dos nomes (e quase todos os verbos) em Mebengokre e
Apinaye<BR>> comec,am com um numero limitado de "morfemas". Em alguns
casos<BR>> (especialmente com os verbos) e possivel fazer pequenos paradigmas
em que<BR>> uns morfemas substituem aos outros (nhipej, kupej, djapej, kapej
- fazer,<BR>> mexer, trabalhar, apalpar), mas na maioria dos casos eles sao
fixos, e sua<BR>> independencia morfologica e questionavel. Pois bem, um
destes e "nhi". Da<BR></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2>Isto -- a ocorrência do formativo <EM>nhi</EM> tanto com
nomes, quanto com verbos -- é bem interessante. Como Luciana Dourado
demonstra, o morfema reflexivo é homófono do morfema alienador <EM>nhi</EM> em
Panará (se me lembro bem), onde ambos são bem mais produtivos do que nas demais
línguas da família, aparentemente. </FONT><FONT size=2>Em Tupi, tem-se algo
muito parecido: o prefixo e- ocorre também com verbos -- intransitivos, se não
me engano (inacusativos, talvez?); estou citando de memória, baseado em dados do
Munduruku que vi há algumas semanas. Atenção, colegas do Munduruku, por
gentileza, corrijam-me se estou equivocado. [Françoise Rose, que pesquisa o
Emérillon, disse-me que e- ocorre com verbos também nesta língua.]</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Outro fato interessante: em Karajá, vários verbos
intransitivos inacusativos da classe II (ou seja, da classe que ocorre com
prefixos relacionais) começam com e- (/e/ aberto; esta vogal tende a
corresponder sistematicamente com o /i/ nasal das línguas Jê: Proto-Jê (do
Davis) *<EM>nh-iNkra</EM> 'mão', Karajá <EM>d-era </EM>'antebraço'; Proto-Jê (do
Davis) *<EM>nhiN</EM> 'carne', Karajá <EM>de</EM>). Eis uma amostra (na
ortografia Karajá, fala feminina):</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ebure</EM> 'zangar-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekosa</EM> 'perder-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekyte</EM> 'curar-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>eko</EM> 'ser enviado'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekote</EM> 'perder-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekysa</EM> 'alegrar-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekywese</EM> 'cansar-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ele</EM> 'fazer-se, tornar-se'</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><EM>ekoari</EM> 'viciar-se'</FONT></DIV>
<DIV><EM><FONT size=2></FONT></EM> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Note-se que todas estas raízes são semanticamente passivas (ou
'médio-passivas'), requerendo, na tradução portuguesa, o "reflexivo"
<EM>se</EM>. Sincronicamente, a vogal inicial é parte da raiz verbal, mas talvez
este <EM>e-</EM> inicial seja cognato com o <EM>(nh-)i-</EM> do Jê do Norte. [É
claro que temos que encontrar cognatos lexicais que confirmem isso, mas, como
hipótese inicial, é um tanto plausível.]</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>> Nao entendi as suas ultimas perguntas; talvez lendo com
mais calma<BR>> possa lhe dizer alguma coisa. Voce acha que a
aplicativizac,ao com "-nho"<BR>> poderia ser um "aplicativo alto", enquanto
que o possessivo diretamente<BR>> sobre o nome tem uma relac,ao mais local
com o nucleo? Isto faz sentido,<BR>> pois aparentemente voce pode possuir
qualquer coisa com -nho,</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Basicamente, é isso aí. </FONT><FONT size=2>Sem dúvida, o
possessivo diretamente ligado ao nome tem uma relação mais local com este (sendo
parte da estrutura argumental original do nome, eu presumo). </FONT><FONT
size=2>A questão que ainda me intriga é se o 'possuidor' com o morfema
<EM>õ</EM> é, de fato, possuidor do nome de significado específico. Se a
hipótese de que o nome de significado específico é um aposto estiver correta, a
resposta à questão seria 'não'. Daí a importância de testes sintáticos para
determinar o status tanto do 'marcador de posse alienável', quanto do nome de
significado específico.</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><BR>> irrespectivamente do seu significado ou
"relacionalidade". Isto e o mesmo<BR>> que voce chama de "adjunc,ao"?</DIV>
<DIV><BR></FONT><FONT size=2>Como 'adjunto', refiro-me simplesmente a sintagmas
nominais que não são parte da estrutura argumental do verbo (ou do sintagma
nominal em questão). No caso dos nossos 'morfemas alienadores', resta saber se o
nome de significado específico é parte do sintagma que o precede ou não.
Opiniões a respeito disso? </FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Muito obrigado, mais uma vez, pela excelente discussão dos
dados.</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2>Abraços,</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2>Eduardo</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2>Eduardo Rivail Ribeiro<BR>Department of Linguistics
(University of Chicago)<BR>Museu Antropológico (Universidade Federal de
Goiás)<BR><A
href="http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica">http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica</A>
</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
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<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
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