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<DIV><FONT size=2>Prezado Sérgio,</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Tentarei ser o mais breve possível, em respeito ao seu tempo e
ao dos demais colegas. Muito obrigado pela apresentação dos dados do
Karib. Na minha primeira mensagem sobre esse assunto, eu levanto a
hipótese de que o relacional tenha surgido originalmente como uma 'consoante de
ligação' ("para quebrar hiatos", digamos), mas tal condicionamento fonológico
parece ter desaparecido há muito tempo, já que em praticamente todas as línguas
Macro-Jê e Tupí de que ouvi falar, há raízes começadas por vogal que não ocorrem
com prefixos relacionais. E quanto ao Karib, você teria exemplos de raízes
iniciadas por vogal que não recebem prefixos relacionais? O link para a mensagem
a que me referi é o seguinte:</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><A
href="http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/message/44">http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/message/44</A></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Citando Sérgio:</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>acha
da não-previsibilidade da forma da consoante extra em</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>Membengokre que o Andres menciona no artigo ? E da aparente
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>falta
de </FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>raizes não alternantes (estáveis)? Você acha que um</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>tal
padrão bastaria para favorecer uma análise
morfofonêmica?</FONT></SPAN></DIV></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Sem dúvida. É o que venho afirmando desde o princípio: que,
sincronicamente, a análise morfofonêmica faz sentido. Mas a forma da consoante
extra não é tão variada assim: além das palatais (que correspondem a prefixos em
outras línguas do tronco), se me lembro bem, Reis e Salanova mencionam /p/ e, se
não me engano, /w/ -- o que não perfaz o inventário completo das consoantes da
língua, imagino. Aliás, o processo de 'aférese' não é uniforme: enquanto
com as raízes começadas por palatais a 'aférese' parece ser total, com as
bilabiais há um 'resquício' da bilabialidade. Se compararmos isso com outras
línguas da família, veremos claramente que se trata de processos cujas origens
são completamente diferentes. É possível que, devido à confluência de dois
processos diacrônicos diferentes, a 'aférese' tenha sido reanalisada nessa
língua como um mecanismo para a marcação de terceira pessoa. Mas isto seria
claramente uma inovação, longe de ser o caso nas demais línguas do tronco. Seria
interessante, como o Andrés sugere, fazer testes para aferir a intuição dos
falantes com relação a este mecanismo -- mas isso não traria nenhuma
contribuição para o dilema quanto à natureza formal do processo (aférese ou
afixação). Reanálises ocorrem o tempo todo, resultando tanto na fossilização do
prefixo relacional (ou mesmo da marca de terceira pessoa), quanto em
'back-formation' (a reanálise da consoante inicial como prefixo). Exemplos dos
dois tipos ocorrem em Karajá, por exemplo. Formas como <EM>ha-l-uku</EM>
'buraco' (onde o <EM>ha-</EM> inicial é uma marca de possuidor indeterminado e
<EM>l-</EM> é um prefixo relacional) são comumente analisadas como
monomorfêmicas por falantes mais jovens, mas o "correto", segundo os mais
velhos, é, naturalmente, a forma que segmenta <EM>uku</EM> 'buraco' como uma
raiz à parte. Assim, alguns jovens podem dizer <EM>i-haluku</EM> para 'o buraco
dele', mas a forma padrão na língua seria <EM>t-uku</EM>. Na outra direção: em
<EM>dewe</EM> 'dívida', um empréstimo do português <EM>dever</EM>, a consoante
inicial foi reanalisada como prefixo, de modo que temos <EM>t-ewe</EM> 'dívida
dele', <EM>wa-d-ewe</EM> 'minha dívida', <EM>0-ewe</EM> 'tua dívida', etc. [Para
aqueles interessados em saber mais a respeito dos relacionais em Karajá,
queiram, por gentileza, dar uma olhada no meu artiguinho 'Análise morfológica de
um texto Karajá', na página do grupo.]</FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Citando Sérgio:</FONT></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>regular? Não sei... Ou será que o y- era mesmo um
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>prefixo de algum tipo, e que ele ocupava a mesma</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>posíção que o k- dentro da palavra? (Neste caso,</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>é
necessário dizer que o k- ocorre em uma posição</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>diferente da dos demais prefixos de pessoa. Este</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT
color=#000000></FONT></SPAN> </DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT
color=#000000></FONT></SPAN> </DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face="Lucida Sans" color=#000000>Como
eu mencionei antes (vide, por gentileza, o link acima), uma das prováveis
vantagens dos 'relacionais' para o estudo histórico-comparativo é o seu valor
diagnóstico. O estudo do Spike sobre o Tupi-Guarani é um excelente exemplo
disso. O fato de que alguns prefixos pessoais requerem a presença do relacional,
enquanto outros não, pode ter a ver com a 'idade' relativa dos dados prefixos.
Talvez os morfemas que co-ocorrem com relacionais tenham se tornado formas
presas mais tarde, em comparação com aqueles que ocorrem em distribuição
complementar com os relacionais. </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans"><SPAN class=754100910-08022003></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
color=#000000></FONT></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003>Citando Sérgio:</SPAN></FONT></DIV>
<DIV></FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>entre os casos observados. </FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>No seu artigo,
Eduardo, eu pude
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>ver
que o padrão é, de </FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial
color=#0000ff size=2>fato, muito parecido nas línguas </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>mencionadas, e que a forma </FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>dos possíveis
relacionais </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>é
semelhante (em geral uma palatal</FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>).
</FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>Mas essas </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>correspondências são </FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
face=Arial color=#0000ff size=2>regulares dentro da família?
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
face=Arial color=#0000ff size=2>Eu noto a presença de mais de um reflexo em
algumas</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>línguas (você menciona j- e dZ- para parakatêjê, ts- e
j-</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>para
timbira, j- e ñ- para apinajé, dz- e ñ- para xavante). </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>Claro,
são todas formas foneticamente próximas; mas há </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>variação entre esses sons em outros contextos nessas</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>línguas? E há outras exemplos, independentes do</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>possível relacional, de correspondências entre esses</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>sons,
provenientes dessas línguas? Eu não vi nenhum</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>exemplo no seu artigo. (Talvez o Davis fale a
respeito;</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>mas eu
não conheço o trabalho dele; infelizmente não sou</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>jeólogo, e não tenho como avaliar o *z dele. Acho só
que</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>mostrar outros exemplos dessas correspondências daria</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><FONT size=2><FONT color=#0000ff><SPAN
class=754100910-08022003>mais material para os não-jeólogos poderem ter
uma</SPAN></FONT></FONT></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><FONT size=2><FONT color=#0000ff><SPAN
class=754100910-08022003>opinião.</SPAN><SPAN class=754100910-08022003>)
</SPAN></FONT></FONT></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><FONT color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2><FONT color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>Sim, Davis aponta correspondências entre estes fonemas
em outras áreas do léxico. Como o meu objetivo no artigo era essencialmente
demonstrar não só que os prefixos relacionais são reconstruíveis para o
Proto-Jê, mas foram de fato reconstruídos por Davis (mesmo sem que ele o
soubesse), acabei listando apenas aqueles vocábulos que comprovam este ponto.
Incluirei dados mais substanciais na nova versão do artigo (cuja versão
preliminar foi apresentada no WSCLA, em Edmonton, Canadá, o ano passado), que
inclui também dados das demais famílias (e, claro, dados do Jê que não estavam
disponíveis ao tempo em que Davis fez seu estudo). Mas vai ter que esperar um
pouco, infelizmente. Enquanto isso, sugiro àqueles mais interessados a leitura
dos artigos de Davis (1966, 1968). Ah, sim: o *z do Davis não corresponde ao
relacional propriamente dito, mas à marca de terceira pessoa. Exemplos em que a
consoante correspondente à marca de terceira pessoa ocorre também em contextos
em que é 'estável' foram mencionados de passagem no artigo (o caso das
raízes homófonas <EM>ty</EM> 'semente' e <EM>ty</EM> 'tecer' em Karajá, que
correspondem a raízes homófonas também em Jê; a raiz para 'fogo' é um outro
exemplo, inclusive em Karirí). Mas reconheço que faltem exemplos mais
substanciais para as correspondências fonológicas envolvendo o prefixo
relacional. Espero incluí-los na nova versão do artigo; mas vai demorar um
pouco, como eu disse.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>No caso dos alomorfes do prefixo relacional, pelo menos
em alguns casos são provavelmente fonologicamente condicionados (nasal ~ não
nasal); mas é interessante que em outras famílias do tronco, o relacional
apresenta alomorfia semelhante (Karajá e Karirí), que não é fonologicamente
condicionada -- pelo menos, não sincronicamente. Talvez o estudo comparativo
revele as origens desta alomorfia (ou acabemos chegando à conclusão de que a
alomorfia já existia na proto-língua). Mas ainda está cedo para
isso.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>Abraços,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>Eduardo</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans"></FONT><FONT face="Lucida Sans"></FONT><FONT
face="Lucida Sans"></FONT></FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
face="Lucida Sans" color=#0000ff size=2></FONT></SPAN> </DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face="Lucida Sans" color=#0000ff
size=2></FONT></SPAN> </DIV></DIV></DIV>
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