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<BODY bgColor=#ffffff>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Prezado Eduardo,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<BLOCKQUOTE>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>E quanto ao Karib, você teria exemplos de raízes iniciadas
por vogal que não recebem prefixos relacionais? <BR><SPAN
class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff></FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff>[Meira, S.] </FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff>Não, nenhum. Tanto quanto eu saiba, nas línguas onde o /y/
ocorre regularmente (entre um verbo transitivo e seu argumento P,
entre uma posposição e seu objeto, ou entre um substantivo e seu possuidor),
não há nenhuma exceção. Há palavras que contêm um /y/ como parte da raíz
(p.ex. Hixkaryana /yo/ 'dente'), o qual nunca desaparece em nenhum contexto;
mas não parece haver nenhuma palavra começada por vogal que possa tomar um
argumento sem que apareça o /y/.</FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2>Citando Sérgio:</FONT></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff><FONT
size=2>regular? Não sei... Ou será que o y- era mesmo um </FONT>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>prefixo de algum tipo, e que ele ocupava a mesma</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>posíção que o k- dentro da palavra? (Neste caso,</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>é
necessário dizer que o k- ocorre em uma posição</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>diferente da dos demais prefixos de pessoa. Este</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT color=#000000
size=2></FONT></SPAN> </DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT color=#000000
size=2></FONT></SPAN> </DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face="Lucida Sans" color=#000000
size=2>Como eu mencionei antes (vide, por gentileza, o link acima), uma das
prováveis vantagens dos 'relacionais' para o estudo histórico-comparativo é o
seu valor diagnóstico. O estudo do Spike sobre o Tupi-Guarani é
um excelente exemplo disso. O fato de que alguns prefixos pessoais
requerem a presença do relacional, enquanto outros não, pode ter a ver com a
'idade' relativa dos dados prefixos. Talvez os morfemas que co-ocorrem com
relacionais tenham se tornado formas presas mais tarde, em comparação com
aqueles que ocorrem em distribuição complementar com os relacionais.
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=754100910-08022003>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff>[Meira, S.] </FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff></FONT></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>Isso é bastante possível; o
artigo do Spike, criticando a reconstrução de Jensen,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>me parece também um ótimo
exemplo de 'detetivismo diacrônico', e acho bastante</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>possível que o k- '1+2' das
língras karíb seja realmente mais antigo do que os </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>demais prefixos de pessoa.
Minha idéia foi apenas que o y- -- caso ele tenha</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>realmente sido um prefixo --
ocupava a mesma posição morfológica que este k-,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>isto é, que eles estariam, em
priscas eras, em oposição paradigmática. Esta</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003>hipótese o Spike não
levantou, mas me parece que valeria a pena examiná-la.
</SPAN></FONT></DIV></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=754100910-08022003></SPAN></FONT><FONT
size=2><SPAN class=754100910-08022003></SPAN></FONT><FONT size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT><FONT size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>Citando Sérgio:</SPAN></FONT></DIV>
<DIV></FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial
color=#0000ff size=2>entre os casos observados. </FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>No seu artigo,
Eduardo, eu pude
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>ver
que o padrão é, de </FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
face=Arial color=#0000ff size=2>fato, muito parecido nas línguas
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>mencionadas, e que a forma </FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>dos possíveis
relacionais </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>é
semelhante (em geral uma palatal</FONT></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>).
</FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>Mas essas </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>correspondências são </FONT></SPAN><SPAN class=754100910-08022003><FONT
face=Arial color=#0000ff size=2>regulares dentro da família?
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003></SPAN><SPAN
class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>Eu noto a
presença de mais de um reflexo em algumas</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>línguas (você menciona j- e dZ- para parakatêjê, ts- e
j-</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>para
timbira, j- e ñ- para apinajé, dz- e ñ- para xavante). </FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>Claro, são todas formas foneticamente próximas; mas há
</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>variação entre esses sons em outros contextos
nessas</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>línguas? E há outras exemplos, independentes do</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>possível relacional, de correspondências entre
esses</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>sons, provenientes dessas línguas? Eu não vi nenhum</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>exemplo no seu artigo. (Talvez o Davis fale a
respeito;</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff size=2>mas
eu não conheço o trabalho dele; infelizmente não sou</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>jeólogo, e não tenho como avaliar o *z dele. Acho só
que</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><SPAN class=754100910-08022003><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2>mostrar outros exemplos dessas correspondências
daria</FONT></SPAN></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><FONT size=2><FONT color=#0000ff><SPAN
class=754100910-08022003>mais material para os não-jeólogos poderem ter
uma</SPAN></FONT></FONT></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><FONT size=2><FONT color=#0000ff><SPAN
class=754100910-08022003>opinião.</SPAN><SPAN class=754100910-08022003>)
</SPAN></FONT></FONT></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><FONT color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT></FONT> </DIV>
<DIV><FONT size=2><FONT color=#000000><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>Sim, Davis aponta correspondências entre estes
fonemas em outras áreas do léxico. Como o meu objetivo no artigo era
essencialmente demonstrar não só que os prefixos relacionais são
reconstruíveis para o Proto-Jê, mas foram de fato reconstruídos por Davis
(mesmo sem que ele o soubesse), acabei listando apenas aqueles vocábulos que
comprovam este ponto. Incluirei dados mais substanciais na nova versão do
artigo (cuja versão preliminar foi apresentada no WSCLA, em Edmonton, Canadá,
o ano passado), que inclui também dados das demais famílias (e, claro, dados
do Jê que não estavam disponíveis ao tempo em que Davis fez seu estudo). Mas
vai ter que esperar um pouco, infelizmente. Enquanto isso, sugiro àqueles mais
interessados a leitura dos artigos de Davis (1966, 1968). Ah, sim: o *z do
Davis não corresponde ao relacional propriamente dito, mas à marca de terceira
pessoa. Exemplos em que a consoante correspondente à marca de terceira pessoa
ocorre também em contextos em que é 'estável' foram mencionados de
passagem no artigo (o caso das raízes homófonas <EM>ty</EM> 'semente' e
<EM>ty</EM> 'tecer' em Karajá, que correspondem a raízes homófonas também em
Jê; a raiz para 'fogo' é um outro exemplo, inclusive em Karirí). Mas reconheço
que faltem exemplos mais substanciais para as correspondências fonológicas
envolvendo o prefixo relacional. Espero incluí-los na nova versão do artigo;
mas vai demorar um pouco, como eu disse.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>No caso dos alomorfes do prefixo relacional, pelo
menos em alguns casos são provavelmente fonologicamente condicionados (nasal ~
não nasal); mas é interessante que em outras famílias do tronco, o relacional
apresenta alomorfia semelhante (Karajá e Karirí), que não é fonologicamente
condicionada -- pelo menos, não sincronicamente. Talvez o estudo comparativo
revele as origens desta alomorfia (ou acabemos chegando à conclusão de que a
alomorfia já existia na proto-língua). Mas ainda está cedo para
isso.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Lucida Sans" color=#000000 size=2><SPAN
class=754100910-08022003>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff>[Meira, S.] </FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT size=2><SPAN class=084434711-09022003><FONT face=Arial
color=#0000ff>Estarei esperando com prazer por essa versão. Afinal, como
não-(Marco-)jeólogo,</FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>eu
realmente dependo da boa vontade dos jeólogos em me explicarem os
detalhes</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>do
seu campo de estudo. Pessoalmente, eu sempre tinha visto o Macro-Jê
como</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>uma
colcha de retalhos (uma vez tive ocasião de, junto com a Januacele,
elicitar</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>dados de Yaathê; e a língua me pareceu tão distante
do que eu sabia das línguas Jê</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>quanto qualquer língua poderia ser); os seus artigos,
parece-me, estão entre os primeiros a</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>apresentarem argumentos consideráveis e bem
pensados a favor dessa hipótese.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Começo, graças a você e ao Aryon, a considerar a
idéia pelo menos plausível. Espero</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>que
você continue a colecionar argumentos favoráveis. E também, quem sabe, a
</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>hipótese tukajê.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>Por
enquanto, ando considerando apenas o parentesco karíb-tupi (que me apraz
chamar</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>de
'hipótese katu' -- pois é, eu gosto de nomes compostos; quando converso com o
</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Sebastian Drude sobre Mawé, Aweti e Tupí-Guaraní,
referimo-nos a este possível grupo</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>como
"Mawetí-Guaraní"...). Gostaria de compartilhar aqui com vocês uma ou
duas </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>coisinhas interessantes que descobri, e que sugerem
que talvez se possa encontrar</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>ainda mais. (Apenas para o prazer da leitura; não
quero distrair ninguém de suas</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>obrigações e prazos. Não se sintam obrigados a
responder ou comentar</SPAN></FONT><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>.)</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>(a)
Os verbos para 'comer' parecem muito diferentes em Karib e em Tupi. Em Tupi,
temos</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>um
verbo /'u/ (ou /ku/, em Tupari), com um sentido genérico de 'ingerir'
(comer, beber,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>respirar, etc.); em Karíb, temos entre quatro e seis
verbos diferentes, especializados</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>no
tipo de comida (beber; comer grãos; comer carne; comer frutas/ovos/legumes;
etc.). </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>Dois
desses verbos -- com cognatos em quase todas as línguas da família e
portanto</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>provavelmente reconstruíveis para o proto-Karíb
-- terminam em /ku/: /oku/ 'comer</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>pão,
beiju, etc.' e /aku/ 'comer grãos'. Se levarmos em conta que, em
línguas tupi,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>/'a/
é frequentemente o classificador / termo genérico para 'objetos redondos
pequenos',</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>poderíamos imaginar uma evolução de /a-ku/ 'comer
coisas redondas pequenas' > /aku/</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>'comer grãos' (note-se que a incorporação de objetos
é um fenômeno encontrável nas</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>duas
famílias; Mawé /'y'u/ 'beber água' seria um caso paralelo). Há certos
resquícios em</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>línguas karíb de um /a/ ligado à ideia de
'interior', 'algo oco' (talvez relacionável com</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>'objetos redondos': o termo /ary/ 'interior;
conteúdo' (há um morfema /-ry/ que deriva</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>formas possuíveis); uma série de posposições
locativas baseadas em /a/, marcando</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>localização no interior de um objeto tridimensional
(p.ex. Tiriyó /awë/ 'dentro'); e </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>algumas 'derivações misteriosas' entre raízes verbais
transitivas que às vezes</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>começam com /a/, às vezes não (p.ex. Hixkaryana
/koroka/ 'lavar', /akoroka/ 'lavar</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>(o
lado de dentro de)'.</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>(b)
Há, em línguas karíb, uma série de posposições marcam localização
em</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>(ou
direção para, ou origem de) água (as 'posposições aquáticas', como eu
gosto</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>de
chamá-las jocosamente). Nota-se nelas a presença de um elemento /ku/;
por</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>exemplo, Katxuyana /kw-awy/ 'em (água)'. É possível
que esse elemento seja um</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>antigo morfema para 'água' -- note-se que o que resta
da posposição -- /awy/ --</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>é
comparável com outras posposições locativas (cf. Tiriyó /awë/ 'em, dentro').
Essa</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>forma /ku/ ou /kw/ aprece em tantas línguas da
família que é claramente </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>reconstruível. Além disso, há uma série de termos
para líquidos que terminam</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>num
elemento /ku/, sincronicamente não-segmentável; exemplos do Tiriyó
(com</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>cognatos em várias outras línguas karíb) incluiriam:
/eeku/ 'seiva de árvore', </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/suku/ 'urina', /eramuku/ 'suor', /etaku/ 'saliva'.
Há também o termo /ikutupë/ 'lagoi',</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>o
qual talvez contenha essa forma /ku/, mais um sufixo de passado
(/-typy/,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/-tpo/, /-tpë/ ocorre em muitas línguas com o sentido
de 'ex-', 'que não é mais'). </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>Se
admitíssemos para este /ku/ o sentido de 'água corrente', /ikutupë/
como</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>sendo 'água que deixou de correr', 'água estagnada' =
'lago' não seria</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>impossível. (É claro, não me escapa a possível
conexão deste /ku/ com </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>o
tupi /'y/ 'água' </SPAN></FONT><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>-- </SPAN></FONT><FONT face=Arial color=#0000ff
size=2><SPAN class=084434711-09022003>que, se não me engano, ocorreria como
/ky/ na família </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>tupari) e com o </SPAN></FONT><FONT face=Arial
color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>/ko/ 'água' que se
encontra com freqüência em línguas jê </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>(p.ex. Krahô). Willem Adelaar, aqui em Leiden, me diz
que há outras</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>línguas/famílias onde um morfema parecido com /ku/
para 'água' também existe'.)</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>(c)
Finalmente, observo também a quantidade de nomes de insetos
</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>em
línguas karíb que terminam com um sufixo /kë/ ou /ko/. Por
exemplo,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Apalaí /masako/ 'mosquito', /nuko/ 'cupim', /xiko/
'pulga, bicho-de-pé', </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/irako/ 'formiga tocandeira', /turoko/ 'mutuca',
/oruko/ 'lagarta' (em Tiriyó</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/maakë/, /nukë/, /sikë/, /irakë/, /turëkë/, /ërukë/;
note-se também</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/sirikë/ 'estrela', tb. 'vaga-lume'). Estas formas
poderiam ser comparadas</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>com
termos para insetos começados com /k/ em linguas tupi, que
parecem</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>reconstruíveis (PTG *kav 'caba', Aweti /kap/, Mawé
/ngap/, Xipaya /kapa/, </SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>Karo
/nãp/, Karitiana /ngop/, Gavião /gap/, Mekens /kap/, Munduruku
/ikopi/;</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>ou
também 'cupim', Kamayura /kupi'i/, Aweti /kupi'a/, Mawé /nupi'a/,
Xipaya</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>/kupa/, Karitiana /ngyp/, Gavião /góôv-aá/), que
também parecem ter um</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>elemento /ka/, /ko/. (Considere-se também o termo
karíb /okomo/ 'caba,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>abelha', já mencionado, creio, pelo
Aryon.)</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>São
três indícios interessantes. Preocupa-me um pouco o fato
de</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>os
três serem foneticamente muito parecidos: /ku/ 'comer', /ku/ 'água',
</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN class=084434711-09022003>/ko/
~ /kë/ 'inseto'... não sei não. Mas, afinal, ainda não estou
afirmando</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>nada; estou só juntando 'coincidências
curiosas'...</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Abraços,</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003>Sérgio</SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial color=#0000ff size=2><SPAN
class=084434711-09022003></SPAN></FONT> </DIV></SPAN></FONT></DIV></FONT></SPAN></DIV></DIV></BLOCKQUOTE>
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<tr valign="top"> <td> <table width="300" border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" height="248" bgcolor="#000000">
<tr valign="middle"> <td align="center" height="53"><font face="Arial" size="2"><a href="http://rd.yahoo.com/M=218762.2810952.4170332.2276639/D=brclubs/S=2137113448:HM/A=1446492/R=1/*http://br.empregos.yahoo.com/" target="_blank"><img src="http://br.i1.yimg.com/br.yimg.com/i/br/ads2/ret_logo.gif" width="220" height="32" border="0"></a></font></td>
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