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Caro Eduardo e demais colegas,
<br>Estive e continuo muito envolvida com o meu projeto de doutorado que,
sendo em antropologia e não lingüística, não
me permitiu acompanhar de perto as discussões feitas por vocês
sobre as questões lingüísticas, muitas vezes muito especializadas
para os leigos. Entretanto, achei muitíssimo interessante o resumo
da discussão acerca das definições das palavras em
Português da gramática Kariri apresentado por você (Eduardo) 
e gostaria de acrescentar uma pequena contribuição referente
à palavra <b><i>crueira. </i></b>Concordo com a definição
apresentada por Marília, mas, acrescento que, em alguns estados
do nordeste, esta palavra também se refere ao resultado de um tipo
de processamento da mandioca em que esta é cortada em pequenos pedaços
que são secos ao sol e depois moídos resultando em uma massa
fina destinada à preparação de mingau (<b><i>mingau
de crueira</i></b>) para crianças.
<br>Abraços,
<br>Rosani
<br> 
<p>Eduardo Ribeiro gravada:
<blockquote TYPE=CITE> Caros colegas,Gostaria de agradecer a todos
aqueles que responderam a minha mensagem sobre o Karirí (ou sobre
o português da gramática Karirí): Marília Ferreira,
Andrés Salanova, Dioney Gomes, Sérgio Meira, Amélia
Reis, Lucy Seki, Dan Everett e Waldemar Ferreira. As palavras mais
problemáticas são 'rabisco de fruita' e 'guirajao', para
as quais as únicas respostas vieram de Waldemar Ferreira: <b><i>Guirajao.</i>
</b>Waldemar sugere a possibilidade de que se refira ao pássaro
jaó, o que faria muito sentido se pensamos em termos de língua
geral -- <i>guira</i> 'pássaro' + <i>jaó</i>. Como eu mencionei,
a grande maioria dos vocábulos na lista em questão referem-se
a itens da cultura material, mas como o prefixo <i>u-</i>, a exemplo dos
seus prováveis cognatos em Jê, é um morfema 'alienador',
poderia muito bem ter ocorrido com nomes de animais quando possuídos
(animais domesticados, caça, etc.). <i><b>Rabisco de fruita.</b>
</i>'Rabisco' parece se referir (ou ter se referido) a frutas que ficaram
por colher, deixadas no pomar, na definição enviada por Waldemar. 
Eu cheguei a pensar que fosse, talvez, um erro de transcrição
ou impressão -- 'refresco' teria sido confundido com 'rabisco' por
um distraído tipógrafo seiscentista (ou o erro teria sido
introduzido na segunda edição, com a qual estou trabalhando).
Portanto, seria interessante checar a primeira edição, no
futuro. As definições para as demais palavras foram
geralmente unânimes: <b><i>Marapirão.</i></b> Refere-se
a um tipo de 'árvore de grande porte'; a palavra é de uso
corrente no Pará, segundo Marília. Quanto ao fato de um nome
de árvore ocorrer em uma lista que inclui principalmente itens da
cultura material, vide minha observação acima sobre 'guirajao'.
[Mas ainda estou com uma pulga atrás da orelha...] <b><i>Crueiras
de mandioca.</i></b> Dou aqui a definição da Marília
(a primeira a responder), com a qual todas as respostas concordam: "<span lang=PT-BR>Crueira
é o resíduo grosseiro da mandioca que não passa pela
peneira durante o preparo da farinha. Algumas pessoas aqui do nordeste
do Pará chamam isso de “massa” e preparam um tipo de mingau com
esse resíduo." A pronúncia varia um bocado de região
para região: em Viseu, terra da Amélia, diz-se <i>carueira</i>,
por exemplo. [Provavelmente não tem nada a ver com 'cru' -- etimologia
popular da minha parte...]</span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR><b><i>Corropio.</i></b>
Marília: "Corr<b><i>u</i></b>pio é um tipo de brincadeira
(da minha infância, por sinal) em que duas crianças se dão
os braços, um de frente para a outra e giram fortemente com o corpo
teso." Deriva do sentido geral de 'rodopio' mencionado pela Lucy. Daí
os significados de 'cata-vento' e outros brinquedinhos que giram, como
aquele mencionado pela Amélia (e, se não me engano, ouvi
esta palavra com o sentido de 'pião' em Goiás). [Há,
é claro, o sentido de 'baderna, confusão' mencionado pelo
Sérgio, mas os sentidos acima são os que mais fazem sentido
no contexto em que a palavra ocorre.]</span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR><b><i>Carimá.</i></b>
De novo a Marília: "Carimã é um tipo especialíssimo
de farinha fininha – tipo um polvilho – também extraído da
mandioca, com o qual se costuma fazer mingau para bebês." Se não
me engano, corresponde ao que nós chamamos de [<i>farinha de</i>]<i>
puba</i>, no Centro-Oeste. Como a Lucy aponta, a forma que ocorre nos dicionários
(e que reflete a pronúncia da palavra no Pará, por exemplo)
é <i>carimã</i>, com til. Mais uma vez, cheguei a pensar
que fosse erro tipográfico, já que às vezes imprime-se
acento agudo por til no material Karirí.  Mas mudei de idéia
ao notar que a mesma forma ocorre várias vezes em diferentes sátiras
do Gregório de Mattos e, portanto, reflete provavelmente a pronúncia
corrente na Bahia seiscentista (onde o Karirí era falado). Para
quem quiser dar uma olhada nos poemas, eis o endereço: <a href="http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/adaos.html">http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/adaos.html</a></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR>Ah,
sim, vocês devem ter notado que preservei a grafia dada por Mamiani,
daí<i> corropio</i>, <i>fruita</i>, etc.  (se bem que, em Goiás,
ainda ocorrem <i>fruita</i>, <i>luita</i>, <i>escuita</i>...).</span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR>Mais
uma vez, muito obrigado. Amanhã ponho o pé na estrada, para
só retornar em maio. Até lá, não poderei checar
meu correio eletrônico. Vou-me despedindo, então.</span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR>Abraços,</span><span lang=PT-BR>Eduardo</span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR><span lang=PT-BR><span style="mso-spacerun: yes"></span></span></span><span lang=PT-BR></span><span lang=PT-BR></span>            
<p>Eduardo Rivail Ribeiro
<br>Department of Linguistics (University of Chicago)
<br>Museu Antropológico (Universidade Federal de Goiás)
<br><A HREF="http://www.geocities.com/avepalavra">http://www.geocities.com/avepalavra</A>
<br> 
<p>
<hr size=1>Do you Yahoo!?
<br><a href="http://us.rd.yahoo.com/search/mailsig/*http://search.yahoo.com">The
New Yahoo! Search</a> - Faster. Easier. Bingo.
<br>
<br><tt>Visite a página do grupo Etnolingüística, no
endereço seguinte:</tt>
<br><tt><a href="http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/.">http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/.</a></tt>
<br><tt>Submeta textos para discussão, contribua com a "Biblioteca
Virtual", sugira contatos que venham a ser do interesse dos membros do
grupo.  Enfim, participe!</tt>
<br><tt>Para cancelar sua assinatura deste grupo, envie um e-mail para:</tt>
<br><tt>etnolinguistica-unsubscribe@yahoogrupos.com.br</tt>
<br> 
<br> 
<p><tt>Seu uso do Yahoo! Grupos é sujeito aos <a href="http://br.yahoo.com/info/utos.html">Termos
do Serviço Yahoo!</a>.</tt>
<p>
<hr align="left" width="400" size="2"><font face="trebuchet MS, arial"><font size=-1>Esta
mensagem foi verificada pelo <a href="http://www.emailprotegido.terra.com.br/">E-mail
Protegido Terra</a>.</font></font>
<br><font face="trebuchet MS, arial"><font size=-1>Scan engine: VirusScan
/ Atualizado em 26/02/2003 / Versão: 1.3.13</font></font>
<br><font face="trebuchet MS, arial"><font size=-1>Proteja o seu e-mail
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<br> 
<br> </blockquote>
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