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<DIV><FONT face=Verdana size=2>A edição de hoje do jornal <EM>O Globo</EM> publicou uma matéria sobre línguas ameaçadas, mencionando o caso do Xipaya (que conta aparentemente com apenas com uma falante, Dona Maria Xipaya). Entre os entrevistados incluem-se Aryon Rodrigues (Laboratório de Línguas Indígenas, UnB), Ana Vilacy Galucio (Museu Paraense Emilio Goeldi) e Fausto Guadarrama (Associação de Escritores em Línguas Indígenas do México).</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>O texto reproduzido abaixo foi extraído do JC E-Mail 2473, de 1 de março de 2004. <BR><BR><BR>----------------------------------------------------<BR><STRONG>Metade das línguas do mundo está ameaçada <BR></STRONG> <BR><FONT size=1>Dona Maria Chipaia já passou há algum tempo dos 70 anos, mas não sabe sua idade exata. Mulher simples, moradora de Altamira, no Pará, ela é a guardiã de um tesouro de valor inestimável que, quando ela morrer, desaparecerá também<BR></FONT><BR>(Flávio Henrique Lino escreve para 'O Globo')<BR><BR>Dona Maria é a última falante de xipaya, uma das 42 línguas indígenas brasileiras ameaçadas de extinção em breve. O fenômeno não é restrito ao Brasil. <BR><BR>Há anos os lingüistas soam o alarme e recentemente a Associação Americana para o Progresso da Ciência repetiu o aviso: se nada for feito, até metade das 6.800 línguas do planeta poderá desaparecer ao longo deste século. <BR><BR>Estimativas mais pessimistas falam em até 90% de
 perdas <BR><BR>Isso significa uma língua morta a cada dez dias. Os mais alarmistas estimam que o quadro poderá ser pior, com 90% dos idiomas sumindo até 2100 diante do avanço de línguas dominantes, como o inglês, o russo, o hindi, o espanhol e o português. <BR><BR>Com isso, a Humanidade perderá parte significativa de sua memória, adquirida na longa caminhada desde o início da civilização há dez mil anos. <BR><BR>'A língua é o aspecto mais marcante de qualquer cultura. Ela faz parte da identidade do povo e é o instrumento por meio do qual ele passa seu conhecimento tradicional de geração a geração', disse a 'O Globo', de Belém, a lingüista Ana Vilacy Galucio, do Museu Emílio Goeldi. <BR><BR>'Nesse sentido, uma das grandes conseqüências da perda de uma língua é a perda da identidade, com implicação direta na percepção da vida cultural, espiritual e intelectual.'<BR><BR>Para a Unesco, uma língua precisa de cem mil falantes para ser considerada segura, garantindo sua passagem às
 gerações seguintes. O lingüista americano Michael Krauss, uma autoridade no assunto, estima que apenas 600 idiomas estão fora de perigo. <BR><BR>Na Ásia, por exemplo, que abriga 32% das línguas, metade delas tem menos de dez mil falantes. <BR><BR>A situação é agravada pelo fato de que mais de 50% da diversidade lingüística concentra-se em oito países - Nova Guiné, Indonésia, Nigéria, Índia, Brasil, México, Camarões e Austrália - quase todos pobres e com outras prioridades que não a preservação de seus idiomas indígenas ameaçados. <BR><BR>'É preciso criar condições favoráveis nas próprias comunidades para que as línguas indígenas sejam motivo de orgulho. Muitas vezes a sociedade dominante não está sensibilizada para a convivência intercultural e vê os idiomas indígenas como um elemento folclórico', criticou Fausto Guadarrama, da Associação de Escritores em Línguas Indígenas do México.<BR><BR>Criada em 1993, a associação ajuda a preservar as línguas nativas do México produzindo
 material literário. Seus 70 associados escrevem em 24 das 62 línguas indígenas <BR>mexicanas - 34 delas em perigo de extinção. <BR>Mas nem tudo são más notícias. A crescente consciência da importância da riqueza lingüística da Terra levou a iniciativas bem-sucedidas para ressuscitar idiomas já no CTI de Babel. <BR><BR>É o caso do havaiano, que na década de 80 estava reduzido a menos de 400 falantes - quase todos com mais de 50 anos - e hoje, graças aos esforços de grupos como o Aha Punana Leo, conta com quase dez mil. <BR><BR>No Brasil, pelo menos 3 línguas têm apenas um falante <BR><BR>Seguindo uma experiência realizada na Nova Zelândia para fazer renascer o maori, o grupo criou 12 pré-escolas com imersão total para assegurar que as crianças aprenderiam o havaiano como língua materna.<BR><BR>'O que tentamos fazer é permitir-nos ser havaianos contemporâneos, saber quem somos e ser capazes de transitar nos dois mundos: o de nossa identidade americana e o de nossa identidade
 havaiana', disse, do Havaí, Hauoli Motta, do Aha Punana Leo.<BR><BR>No Brasil, calcula-se que tenham sobrevivido hoje 180 das estimadas 1.200 línguas indígenas que havia em 1500. Pelo menos três delas teriam apenas um falante. O panorama começou a mudar com a Constituição de 1988, que instituiu o ensino nos idiomas indígenas, e há vários projetos de preservação em andamento.<BR><BR>Numa iniciativa pioneira, o município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, declarou línguas oficiais, além do português, o baniwa, o tukano e o nheengatu. <BR><BR>Já a Funai auxilia em produção de material didático, formação de professores indígenas e promoção de intercâmbio entre estes e especialistas das tribos, como artesãos e contadores de histórias.<BR><BR>'A situação melhorou, mas ainda está havendo perdas. Falta dinheiro para pesquisarmos melhor nossas línguas. Aí, vêm pesquisadores do exterior com financiamento, coletam dados e levam para analisar lá fora', adverte Aryon Rodrigues, diretor do
 Laboratório de Línguas Indígenas da UnB.<BR><BR>-----------------------------<BR><STRONG>'É vital preservar as línguas'</STRONG> <BR> <BR><FONT size=1>A lingüista Ana Vilacy Galucio integra o grupo de especialistas em línguas indígenas do Museu Emílio Goeldi. De Belém, ela disse a 'O Globo' que é preciso vontade para preservar as línguas</FONT><BR><BR>(Ana Lucia Azevedo escreve para 'O Globo')<BR><BR>- Como morrem as línguas? <BR><BR>Ana Vilacy Galucio - O desaparecimento de uma língua está ligado ao número de falantes, mas principalmente ao grau de transmissão às novas gerações, quer dizer, quantas crianças estão aprendendo a língua. É importante que o idioma continue a ser aprendido pelas novas gerações e que haja um contexto onde ele seja normalmente usado. Qualquer coisa que provoque a quebra de transmissão da língua às gerações mais novas pode ameaçar a continuidade de seu uso. Isso acontece com o casamento com falantes de outras línguas, a dispersão do grupo, a
 estigmatização da língua, a pressão de grupos majoritários... <BR><BR>- O que o Brasil perde com a morte de suas línguas? <BR><BR>- Identidade e toda uma gama de manifestações culturais realizadas por meio da língua. No caso das línguas indígenas brasileiras, sua manutenção é fundamental para que possamos apreender parte do conhecimento tradicional dos povos indígenas sobre astronomia para plantio e coleta, controle natural de pragas, domesticação e uso de plantas medicinais e aromáticas, identificação de solos... Existe também uma outra perda quando uma língua desaparece: a científica. Há de 160 a 180 línguas no Brasil, mas menos de cem já foram objeto de descrição científica. <BR><BR>- Como salvar uma língua sem tradição escrita? <BR><BR>- Há várias técnicas sendo usadas no mundo hoje para tentar conter o processo de extinção de línguas minoritárias. Mas o passo fundamental é que haja a vontade do grupo envolvido e condições sócio-político-econômicas. <BR>(O Globo,
 1/3)<BR></DIV></FONT></DIV><BR><BR><DIV>
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