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<DIV>Matéria publicada na revista <A href="http://cienciahoje.uol.com.br/3283">Ciência Hoje</A> (edição 213, março 2005). O texto abaixo é apenas a introdução do artigo. Para baixar o texto integral, clique no link abaixo:</DIV>
<DIV><FONT size=1></FONT> </DIV>
<DIV><A href="http://cienciahoje.uol.com.br/files/ch/213/ceramica1.pdf">http://cienciahoje.uol.com.br/files/ch/213/ceramica1.pdf</A></DIV>
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<DIV><FONT size=3><SPAN class=titulo14><STRONG>A pintura em cerâmica Tupiguarani</STRONG></SPAN><BR></FONT><STRONG></STRONG></DIV>
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<DIV><STRONG>Estudo mostra que vasos expressavam valores dos primeiros habitantes do litoral brasileiro</STRONG><BR></DIV>
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<DIV>A cultura dos povos indígenas falantes da línguas tupi e guarani é conhecida principalmente pelos relatos de cronistas da época do Descobrimento e dos primeiros tempos da colonização do Brasil. Dos prováveis ancestrais desses grupos, porém, os únicos vestígios arqueológicos são vasilhas e fragmentos de cerâmica, muitas vezes pintados com motivos variados. Um novo e amplo estudo sobre as pinturas aplicadas a essa cerâmica – reunida sob o nome ‘Tradição Tupiguarani’ – revela que não eram apenas simples decoração: na verdade, os desenhos parecem expressar os valores coletivos desses primeiros habitantes do litoral brasileiro. </DIV>
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<DIV>Quando Pedro Álvares Cabral desembarcou no Brasil, a maior parte do litoral, do Nordeste até o rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, era ocupada por populações indígenas que falavam línguas tupi (desde a área onde se situa hoje o estado de São Paulo até o atual Maranhão) e guarani (do atual Paraná até o norte da Argentina). Essas línguas eram aparentadas (como o são entre si o espanhol e o português) e as culturas dos seus falantes bastante parecidas.</DIV>
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<DIV>Os primeiros cronistas – particularmente os protagonistas das lutas entre franceses e portugueses pelo controle da baía de Guanabara – fornecem preciosas informações sobre essas numerosas tribos. Mencionam, entre outras coisas, que as mulheres produziam e decoravam os potes de barro. Essas tribos foram logo dizimadas pelas doenças trazidas pelos europeus e pelas guerras coloniais, e no século 17 tinham desaparecido quase que por completo do litoral central e nordestino.</DIV>
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<DIV>No final do século 19, os amadores de antiguidades brasileiros e os organizadores dos primeiros grandes museus, como Ladislau de Souza Mello Netto (1828-1894), já tinham identificado como tupi os potes pintados encontrados no litoral de Rio de Janeiro. Mas essas vasilhas estavam mal preservadas, e as cerâmicas então recém-descobertas na ilha de Marajó, no Pará, que se supunha influenciadas por imigrantes europeus supostamente chegados durante a Antiguidade, atraíram toda a atenção dos pesquisadores. Até o final do segundo terço do século 20, apenas o historiador e folclorista Carlos Ott publicou o desenho simplificado de algumas vasilhas encontradas na Bahia.</DIV>
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<DIV>No final dos anos 60, os pesquisadores do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa), dirigido pelos arqueólogos norte-americanos Betty Meggers e Clifford Evans (1920-1981), encontraram numerosos sítios onde apareciam restos de cerâmica decorada, alguns com traços vermelhos ou pretos pintados sobre fundo branco. Tais manifestações foram reunidas sob o nome ‘Tradição Tupiguarani’ – Tupiguarani em uma só palavra, indicando tratar-se de um conceito arqueológico que não corresponde obrigatoriamente aos povos falantes das línguas tupi-guarani (com hífen), embora se supusesse que os autores das peças fossem, ao menos em parte, ancestrais desses povos. As datações radiocarbônicas apontavam que os artefatos teriam entre 1.500 e 500 anos.</DIV>
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<DIV>Como os sítios estavam em geral muito destruídos, os cacos eram pequenos e os desenhos pouco legíveis. Além disso, o Pronapa, por visar apenas a levantamentos extensivos, não previa análise intensiva de sítios nem grande escavações, que talvez tivessem permitido encontrar locais ainda intactos e materiais bem conservados. Arqueólogos influenciados por perspectivas francesas, como Maria Beltrão, Luciana Pallestrini, Lina Kneip (....-2002), Sílvia Maranca e José Luiz de Morais, chegaram a escavar estruturas de habitações, mas não se interessaram especialmente pela cerâmica.</DIV>
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<DIV>Dessa forma, e apesar de um artigo seminal do etnólogo Desidério Aytai (1905-1998) que não chegou ao conhecimento da maioria dos arqueólogos, não se tentou um estudo sistemático das formas decorativas, embora importantes trabalhos de síntese tenham sido realizados pelos arqueólogos José P. Brochado e Maria Cristina M. Scatamacchia sobre a difusão da cultura Tupiguarani e as formas das vasilhas, assim como uma nota da arqueóloga Fernanda B. Tocchetto sobre uma possível relação entre motivos geométricos e mitologias guarani.</DIV>
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<DIV>Em 2000, a Missão Arqueológica Francesa e o Setor de Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais decidiram iniciar um programa de estudo da cultura Tupiguarani no estado, em colaboração com a equipe que iniciava um programa de resgate arqueológico no vale do rio Doce, entre os municípios de Resplendor e Aimorés, onde um consórcio encabeçado pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) construía uma represa. A reunião de recursos de origem privada com um projeto científico tornava possível realizar um programa que unisse interesses econômicos e culturais (resgate do patrimônio cultural imposto pela lei) e acadêmicos (os trabalhos não visariam apenas a simples recuperação do material, mas seriam também direcionados por questões inerentes à pesquisa científica, como organização interna dos sítios, interpretações sociológicas, análises funcionais e estilísticas dos vestígios materiais e outras.</DIV>
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<DIV>Estávamos inicialmente interessados em estudar as modalidades de ocupação do espaço pelas populações tupi-guarani em áreas-teste (em algumas microrregiões de Minas Gerais) e a organização interna das aldeias (cuja estrutura estivesse mais bem preservada). No entanto, o salvamento – pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em Conceição dos Ouros (MG) – de uma vasilha intacta com extraordinária decoração nos levou a abrir uma nova linha de estudo sobre as decorações pintadas sobre cerâmica e a visitar os museus e coleções antigas espalhados entre Natal (RN) e Porto Alegre (RS), onde abundam cacos pintados e vasilhas com traços quase apagados. </DIV>
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<DIV>Aos poucos, envolvemos um grande número de arqueólogos em uma pesquisa sistemática sobre a cultura Tupiguarani no Brasil inteiro. Arqueólogos, químicos, físicos, etnólogos e até técnicos da polícia científica – ligados a 20 instituições brasileiras, argentinas e uruguaias – aceitaram colaborar, de forma inédita, na preparação de uma obra coletiva, que deve fazer um balanço dos conhecimentos e abrir novas perspectivas.</DIV>
<DIV><BR>Este artigo apresenta um dos pontos da cultura tupiguarani cujo estudo ficou sob nossa responsabilidade.<BR><BR><BR><STRONG>André Prous<BR></STRONG>Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas<BR>e Museu de História Natural,<BR>Universidade Federal de Minas Gerais</DIV>
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<DIV>A mesma edição de CH traz também um outro artigo sobre o mesmo tema ("Cerâmicas Tupiguarani e Marajoara – elementos estruturais comuns", de Tania Andrade Lima, da UFRJ). <BR></DIV></DIV><BR><BR><DIV>
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<DIV><FONT size=1><FONT face=verdana><EM><A href="http://www.etnolinguistica.org">Etnolinguistica.Org</A></EM> <BR>Setor de Etnolingüística, Museu Antropológico <BR>Universidade Federal de Goiás <BR>Avenida Universitária, 1166, Setor Universitário <BR>74605-010 Goiânia, Goiás, BRASIL
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