<html><body>
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<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Prezados colegas,</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Na literatura colonial sobre o “Tupi da Costa” (Tupinambá, Tupi Antigo) ocorrem pelo menos dois termos para ‘galinha’: (1) <I style="mso-bidi-font-style: normal">wyra sapukaja*</I> e (2) <I style="mso-bidi-font-style: normal">ariña</I> (um provável empréstimo do português <I style="mso-bidi-font-style: normal">galinha**</I>).<SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Como vários outros termos que designam elementos introduzidos pelo colonizador (‘enxada’, ‘arma de fogo’, etc.), ambas as formas para ‘galinha’ passaram do Tupinambá (ou uma das línguas gerais dele originadas) para línguas de outras famílias (Kipeá <I style="mso-bidi-font-style: normal">sabucá</I>; Coroado <I style="mso-bidi-font-style: normal">ariña</I>, etc.).</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">O segundo exemplo, <I style="mso-bidi-font-style: normal">ariña</I>, ilustra uma interessante classe de empréstimos que, apesar de serem em última instância de origem portuguesa, teriam ingressado no léxico de certas línguas indígenas através de uma terceira língua (geralmente, a Língua Geral Paulista ou o Nheengatu). Eu desconfio que o termo para ‘galinha’ em Karajá (língua Macro-Jê do vale do Rio Araguaia) -- <I style="mso-bidi-font-style: normal">hãnike</I> (fala feminina), <I style="mso-bidi-font-style: normal">hãnie </I>(fala masculina) — seria também um destes casos de empréstimos indiretos.<SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Todas as adaptações fonológicas seriam regulares — exceto pela inserção de /k/ na última sílaba na fala feminina.</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Assim, caso <I style="mso-bidi-font-style: normal">hãnike</I> provenha de fato de algo <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" /><st1:City><st1:place>como</st1:place></st1:City> <I style="mso-bidi-font-style: normal">ariña</I>, teríamos um interessante caso de inserção, por analogia, de um /k/ na forma da fala feminina. Em geral, é o contrário o que ocorre: formas da fala masculina são derivadas através da supressão de um /k/ (cf. <I style="mso-bidi-font-style: normal">kõbra</I> > <I style="mso-bidi-font-style: normal">õbra</I> ‘comprar’).<o:p></o:p></FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Portanto, se possível, eu ficaria muito grato se os colegas desta lista pudessem me ajudar a obter mais informações a respeito dos termos para ‘galinha’ em Tupinambá ou Língua Geral, principalmente (1) se haveria diferenças na distribuição geográfica de ambos os termos e (2) detalhes da pronúncia (por exemplo, se haveria possivelmente a inserção de uma oclusiva glotal no começo da palavra).</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Desde já, muitíssimo obrigado por sua atenção e colaboração.</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Cordialmente,</FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">Eduardo<o:p></o:p></FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><o:p><FONT face="Times New Roman"> </FONT></o:p></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">*Lemos Barbosa (<I style="mso-bidi-font-style: normal">Pequeno Dicionário Português-Tupi</I>, 1970, Livraria São José, p. 112): <I style="mso-bidi-font-style: normal">güyrassapucaia</I></FONT></P>
<P class=data style="MARGIN: 0in 0in 0pt"><FONT face="Times New Roman">** Sérgio Buarque de Holanda (<I style="mso-bidi-font-style: normal">Caminhos e Fronteiras</I>, José Olympio, <st1:City><st1:place>Rio de Janeiro</st1:place></st1:City>, 1957, p. 200): “Esse nome -- arinhâ ou arinhã (arignam, em Léry, arignane, em Thévet e araignam, em d'Abbeville) -- não seria, provàvelmente, mais do que uma deformação fonética da palavra portuguêsa ‘galinha’, apesar das várias tentativas efetuadas entre alguns estudiosos para filiá-la a um étimo tupi. [...] Essa idéia não ocorreu aos estudiosos que têm tratado do vocábulo.”<o:p></o:p></FONT></P></DIV><BR><BR><DIV>
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<DIV><FONT face=verdana size=1>----------------------------------</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=verdana size=1>Eduardo Rivail Ribeiro</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=verdana size=1>Museu Antropológico, Universidade Federal de Goiás</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana><FONT size=1>Grupo de Pesquisa </FONT><A href="http://lattes.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0106801Z7GS29I"><FONT size=1>"Estudos Histórico-Comparativos Macro-Jê"</FONT></A></FONT></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV></DIV><p>
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