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<BODY>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Prezado Harley,<BR><BR>Não existe um dicionário
Macro-Jê propriamente dito. Macro-Jê é um conjunto hipotético de línguas e
famílias lingüísticas extremamente diferenciadas entre si que seriam,
supostamente, relacionadas geneticamente à família Jê. Há, assim, dicionários de
línguas Macro-Jê, mas não um dicionário Macro-Jê. Enquanto famílias
como a Jê, a Tupi-Guarani e a Karib, ou mesmo troncos como o Tupi, são
agrupamentos de línguas mais claramente relacionadas, a inclusão de certas
línguas no tronco Macro-Jê é algo extremamente hipótetico ainda. Para uma
introdução ao tronco Macro-Jê, vide Rodrigues (1986, 1999).<BR><BR>O que poderia
haver seria um dicionário etimológico (ou seja, histórico-comparativo) de
línguas Macro-Jê, incluindo formas reconstruídas para a hipotética proto-língua.
Este tipo de dicionário existe no caso de famílias bem estudadas, para as quais
os estudos histórico-comparativos atingiram um estágio mais avançado, como é o
caso do Indo-Europeu. Mas, no que diz respeito ao Macro-Jê, estamos muito
distantes disto. Há apenas pequenas listas de prováveis cognatos (consulte, por
exemplo, Rodrigues 1999).<BR><BR>Agora, quanto à família lingüística Karirí
(hoje extinta), há uma quantidade razoável de dados, registrados em uma
gramática e um catecismo Kipeá (pelo jesuíta Luiz Mamiani) e um catecismo
Dzubukuá (pelo capuchinho Bernardo de Nantes). Com base nas obras de Mamiani e
Nantes, estamos (a equipe do Setor de Etnolingüística do Museu
Antropológico/UFG) elaborando um dicionário Kariri, que esperamos disponibilizar
a partir do ano que vem. No caso das informações que você procura, o
vocabulário publicado por Rodrigues (1942), extraído da gramática de
Mamiani, é uma fonte útil; mas, naturalmente, a melhor fonte é mesmo a gramática
de Mamiani.<BR><BR>Vamos, finalmente, aos dados. 'Mato', em Kipeá, é
<EM>iretcé</EM>. 'Branco' é <EM>cu</EM>. Como em outras línguas Macro-Jê, o
adjetivo geralmente segue o nome (como em português). <EM>Cu</EM> 'branco'
é uma das raízes que requerem prefixos classificatórios.
Tais classificadores (doze, no total) categorizam os nomes da língua em
diferentes classes, de acordo com princípios semânticos nem sempre muito claros.
Nas palavras de Mamiani, ocorrem prefixados a "adjetivos numerais, ou de
medidas, ou de cores, ou outros, conforme a variedade da matéria dos seus
substantivos com que concordam". Por exemplo, <EM>ya-</EM> é o prefixo
classificador para "nomes de coisas de ferro, ossos, ou coisas agudas". Assim,
para se dizer 'faca grande', se diz</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2><EM>udzá ya-chi</EM></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>faca CLAS-grande</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>'faca grande'</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>No caso de 'mato branco', no entanto, só podemos
especular quanto à tradução em Kariri, a menos que tal expressão tivesse sido
documentada nas fontes disponíveis (o que não parece ser o caso). O uso de
classificadores é comumente determinado pelo contexto cultural; na falta de
falantes nativos a quem pudéssemos consultar, fica difícil saber com
certeza. Uma forma como <EM>*iretcé cu</EM> (lit. 'mato branco') seria
provavelmente agramatical, já que o uso de prefixos classificatórios parece
ter sido obrigatório com este adjetivo. Mas que classificador usar? O
classificador <EM>he-</EM>, para "nomes de paus, e pernas, ou cousas
feitas de pau"? Ou o classificador <EM>nu-</EM>, para "nomes de buracos, poços,
bocas, campos, vargens, cercados"? Ou o classificador genérico <EM>bu-</EM>?
Neste último caso, a tradução hipotética de 'mato branco' seria</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><EM><FONT face=Verdana size=2>iretcé bu-cu</FONT></EM></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>mato CLAS-branco</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>'mato branco'</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Mas até mesmo a escolha do adjetivo poderia ser
problemática. A tradução acima é um tanto literal. Se o objetivo é referir-se à
caatinga ('mato branco' em Tupinambá; ou seja, uma vegetação mais rala que a
floresta úmida e o cerrado), talvez os falantes nativos tivessem escolhido um
outro adjetivo, como <EM>kenké</EM> 'alvo, limpo', <EM>né ~ nu</EM> 'claro', ou
<EM>crá</EM> 'seco'. Ou poderiam ter simplesmente tido um lexema específico para
este termo. Enfim, como uma língua é muito mais do que uma coleção de palavras e
regras gramaticais, qualquer tradução destituída de um contexto cultural é
temerária.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Este é um bom exemplo do quanto se perde quando
uma língua deixa de ser falada, por mais haja algum tipo de
documentação.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Bem, espero que estas informações lhe sejam
úteis. Estou incluindo, abaixo, uma pequena lista de referências bibliográficas,
caso você esteja interessado em se familiarizar mais com o Kariri e o tronco
Macro-Jê.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Atenciosamente,</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2>Eduardo</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Verdana size=2></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><STRONG>Referências:</STRONG></FONT></DIV>
<DIV><SPAN lang=PT-BR
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR">
<P class=MsoBodyText
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN
lang=PT-BR
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR"><FONT
face=Arial><FONT size=2>Mamiani, Luiz Vincencio. 1877 [1699]. <I>Arte de
Grammatica da Lingua Brasilica da Naçam Karirí</I>. 2a. edição. Rio de Janeiro:
Bibliotheca Nacional.<?xml:namespace prefix = o ns =
"urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></FONT></FONT></SPAN></P>
<P class=MsoBodyText
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in"><SPAN lang=PT-BR
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR"><FONT
face=Arial><FONT size=2>Mamiani, Luiz Vincencio. 1942 [1698]. <I>Catecismo da
Doutrina Christãa na Lingua Brasilica da Nação Karirí</I>. Lisboa. (Edição
fac-similar, Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional).<o:p></o:p></FONT></FONT></SPAN></P>
<P class=MsoBodyText
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in; TEXT-ALIGN: justify"></SPAN><FONT
face=Arial><FONT size=2><SPAN lang=PT-BR
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR">Nantes,
Bernardo de. 1896 [1709]. <I>Katecismo Indico da Lingua Karirís</I>.
</SPAN><SPAN
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">Lisboa.
(Facsimile edition published by Julio Platzmann, </SPAN><?xml:namespace prefix =
st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags"
/><st1:City><st1:place><SPAN
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">Leipzig</SPAN></st1:place></st1:City><SPAN
style="FONT-WEIGHT: normal; FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">)<o:p></o:p></SPAN></FONT></FONT></P></DIV>
<DIV><FONT><SPAN style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt"><FONT
face=Arial size=2>Rodrigues, Aryon. 1942. O artigo definido e os numerais na
língua Kirirí. Vocabulário Português-Kirirí e Kirirí-Português. <I
style="mso-bidi-font-style: normal">Arquivos do Museu Paranaense</I>
2.179-211.</FONT></SPAN></FONT></DIV>
<DIV><FONT><SPAN style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">
<P class=MsoNormal
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN
lang=PT-BR style="mso-ansi-language: PT-BR"><FONT face=Arial><FONT
size=2>Rodrigues, A. (1986). <I style="mso-bidi-font-style: normal">Línguas
brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas</I>. São Paulo: Edições
Loyola.<o:p></o:p></FONT></FONT></SPAN></P><o:p></o:p></SPAN></DIV></FONT>
<DIV><FONT face=Verdana>
<P class=MsoNormal
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in; TEXT-ALIGN: justify"><SPAN
lang=PT-BR
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR"><FONT
face=Arial><FONT size=2>Rodrigues, Aryon. 1997. Nominal classification in
Karirí. <I style="mso-bidi-font-style: normal">Opción</I>
22.65-79.<o:p></o:p></FONT></FONT></SPAN></P>
<P class=MsoNormal
style="MARGIN: 0in 0in 0pt 0.5in; TEXT-INDENT: -0.5in; TEXT-ALIGN: justify"><FONT
face=Arial><FONT size=2><SPAN lang=PT-BR
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR">Rodrigues,
Aryon. 1999. Macro-Jê. </SPAN><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">In Aikhenvald &
</SPAN><st1:City><st1:place><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">Dixon</SPAN></st1:place></st1:City><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt"> (editores), <I>The Amazonian
Languages</I>. </SPAN><st1:City><st1:place><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">Cambridge</SPAN></st1:place></st1:City><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">:
</SPAN><st1:place><st1:PlaceName><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">Cambridge</SPAN></st1:PlaceName><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt"> </SPAN><st1:PlaceType><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">University</SPAN></st1:PlaceType></st1:place><SPAN
style="FONT-SIZE: 9pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt">
Press.<o:p></o:p></SPAN></FONT></FONT></P></DIV>
<DIV><BR><BR><FONT size=2>----- Original Message ----- <BR>From: "Davidson
Harley Oliveira Marinho Bentes" <</FONT></FONT><A
href="mailto:harleybentes@yahoo.com.br"><FONT face=Verdana
size=2>harleybentes@yahoo.com.br</FONT></A><FONT face=Verdana size=2>><BR>To:
<</FONT><A href="mailto:etnolinguistica@yahoogrupos.com.br"><FONT
face=Verdana size=2>etnolinguistica@yahoogrupos.com.br</FONT></A><FONT
face=Verdana size=2>><BR>Sent: Tuesday, July 05, 2005 1:51 PM<BR>Subject:
[etnolinguistica] Dicionário Português-Macro-Jê<BR><BR><BR>Alguém poderia me
informar algum dicionário Português-Macro-jê na<BR>Internet?<BR>Desejo saber a
tradução de Mato Branco em idioma Macro-Jê, do
índios<BR>carirís.<BR></FONT></DIV>
<br><br>
<tt>
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Colóquios Lingüísticos do Museu Antropológico<BR>
Participe! Para maiores informações, visite<BR>
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Visite a página do grupo Etnolingüística. Submeta textos e idéias para discussão, sugira conexões que venham a ser do interesse dos membros do grupo, convide novos membros. Enfim, participe!<BR>
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