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<p class="MsoNormal"><br>
</p>
<p style="color: rgb(51, 51, 255);" class="MsoNormal"><a href="http://www.antropos.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=90&Itemid=26">http://www.antropos.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=90&Itemid=26
</a></p>
<p class="MsoNormal">O Cenário Indígena Brasileiro e a Atuação Missionária
Evangélica</p>
<p class="MsoNormal"><span style="display: none;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span class="small">Por Ronaldo Lidorio </span> </p>
<p class="MsoNormal">30/03/06 </p>
<p><span style="color: black;">Nos últimos 500 anos o pensamento coletivo
brasileiro não mudou a ponto de gerar uma diferença visível em termos de
abordagem e interação com o indígena e sua sociedade. No cenário leigo o índio
ainda é visto por alguns como selvagem, por vezes como herói, ignorante ou,
ainda, como representante de uma cultura superior e pura. Poucos pararam para
escutá-lo nos últimos cinco séculos, e havia muito a ser dito.</span></p>
<p><span style="color: black;">No meio acadêmico fala-se sobre a desmistificação
da identidade indígena. Creio que precisamos primeiramente desmistificar a nós
mesmos, repensar nossas expectativas em relação a essa sociedade com a qual
convivemos por séculos sem compreendê-la, e passar a interpretá-la de forma
igualitária na dignidade e respeitosa nas diferenças.</span></p>
<p><span style="color: black;">Calcula-se que havia 1,5 milhão2 de indígenas no
Brasil do século 16, os quais, irreparavelmente, somam hoje não mais de 350
mil. Infelizmente essa realidade etnofágica vai muito além das estatísticas e
das palavras, pois é composta por faces, vidas, histórias e culturas milenares,
as quais têm sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquistadores, a forte
imposição socioeconômica e perdas sociais tremendas. Permita-me redefinir os
termos desta afirmação. Os conquistadores não são os outros. Somos nós. </span></p>
<p><span style="color: black;">A sociedade indígena ainda vive hoje sob o perigo
de extinção. Não necessariamente extinção populacional, mas igualmente severa,
quando se perde língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar
diferente convivendo em um território igual. </span></p>
<p><span style="color: black;">Segundo Lévy-Strauss, a perda lingüística é um dos
sinais de declínio de identidade étnica e decadência de uma nação. Ao
observarmos tal sinal, percebemos quão desolador é o cenário. Michael
Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas
crianças. 3 Isso significa que um número cada vez maior de crianças indígenas
perde seu poder de comunicação a cada dia. </span></p>
<p><span style="color: black;">Aryon Rodrigues estima que, na época da conquista,
eram faladas 1.273 línguas,<sup>4</sup> ou seja, perdemos 85% de nossa
diversidade lingüística em 500 anos. Luciana Storto chama a atenção para o
Estado de Rondônia, onde 65% das línguas estão seriamente em perigo por não
serem mais aprendidas pelas crianças e por terem um ínfimo número de falantes.</span></p>
<p><span style="color: black;">Precisamos perceber que a perda lingüística está
associada a perdas culturais complexas, como a transmissão do conhecimento,
formas artísticas, tradições orais, perspectivas ontológicas e cosmológicas. No
processo de transição, quando a língua materna cai em desuso, normalmente há o
que podemos chamar de "geração perdida": um vácuo cultural atinge uma geração
inteira. Ou seja, no processo de perda lingüística e migração para o português,
os grupos indígenas passam por um processo de adaptação quando já não têm mais
fluência na língua materna nem aprenderam o suficiente o português para uma
comunicação mais profunda. Tal processo em média não dura menos que três
décadas. Esse é um momento de perigo, em que a identidade indígena é
autoquestionada e muitos valores e, sobretudo, seu poder de comunicação e
transmissão de conhecimento são perdidos. Perdem-se também os sonhos.</span></p>
<p><span style="color: black;">Na tentativa de repensar a realidade de nossos
irmãos indígenas é preciso filtrar a informação sobre a atuação missionária
evangélica em relação a eles. A contribuição evangélica, na tentativa de
relacionamento com a sociedade indígena nacional, teve início com a influência
holandesa no século 16 e permanece hoje representada por um grande número de
organizações que tenta reduzir os prejuízos sofridos. Isso se traduz em um
sem-número de biografias daqueles que deram a vida, na impossibilidade de darem
mais, para minimizar alguns dos efeitos do extermínio social indígena de
séculos. </span></p>
<p><span style="color: black;">Dentro de um vasto universo de ações
sociopolíticas percebemos que a força evangélica missionária se destacou
especialmente em três áreas: preservação lingüística (com a grafia e
conseqüente preservação de diversas línguas — e muito ainda está sendo feito);
educação (tanto na língua materna, com forte destaque, quanto na educação
formal em programas governamentais); e saúde (tanto de base, nas comunidades,
quanto também organizacional, em clínicas e hospitais). Permita-me pontuar: o
evangelho jamais será motivo de alienação social ou imposição de credo. É, ao
contrário, motivação para uma contínua tentativa de se recuperar as perdas
humanas nos segmentos mais sofridos.</span></p>
<p><span style="color: black;">Ainda há muito a ser feito. É necessário caminhar.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="color: black;">Notas<br>
</span>[1]<span style="color: black;"> FONSECA, Ernesto. <em>Breve história da colonização</em>.
Lisboa: 1897.<br>
2 Antropólogos da ALAB falam em 5 milhões.<br>
3 KRAUSS, Michael. <em>The world's languages in crisis</em>.<br>
4 RODRIGUES, Aryon. Línguas indígenas — 500 anos de descobertas e perdas.</span></p>
<p class="MsoNormal"> </p>
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