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<DIV><FONT face="Arial" size="2">Caro Beni,</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">Começando de trás pra frente, pelo fim da sua
mensagem: desconheço, infelizmente, palavras de origem Macro-Jê que tenham
se tornado comuns no léxico do português brasileiro. Há algum tempo, encontrei
na internet a sugestão de que o samba (incluindo sua denominação) seria de
origem Kariri, mas não encontro na literatura nada que corrobore esta hipótese
(de acordo com a qual, se me lembro bem, "samba" se referiria a uma festa
indígena em que se comeria cágado (em Kipeá-Kiriri, sambá); nas fontes
coloniais (que são, infelizmente, o que se tem de substancial sobre essa
língua e a cultura original dos povos Kariri), não há nada que justifique o
salto lógico "cágado" > "festa em que se dançava e se comia cágado". A menos
que haja fontes que eu desconheça. [Lingüisticamente, também ficaria sem
explicação o deslocamento do acento para a penúltima sílaba, já que as palavras
Kariri eram acentuadas na última sílaba.] </FONT><FONT face="Arial" size="2">Mas
talvez algum outro colega na lista saiba de termos de origem Macro-Jê que tenham
ingressado no léxico geral do português; fico curioso para saber
também.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">Sua tese parecia bacana, mesmo, e está longe de ser
um palpite infeliz. A comprovação de influências de substratos não é tarefa
fácil, mesmo no caso de línguas muito mais bem estudadas que as nossas. Muitas
sugestões foram feitas, no caso de línguas européias, e estas continuam sem
prova cabal: por exemplo, a de existência de influências de
substrato basco no espanhol (que explicaria, supostamente, a transformação
f > zero), ou de substrato celta no francês (ambas devidamente combatidas por
alguns dos grandes nomes da nossa ciência). Como um mesmo fenômeno lingüístico
pode ocorrer por diversos caminhos, fica difícil determinar com certeza se
tal ou qual fato lingüístico seria conseqüência, necessariamente, de contato
lingüístico. Não é, necessariamente, que não tenha havido influências mais
profundas no nosso português. É que, se houve, foram de tal natureza que nossos
métodos não podem captar. A própria natureza do contato étnico no Brasil --
em que diferentes elementos se amalgamaram para formar uma cultura que é, em
linhas gerais, compartilhada por todos -- complica qualquer tentativa de se
determinar, com precisão, de onde veio cada elemento.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">A arte, por outro lado, tem o poder de captar
coisas que nossa vã ciência não consegue. </FONT><FONT face="Arial" size="2">Então, gosto de seu verso -- "línguas mortas viram sotaques".
Principalmente se, extrapolando um "mucadim", estendemos "sotaque" para outras
formas de linguagens e manifestações culturais. A culinária, como aponta o Rick,
sendo uma delas. E eu penso em gestos, toques (o cafuné, por exemplo: por
mais que a palavra seja africana, o hábito é tão difundido entre os indígenas
que é difícil delimitar sua origem a este ou aquele povo), e sistemas de
crenças. Porque, quando se cultiva mandioca, não é só a planta, a nomenclatura e
o conhecimento do plantio que está em jogo; há um certo sistema de crenças
herdado dos nossos ancestrais indígenas, geração após geração (fico imaginando:
de que outra maneira saberíamos que não é bom gemer ao arrancar a raiz?). Não
que se queira minimizar a destruição causada pela colonização, os massacres e
extermínios em massa. Mas, se serve de consolo (e não serve), é bom saber que
muito daqueles povos supostamente extintos ainda sobrevive
em nós (inclusive seus genes). </FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">E agora de volta aos nossos avós nordestinos. A
negação da origem indígena (ou negra) é, infelizmente, muito comum,
especialmente entre aqueles que encaram mais de perto a discriminação. Tive uma
amiga boliviana na graduação que se ofendeu quando perguntei sobre sua
ancestralidade indígena, mesmo que o seu rosto não negasse. Mas, adicionando uma
camada de negação: em Brasília, encontrei muitos com um sotaque nitidamente
pernambucano, ou baiano, que pareciam ofendidos pela pergunta "você é
nordestino?"<wbr>. É que, para o discriminado, o verso de Caetano não se aplica:
Narciso acha feio o que é espelho. Se Brasília não tivesse sido construída no
triângulo da miséria, se a mão de obra barata não fosse justamente o caipira e o
sertanejo, nossos sotaques lá talvez seriam mais valorizados. E aí me
lembro de um samba do Billy Blanco, ignorante de sua própria gente, na canção
"Não vou pra Brasília": "eu não sou índio, nem nada; não tenho a orelha furada;
nem tenho argola pendurada no nariz..."</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">Você tem toda a razão: para superarmos nosso
complexo de vira-lata, é essencial reconhecermos nossa dívida ao índio.
Especialmente ao índio de carne e osso, depauperado, que sobreviveu, e que tem
ainda muito a nos ensinar.</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">Abraços,</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2">Eduardo</FONT></DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face="Arial" size="2"></FONT> </DIV>
<BLOCKQUOTE style="BORDER-LEFT: #000000 2px solid;">
<DIV style="FONT: 10pt arial;">----- Original Message ----- </DIV>
<DIV style="BACKGROUND: #e4e4e4;FONT: 10pt arial;"><B>From:</B>
<A title="beni@psicotronica.com.br" href="mailto:beni@psicotronica.com.br">Beni
Borja - Psicotronica</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>To:</B> <A title="etnolinguistica@yahoogrupos.com.br" href="mailto:etnolinguistica@yahoogrupos.com.br">etnolinguistica@<wbr>yahoogrupos.<wbr>com.br</A>
</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>Sent:</B> Saturday, November 22, 2008 2:36
PM</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>Subject:</B> Re: [etnolinguistica] Sotaques
brasileiros</DIV>
<DIV><BR></DIV>
<DIV id="ygrp-text">
<P>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Prezado Eduardo, </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Muitíssimo agradecido pela
sua atenção. Foi ótimo saber que o tema também te
interessa. Suas considerações foram altamente
esclarecedoras ,embora algo decepcionantes. </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Confesso que me senti como uma
criança que tem sua bola furada. Minha tese parecia tão
bacana! Mas isso é que dá ser "intelectual de miolo-mole" como
alguém já chamou o Caetano , numa definição que cabe bem para todos
os artistas. </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">De fato, não considerei que entre o
português e as línguas indígenas houve a língua geral, coisa que eu
sabia, entre outras fontes pelas minhas leituras do
Capistrano. Aliás , acho que foi no Capistrano que li que
os bandeirantes chamavam de "gente da língua travada" as populações
indígenas do interior , no que me pareceu um referência as línguas
do ramo macro-jê ( é isso mesmo ? ou estou viajando na maionese mais uma
vez?),</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">O "travamento" a que eles se
referiam , no meu delírio "miolo-molístico" me remeteu ao nosso querido "r"
retroflexo, mas suas considerações revelam a inconsistência da minha
conjectura. </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Na verdade a minha primeira idéia sobre
esse tema veio do sotaque nordestino. Tenho avós potiguares e
cearenses , como vc. cresci num ambiente "bi-lingue". Se a
cultura "caipira" ainda tem referências presentes da cultura indígena ( meu
disco favorito do momento é "O canto da Terra" da dupla Cacique e Pajé,
conhece?), no Nordeste a presença da cultura indígena é totalmente
rejeitada. </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Meu avô Francisco, potiguar da
Chapada do Apodi, de uma família estabelecida há séculos naquela região,
era fisionômicamente um índio. Entretanto , rejeitava e se sentia mesmo
ligeiramente ofendido, se alguém fizesse referência a antepassados
indígenas. Pensei que fosse uma indiosincrasia pessoal, mas com passar
dos anos percebi que era um traço marcante da cultura "nordestina" a rejeição
total da cultura indígena. Algo que implicaria que em algum momento da
história teria descido em algum lugar do sertão nordestino uma espaçonave com
extra-terrestres de cabeça chata.</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">A negação sistemática da contribuição
indígena a nossa cultura é certamente algo com a qual vcs.
estudiosos estão acostumados ,até porque deve ser um elemento essencial
da dificuldade das pesquisas , mas para mim foi um choque. Foi
tentando ver aonde subsiste "o índio" no brasileiro de hoje , que comecei
a me interessar por esse tema. Quando os recentes estudos sobre o DNA
do brasileiro, comprovam científicamente o que nós já vemos na cara das
pessoas , me parece que esse é um tema à tratar em
arte.</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">A gente bebe mate e guaraná , fala
mil palavras em tupi-guarani , faz festas ritualizadas em qualquer
evento e acha que índios são só quem vive em aldeia... Os
indios somos nós também, não é? </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Ou seja, eu estava tentando do meu
modo meio "psicodélico" estabelecer uma certa continuidade cultural entre
os brasileiros de hoje e os povos indígenas pré-descobrimento, um
exercício que me parece fundamental para o nosso psique-nacional. Me
parece que para vencermos definitivamente o nosso complexo de vira-lata , para
que a nossa auto-estima não seja uma reflexo contra-fóbico do nosso
complexo de inferioridade, para que nos sintamos confortáveis nessa pele
"vermelha" de brasileiros , é preciso se re-encontrar com o índio, mesmo
que seja numa invenção de passado. </FONT></STRONG></DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Digo isso tudo porque , apesar
da minha "bola furada" continuarei usando o verso -línguas
mortas viram sotaques" - em uma canção (ainda inédita)
que eu fiz chamada "Viagem de Volta" ( título surrupiado
duma </FONT></STRONG><STRONG><FONT face="Arial" size="2">coletânea organizada
pelo antropólogo João Pacheco de Oliveira sobre a reelaboração cultural no
Nordeste indígena). </FONT></STRONG></DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Mas voltando ao tema , e a exploração da
sua boa vontade em ensinar um ignorante. Existem no nosso
léxico centenas de palavras a que são identificadas como originárias do
tupi-guarani , imagino que sejam as que se incorporaram a lingua-geral.
Me pergunto , e o jê? , ficou só nos toponímicos? Ou existem palavras que
usamos ainda hoje de origem jê? </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"> Agradacendo mais uma vez a sua
generosidade, </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"> um
abraço</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2">Beni</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"> </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"> </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face="Arial" size="2"></FONT></STRONG> </DIV>
<BLOCKQUOTE style="BORDER-LEFT: #000000 2px solid;">
<DIV style="FONT: 10pt arial;">----- Original Message ----- </DIV>
<DIV style="BACKGROUND: #e4e4e4;FONT: 10pt arial;"><B>From:</B> <A title="kariri@gmail.com" href="mailto:kariri@gmail.com">Eduardo Rivail
Ribeiro</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>To:</B> <A title="etnolinguistica@yahoogrupos.com.br" href="mailto:etnolinguistica@yahoogrupos.com.br">etnolinguistica@<WBR>yahoogrupos.<WBR>com.br</A>
</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>Sent:</B> Friday, November 21, 2008 6:45
PM</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial;"><B>Subject:</B> Re: [etnolinguistica] Sotaques
brasileiros</DIV>
<DIV><BR></DIV>
<DIV id="ygrp-text">
<P>Prezado Beni,<BR><BR>Obrigado por levantar este tema, de fato fascinante.
Também andei matutando <BR>a respeito e cheguei mais ou menos à conclusão de
que a raiz da diversidade <BR>dialetal do português brasileiro se deve mais
à diversidade original do <BR>português trazido para cá (que não era
homogêneo e muito menos padronizado) <BR>e às peculiaridades do povoamento
das diversas regiões do país do que a <BR>fatores de substrato (ou seja, à
influência de línguas que eram faladas <BR>antes da chegada do português).
Talvez o desenvolvimento de línguas gerais <BR>baseadas no Tupí da Costa, e
que acabaram sendo adotadas por todos os grupos <BR>étnicos que compunham a
sociedade colonial na maior parte da América <BR>portuguesa, tenha prevenido
que línguas indígenas regionais tivessem um <BR>impacto maior no português
que, mais tarde, se tornaria a língua <BR>predominante.<BR><BR>Não que eu
tenha feito uma pesquisa aprofundada do assunto, levando em <BR>consideração
todos os dialetos do português brasileiro. Meu interesse diz <BR>respeito
principalmente ao chamado "dialeto caipira" (meu dialeto nativo), <BR>que é
falado justamente em regiões colonizadas inicialmente pelos <BR>bandeirantes
paulistas. Como estes falavam, então, a Língua Geral Paulista, <BR>uma
pergunta natural seria se o dialeto caipira teria recebido uma
<BR>influência Tupí maior (quando comparado com, digamos, o português do
Rio).<BR><BR>Por exemplo, seria o chamado "r caipira" (ou seja, a pronúncia
retroflexa do <BR>"r" em posição de coda silábica), que é a característica
mais marcante (e <BR>discriminada) do português caipira, um resquício de
alguma língua indígena? <BR>Como a Língua Geral Paulista era difundida
nestas regiões, seria o suspeito <BR>ideal. Mas é bastante improvável, não
só porque o Tupí da Costa (e <BR>provavelmente suas descendentes, as línguas
gerais) não tinha tal pronúncia, <BR>mas porque uma explicação interna é
ainda mais plausível: o lingüista Brian <BR>Head, que foi professor da
Unicamp e está agora, se não me engano, em <BR>Portugal, tem um artigo
bastante interessante sobre o desenvolvimento do "r <BR>caipira" a partir de
fatores internos do próprio português. [Vou ver se <BR>encontro o artigo por
aqui, para aqueles que se interessarem.<WBR>]<BR><BR>Como tem sido
demonstrado por vários autores (por exemplo, Naro & Scherre), <BR>muitas
das características que se imaginam serem tipicamente brasileiras e <BR>até
indício de "crioulização" em alguns dialetos do português brasileiro já
<BR>ocorriam em Portugal, antes da "descoberta"<WBR>. Muitos são resultados
de <BR>tendências características no desenvolvimento das línguas românicas,
nos <BR>dois lados do Atlântico. No caso do dialeto caipira, os mesmos
fatores que <BR>favoreceram no início o uso da Língua Geral Paulista (ou
seja, isolamento, <BR>fluxo menor de imigrantes portugueses) favoreceram a
preservação de <BR>arcaísmos e o desenvolvimento de características
peculiares, longe das <BR>tendências padronizantes que porventura ocorressem
na costa e na metrópole. <BR>Em um artigo que escrevi há algum tempo sobre o
assunto, menciono uma coisa <BR>que sempre achei interessante, desde menino
(já que, como descendente de <BR>mineiros e baianos, cresci em "lar
bilingüe"): o português falado em regiões <BR>que sofreram miscigenação mais
intensa tende a ser mais próximo ao "padrão". <BR>É que regiões de fácil
acesso e economicamente prósperas (Belém e Salvador, <BR>por exemplo), que
mais necessitaram mão-de-obra indígena ou africana, foram <BR>também as que
mais atraíram um fluxo contínuo de imigrantes portugueses.<BR><BR>É claro
que, quando falo em "influências" acima, tenho em mente influências
<BR>estruturais, na fonologia, na morfologia e na sintaxe (ou, até, na
<BR>semântica). Neste aspecto, especificamente, não há nada que se possa em
<BR>definitivo atribuir a influências indígenas. O léxico, naturalmente, é
<BR>outra história. Além do número enorme de termos de origem Tupí que
<BR>sobrevivem no português falado no país inteiro, há aqueles que tendem a
ser <BR>mais comuns onde a influência cultural indígena teve um impacto
maior -- a <BR>cultura caipira sendo uma delas. Mas isto, parece-me, não é o
que vem à <BR>mente quando se fala em "sotaques diferentes".<BR><BR>No caso
do léxico, sim, acham-se exemplos de influências indígenas locais no
<BR>português de certos lugares onde índios e não índios conviveram (ou
ainda <BR>convivem). Por exemplo, em São Félix do Araguaia, não é incomum
que um não <BR>índio use palavras Karajá como kòhã 'cachaça' ou kutura
'peixe'. E me lembro <BR>de um bate-papo com Lucy Seki, maior especialista
em Krenák, em que ela <BR>mencionava o uso de palavras como curuca 'criança'
no português de áreas <BR>tradicionalmente Krenák (cf. Krenák kruk) -- se
não me falha a memória (é <BR>isso mesmo, Lucy?).<BR><BR>Bem, espero que
esta conversa não pare por aqui. Alguém saberia de exemplos <BR>de
influências exercidas por línguas regionais em certos dialetos do
<BR>português brasileiro?<BR><BR>Abraços,<BR><BR>Eduardo<BR><BR>-----
Original Message ----- <BR>From: Beni Borja - Psicotronica<BR>To: <A href="mailto:etnolinguistica%40yahoogrupos.com.br">etnolinguistica@<WBR>yahoogrupos.<WBR>com.br</A><BR>Sent:
Thursday, November 20, 2008 8:52 AM<BR>Subject: [etnolinguistica] Sotaques
brasileiros<BR><BR>Prezados Professores, Doutores e Sabidos em
geral,<BR><BR>Com a cara-de pau que a internet me faculta , me atrevo a
invadir esse <BR>espaço de doutas discussões para propor uma questão que me
aflige.<BR><BR>Sou um mero músico/ ompositor popular , leigo por completo
nas artes e <BR>manhas da etno-linguística, mas um profundo curioso sobre a
intercessão <BR>entre as linguas e a história.<BR><BR>Num colóquio etílico
recente com um amigo, discutíamos sobre os diversos <BR>sotaques do Brasil.
Inspirado por Baco fiz a temerária afirmação que os <BR>nossos diversos
sotaques regionais, tem sua gênese nas línguas indígenas <BR>faladas
naquelas regiões antes do aparecimento do português.<BR><BR>É com certeza
uma afirmação que tem a leviandade típica dos ignorantes, que <BR>despreza a
enorme complexidade da presença indígena antes da invasão <BR>portuguesa e
as dificuldades de estabelecer um nexo causal entre o português <BR>falado
hoje e as línguas faladas pelos índios.<BR><BR>Mas não obstante essas
dificuldades , teria a minha tese algum farrapo de <BR>evidência para
sustentá-la??<BR><BR>Agradecendo desde já a "ajuda dos universitários" que
por ventura receba,<BR><BR>abraços<BR><BR>Beni Borja<BR><BR><BR></P></DIV><!--End group email --></BLOCKQUOTE>
<P></P></DIV><!--End group email --></BLOCKQUOTE>
</p>
</div>
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