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<p>Para aqueles interessados em agricultura Jê, o seguinte artigo está agora disponível online (como, aliás, a coleção inteira do periódico Acta Amazonica, do INPA):<br>
<br>
Kerr, Warwick E., Darrell A. Posey & Wilson Wolter Filho. 1978. Cupá, ou cipó-babão, alimento de alguns índios amazônicos. Acta Amazonica, 8(4), p. 702-705. <br>
<a href="http://macro-je.etnolinguistica.org/item:455">http://macro-je.etnolinguistica.org/item:455</a><br>
<br>
--- Em <a href="mailto:etnolinguistica%40yahoogrupos.com.br">etnolinguistica@yahoogrupos.com.br</a>, Eduardo Ribeiro <kariri@...> escreveu<br>
><br>
> Caros colegas,<br>
> Falando ainda de plantas cultivadas, uma outra perspectiva interessante é a<br>
> possibilidade de a etnobotânica e ciências afins nos fornecerem elementos<br>
> auxiliares para a datação e localização de proto-línguas, por exemplo. Mais<br>
> uma vez, o caso do<br>
> milho<<a href="http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/message/385">http://br.groups.yahoo.com/group/etnolinguistica/message/385</a>>é<br>
> um exemplo: se palavras para 'milho' podem ser reconstruídas para o<br>
> Proto-Arawak e o Proto-Carib, como parece ter sido sugerido, e se a entrada<br>
> do milho nas terras baixas na América do Sul pode ser datada, isto ajuda a<br>
> ter-se uma idéia da profundidade temporal destas famílias. O exemplo que<br>
> apresento a seguir, de uma planta comestível cultivada pelos Jê, pode vir a<br>
> ser igualmente interessante.<br>
> Trata-se do cipó kupá, que Marília Ferreira menciona em sua tese sobre o<br>
> Parkatêjê. Eu andava desconfiado que a palavra para 'mandioca' em Jê Central<br>
> (XER *kupa*, XAV '*upa*) seria cognata desta palavra, e não da palavra para<br>
> 'mandioca' nas línguas Jê do Norte (que Davis reconstrói, com base somente<br>
> em línguas Jê do Norte, como **kwyr*). Agora, relendo a *Suma Etnológica<br>
> Brasileira *(vol. 1, Etnobiologia, 1987), encontrei uma descrição muito útil<br>
> do cipó kupá, em um artigo de Warwick E. Kerr ("Agricultura e seleções<br>
> genéticas de plantas", 159-171). Pelo visto, o *kupá* tem mesmo várias<br>
> semelhanças com a mandioca, o que corrobora a hipótese de que as palavras<br>
> para 'mandioca' em Xerente e Xavante têm a mesma origem que as palavras que,<br>
> nas línguas Jê do Norte, designam o cipó kupá.<br>
> *Descrição do kupá. *Como talvez seja do interesse de outros membros do<br>
> grupo, transcrevo integralmente abaixo o trecho do artigo que trata do cipó<br>
> cupá. Uma fotografia desta planta, extraída do artigo de Kerr, pode ser<br>
> vista em <a href="http://www.geocities.com/macroje/kupa.jpg.">http://www.geocities.com/macroje/kupa.jpg.</a><br>
> <br>
> > [p. 169]<br>
> > "*Cupá *(*Cissus gongylodes* Burch, ex-Baker)<br>
> > O cupá é um cipó da família *Vitaceae* que deve ter sido domesticado há<br>
> > no máximo 1.000 anos, uma vez que é conhecido por muito poucas tribos<br>
> > (Kayapó, Xerente e Timbíra). Nimuendaju (1946), primeiro antropólogo a<br>
> > descrevê-lo entre os Timbíra, bem como Arnaud (1976), acreditam que se trata<br>
> > de uma planta tradicional dos grupos Jê setentrionais. A variedade selvagem<br>
> > alcança no máximo 1cm de diâmetro enquanto que a melhorada pelos índios<br>
> > chega a ter 8cm. É uma verdadeira mandioca arbórea, plantada igualmente por<br>
> > meio de manivas (Kerr et alii 1978). Os Kayapó cultivam três variedades: o<br>
> > cupá branco (cupá jaca) que é o mais grosso (fig. 9<<a href="http://www.geocities.com/macroje/kupa.jpg">http://www.geocities.com/macroje/kupa.jpg</a>>),<br>
> > o amarelo (*kupá ngrâ ñicá*) e o de casca vermelha (*kupá kamrek*).<br>
> > Enterram a maniva verticalmente numa extensão de 20cm, deixando outro tanto<br>
> > para fora, geralmente encostado numa árvore.<br>
> > [p.170]<br>
> > Consomem-no assado ou cozido, mas somente os velhos, porque os jovens<br>
> > crêem que ficariam com a pele enrugada como a casa do cupá. Esta compreende<br>
> > 35% do tubérculo que tem gosto de macaxeira. A umidade do âmago (parte<br>
> > comestível) é de 73% a 77%. Contém 1,2% de proteína, 18% de carbohidratos e<br>
> > 1% de gordura.<br>
> > Cupá significa matar, em língua Kayapó. Os índios afirmam que o cupá mata<br>
> > as árvores sobre as quais sobe, uma vez que produz uma folhagem espessa que<br>
> > as cobre por inteiro. Ao derrubarem uma roça deixam alguns pés junto aos<br>
> > quais plantam o cupá."<br>
> ><br>
> *Nimuendaju e o kupá.* Curt Nimuendaju é provavelmente o autor que mais<br>
> enfatiza a importância cultural do kupá entre vários povos Jê. Eis o que ele<br>
> diz, em *The Eastern Timbira* (1946, p. 59):<br>
> <br>
> > "Ethnographically, however, the kupá is the most important of Timbira<br>
> > cultivated species. This creeper ( *Cissus *sp.) has starchy tendrils,<br>
> > which attain the thickness of an inch and are baked in earth ovens. It does<br>
> > not occur wild; is restricted, so far as my information goes, to the Eastern<br>
> > and Western Timbira and the Šerénte, all of them Gê tribes; and is<br>
> > pronouncedly xerophil. Accordingly, it is probably a very old cultivated<br>
> > species peculiar to these tribes, which could not have borrowed it from<br>
> > either Neobrazilians or any of their present Indian neighbors."<br>
> <br>
> [A informação de Kerr sugere que variedades selvagens do *kupá* de fato<br>
> existem, ao contrário do que Nimuendaju parece sugerir na passagem acima.]<br>
> Mas o que é importante aqui é o quanto este cipó parece ser importante na<br>
> agricultura [de pelo menos grande parte] dos Jê do Norte (e pelo menos parte<br>
> dos Jê Centrais). Além dos Timbira Orientais, dos Xerente e dos Kayapó, o *<br>
> kupá* parece ter ocorrido também entre os Apinajé, segundo Nimuendaju ( *Os<br>
> Apinajé*, 1983, p.69), se bem que seu plantio estaria aparentemente em<br>
> desuso já então:<br>
> <br>
> > "A antiga e típica planta de cultivo dos Timbíra, Kayapó e Xerénte, a *<br>
> > kupá* (*Cissus sp.*), hoje só excepcionalmente é cultivada."<br>
> <br>
> As implicações disto para o estudo lingüístico comparativo são<br>
> interessantes. Se a palavra ocorre, como parece ser o caso, em línguas Jê<br>
> Centrais e Jê Setentrionais (que, juntas, formam um subgrupo dentro da<br>
> família Jê, o Jê Amazônico*), seria possivelmente reconstruível para o<br>
> Proto-Jê Amazônico. E se esta é uma planta restrita aos Jê Setentrionais e<br>
> Centrais, é possível que tenha sido domesticada exatamente pelos falantes de<br>
> Proto-Jê Amazônico. Se é possível datar-se, de maneira aproximada, a<br>
> domesticação de plantas e determinar-se o provável local de domesticação,<br>
> isto poderia fornecer subsídios interessantes para a datação e localização<br>
> dos falantes de Proto-Jê Amazônico.<br>
> A estimativa de Kerr ("deve ter sido domesticado há no máximo 1.000 anos")<br>
> seria razoavelmente consistente com as estimativas de Urban quanto à<br>
> separação entre Jê Central e do Norte (Greg Urban, 'A história da cultura<br>
> brasileira segundo as línguas nativas'. In *História dos Índios no<br>
> Brasil*(org. por Manuela Carneiro da Cunha, 1998. 2a. edição, p.<br>
> 87-102).<br>
> Alguém saberia se esta planta é cultivada por outros povos indígenas?<br>
> Alguém poderia me informar onde obter informações adicionais sobre sua<br>
> distribuição (tanto das variedades cultivadas, quanto das selvagens)? Como<br>
> seria designado o cipó kupá em Xerente? Ocorreria também entre os Xavante?<br>
> Ocorreria entre outros povos Jê Setentrionais, como os Panará e Suyá?<br>
> Desde já, muito obrigado por qualquer contribuição.<br>
> Abraços,<br>
> Eduardo<br>
> *'Amazônico' aqui, naturalmente, refere-se à localização atual dos povos de<br>
> línguas Jê Setentrionais e Centrais, cujos territórios em sua maioria<br>
> encontram-se em áreas banhadas por rios da Bacia Amazônica. Não se refere,<br>
> naturalmente, a sua localização original, que é exatamente o que se está<br>
> tentando determinar com precisão.<br>
> **Uma outra possibilidade é que o termo **kupa* teria se referido<br>
> originalmente à mandioca, sendo aplicado posteriormente para se referir ao<br>
> cipó kupá. Para ajudar a resolver esta questão, seria interessante saber<br>
> como se chamaria o cipó kupá em Xerente (e, quem sabe, em Xavante). Eu não<br>
> tenho aqui comigo, infelizmente, o livro *The Serente*, de Nimuendaju (onde<br>
> é possível que ele mencione este termo).<br>
> -----------<br>
> Eduardo Rivail Ribeiro<br>
> Museu Antropológico, Universidade Federal de Goiás<br>
> Grupo de Pesquisa "Estudos Histórico-Comparativos Macro-Jê"<br>
><br>
<br>
</p>
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