[etnolinguistica] Resumindo mesmo
Andres P Salanova
kaitire at MIT.EDU
Fri Feb 7 16:56:26 UTC 2003
Nao quero ficar batendo em cachorro morto, mas acho que a discussao
que tivemos nos ultimos dias foi bastante instrutiva. Vou resumir os
argumentos, ja que talvez desta forma sejam possiveis outras
discussoes sobre o assunto mais adiante.
(1) Eduardo acredita que os prefixos relacionais serviriam para
demonstrar uma relac,ao entre Je, Tupi, Karib e uma serie de outras
linguas tradicionalmente consideradas como sendo aparentadas a familia
Je.
(2) Nas linguas Tupi (e, repito, so me baseio no paradigma Tupinamba
que Eduardo apresentou), aparentemente ha evidencias de que os
relacionais realmente sao prefixos, ja que existem as formas r-oka,
s-oka e oka.
(3) Nao existe praticamente nenhuma evidencia para a existencia de
prefixos relacionais em dois dos tres ramos da familia Je sobre os que
temos informac,oes, nem na maioria das linguas consideradas Macro-Je.
(4) Uma serie de artigos de titulo "Os prefixos relacionais em X",
onde X e uma das linguas Je setentrionais, defendem a existencia de
prefixos relacionais no ramo setentrional da familia Je.
(5) Estes prefixos relacionais diferem do paradigma Tupinamba, pois
nao contrastam com uma forma de citac,ao. Isto e minimizado por
Eduardo, mas nao e trivial, do meu ponto de vista: se nao ha um
prefixo que sirva para indicar a contiguidade do objeto, entao nao ha
"prefixo relacional", ha apenas uma semelhanc,a superficial entre os
prefixos relacionais e alguma outra coisa.
(6) Com base em uma serie de fatos do Mebengokre, defendo que o
apagamento dos ditos "prefixos relacionais" nao passa de um reflexo da
flexao de pessoa, e adicionalmente que eles devem ser considerados
parte do radical (i.e., que nao existe a categoria morfologica
"relacional"). Fac,o duas apostas com o Eduardo, e ele responde me
mandando ler os seus artigos. (Ja tinha lido o seu artigo sobre prefixos
relacionais; a verdade e que nao aporta nenhuma novidade, tendo lido
ja quatro ou cinco artigos da serie "Os relacionais em X"). Outrossim, nao
entendo porque a gente nao pode discutir por emelho. Voce nao responde
perguntas quando vai a congressos?
(7) As convicc,oes historicistas de Eduardo o levam a descartar
qualquer analise baseada em evidencias sincronicas se ela nao calha
com "evidencias" diacronicas (note-se que eu ofereci nao so
evidencias estruturais, senao ir ao campo fazer um experimento). As
evidencias diacronicas de Eduardo, como mencionei acima, so sao
evidencias com muita boa vontade, com a possivel excec,ao dos artigos
escritos sobre os relacionais de X, para X={linguas Je setentrionais}.
(8) Uma serie de considerac,oes sobre o que faz que uma analise
lingu:istica seja melhor do que outra poderiam ser intercaladas aqui,
mas provavelmente elas nao vem ao caso, pois me disponho a aceitar o
desafio de mostrar que, mesmo levando em conta os artigos mencionados, nao
ha evidencias independentes para se falar em relacionais na familia Je.
(Veja bem, nao ha problema em insistir na hipotese Macro-Je+Tupi+Karib,
mmesmo apos o dito aqui; mas tenho certeza que se as evidencias vao ser
tao superficiais quanto esta, voce vai encontrar evidencias para
agrupamentos muito maiores).
(9) Tudo bem, entao. Quando entrei na discussao, nao tinha me dado
conta que a coisa era tao facil. Como suas unicas evidencias provem do
Mebengokre, Suya, Panara, Apinaye e Timbira, basta estender a nossa
analise do Mebengokre a estas linguas, e constatar se em cada uma
delas ela e muito superior a analise que lanc,a mao dos prefixos
relacionais, seja por criterios estruturais, experimentais ou
conceituais, como mantenho que ela e para o Mebengokre. O criterio
diacronico nao vai ter o menor valor neste caso, pois ficaria
demonstrado que a familia Je e livre de "relacionais" verdadeiros.
Obviamente eu nao posso fazer isto so, pois nao conhec,o as linguas nem
tenho acesso a elas. Mas proponho o seguinte aqueles colegas que tenham
compromisso com a verdade: fac,am um experimento informal que consista em
apresentar aos falantes logatomas inalienaveis (ou que representem verbos
ou alguma outra palavra flexionavel) comec,ados na consoante que e
chamada de "prefixo relacional marcador de contiguidade". Pago a cerveja
de quem encontrar que essa consoante se mantem estavel em todo o
paradigma flexional. Depois podemos discutir os resultados.
(10) Finalmente, Eduardo mantem que nao levo em considerac,ao os
trabalhos dos colegas por teimosia. Muito pelo contrario; a visao que os
trabalhos sobre "Os relacionais em X" expressam e a minha propria ate o
momento que me convenci do contrario (a nova ideia nem foi minha; foi
sugerida a mim pela Malu Braga). Me convenci porque achei argumentos
convincentes. Ate falei muito claramente o que considero um
contraargumento, e o aceito, quando ele e bem formulado. O que eu acho
desprezo, ou melhor dizendo, uma verdadeira vergonha, e que tenham sido
publicados artigos sobre os "Relacionais em X" (onde X e uma lingua Je
setentrional) apos a publicac,ao do nosso artigo, e que estes nao tentem
responder a um so dos argumentos apresentados nele para defender a nossa
analise. Isto evidentemente nao e porque o nosso artigo "nao esta
disponivel no Brasil", pois eu sempre dei todos os meus manuscritos a
quanto colega quisesse ler, e muitos no Brasil tem a versao que apareceu
no livro do CNWS. Os motivos para ignora-lo sao outros, mas isto nao vem
ao caso. Como eu acho que na ciencia a voz que prevalece so pode ser a de
quem tem melhores argumentos, e nao a da maioria, vou continuar enchendo
o saco de quem abrac,a uma hipotese obviamente falha apenas por ter a
fantasia de mostrar relac,oes geneticas de longo alcance.
Saudac,oes a todos,
Andres
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