=?x-user-defined?Q?RE=3A_=5Betnolinguistica=5D_Sobre_o_=27marc?= =?x-user-defined?Q?ador_de_posse_alien=E1vel=27_em_J=EA?=

Meira, S. S.Meira at LET.LEIDENUNIV.NL
Fri Jan 31 10:51:23 UTC 2003


Prezado Eduardo,
 
Em línguas Karíb, os alomorfes do reflexivo/recíproco
são apenas parcialmente condicionados pelo ambiente;
os detalhes dependem da língua (e há línguas com maior
e menor regularidade, embora não haja línguas com perfeita
regularidade). Em Tiriyó, por exemplo, ë- ocorre em raizes
que começam com /e/ (p.ex. /ene/ 'ver, olhar', /ë-ene/ 'ser visto,
aparecer, tb. olhar para si mesmo (no espelho) / olhar um para
o outro'), ëës- ocorre em raízes começadas por /j/ (glide palatal)
(p.ex. /joorë/ 'speak agressively to', /ëës-oorë/ 'speak agressively
(in general), say swearwords", ët- ou at- (imprevisivelmente)
com raízes começadas por /a/, /u/, ou /o/ (e.g. /apotoma/ 'ajudar',
/ët-apotoma/ 'ajudar-se, tb. receber ajuda'; /akoronma/ 'acompanhar',
/at-akoronma/ 'acompanhar-se'; /omamï/ 'enterrar, esconder', /ët-omamï/ 
'enterrar-se, esconder'), ëi- ou e- (imprevisivelmente;
às vezes, em variação livre) com raízes começadas por consoante
(e.g. /panama/ 'virar (p.ex. para a esquerda ou para a direita)', /e-
panama/ ~ /ëi-panama/ 'virar-se, girar'). 
 
A minha impressão é que esses morfemas são cognatos
com o Tupí-Guaraní /je-/, /jo-/: em certas formas verbais nominalizadas,
os prefixos e-, es-, et-, o-, os-, ot- (em Tiriyó, o-, os-, ot- ocorre como
ë-,
ës-, ët-, já que o /o/ passou a chuá nesses casos) tomam um /w/: we-, wes-,
wet-, wo-,
wos-, wot-, que me parece um possível cognato com o Tupi-Guarani
/j/; o Aryon já mencionava esses detalhes, en passant, no seu
trabalhinho sobre Karíb e Tupí. Acho que a distinção entre 'reflexivo'
e 'recíproco' foi simplesmente perdida, e que dois prefixos independentes
acabaram se confundindo. Em alguns casos, sobreviveu um dos
prefixos, em outros casos ainda permanece a variação livre.
 
Abraços,
 
Sérgio

-----Original Message-----
From: Eduardo Rivail Ribeiro [mailto:erribeir at midway.uchicago.edu]
Sent: woensdag 29 januari 2003 20:40
To: Etnolingüística
Subject: Re: [etnolinguistica] Sobre o 'marcador de posse alienável' em Jê


Prezado Sérgio,
Obrigado por sua mensagem.  Como eu havia dito, este e- inicial não é
sincronicamente segmentável, sendo parte da raiz. Talvez o estudo
comparativo comprove a intuição inicial de que e-, nestes casos, seja
cognato do Jê nh-iN, mas, internamente, não há evidências para a
independência do formativo (?) e- (exceto a óbvia similaridade semântica
entre as raízes começadas por esta vogal).
Só por curiosidade: qual seria a distribuição dos diferentes alomorfes (e-,
et-, es-, por exemplo) destes morfemas a que você se refere?
Abraço,
Eduardo
 

não posso deixar de mencionar o fato de que reflexivos/médios/passivos
formados
atraves de uma vogal/prefixo/elemento formativo "e" são comuns fora da
família
Macro-Jê. Em línguas Tupi-Guarani, encontram-se os famosos "je-" e "jo-",
usados
para formar verbos reflexivos e recíprocos, respectivamente; em línguas
Karíb, 
aparecem prefixos com a forma e-, et-, es-, a-, at-, as-, o-, ot-, os- em
distribuição
quase complementar. Só por curiosidade: as raízes acima têm equivalentes
transitivas? E sem o e- inicial?
 
Sérgio 


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