[etnolinguistica] Resposta as questoes sobre educacao indigena
Daniel Everett
dan.everett at MAN.AC.UK
Thu Jul 3 04:04:19 UTC 2003
Gente,
Gostei de ler a colocacao da Luciana e da Filomena. Duas perguntas me
ocorrem em relacao ao seu documento.
A primeira e 'Onde e como vao ser treinados os assessores?' Ou seja,
como guarantir a sua competencia linguistica, dentro do quadro
sugerido no documento enviado pelas duas candidatas? Suponho que vai
ter assessores locais ou pelo menos por areas relativamente pequenas,
uma vez que este tipo de 'controle de qualidade' nao se deve
centralizar muito. Na minha experiencia, e muito dificil ensinar o
conceito do fonema a alunos bons, sejam brasileiros, norteamericano ou
ingleses (por incrivel que pareca para linguistas profissionais). Ate
varios colegas foneticistas tem problemas com o conceito e ate negam a
existencia do fonema. (De fato a existencia do fonema foi negado
recentemente pelo moderador da lista FUNKNET, nos EUA.) Uma vez que ou
o fonema ou algo semelhante (tal como 'saida de processos lexicais' ou,
em novas propostas do Kiparsky na OT, 'restricoes sobres raizes') e
fundamental para a alfabetizacao, ao meu ver, e acho que deve haver um
mecanismo para avaliar o conhecimento basico dos assessores locais
neste respeito.
A segunda pergunta se preocupa um pouco com as ideias
educacionais/teoria da educacao. Ora, Ken Hale foi amigo de muitas
pessoas e ate eu ja publiquei lembrancas sobre a sua contribuicao a
linguistica na revista Linguistic Typology (e no meu website). Mas
gostaria de saber algo mais do que as sugestoes relativamente banais do
Hale em relacao a ortografia e a valorizacao da lingua indigena. Ja que
nao sou especialista na area de educacao, gostaria de saber como a
Luciana e a Filomena pensam em integrar as suas excelentes ideias
linguisticas, embora basicas, com propostas concretas de educacao na
area de alfabetizacao. Como guarantir qualidade nas duas areas do
assessor - a linguistica e a educacional?
Uma terceira questao se levanta, mas nao em relacao ao documento da
Luciana e da Filomena, e uma questao geral. Ja tentei varias vezes, em
varias aldeias, desenvolver um interesse entre os pirahas em ler e
escrever a sua lingua. Eles rejeitam a propria ideia e dizem que a sua
lingua nao deve ser escrito (pelo menos alguns). Como deixar os
proprios falantes tomar a sua propria decisao? Parece-me que ha pelo
menos duas condicoes a serem satisfeitas para poder honrar/avaliar as
ideias da comunidade: (i) alguem entre 'a equipe assessorial' tem que
falar a lingua (falar bem) deles porque, como linguistas, sabemos que
isso facilitara a comunicacao clara e reduzira o des-equilibrio de
poder inerente entre o falante nativo de portugues e o da lingua
indigena; (ii) alguem tera de ter alguma maneira de verificar se a
comunidade entende a natureza da alfabetizacao e as consequencias de
aceitar ou rejeita-la na sua comunidade.
Eu coloco estas perguntas somente para estimular discussao e de me
informar. Nao sou especialista da area, embora como os demais colegas
desta lista, faco parte de uma plateia muito interessada.
Abracos,
Daniel
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Daniel L. Everett
Professor of Phonetics and Phonology
Department of Linguistics
The University of Manchester
Oxford Road
Manchester, UK M13 9PL
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