Imprensa: "Línguas indígenas são oficializadas no Amazonas"

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Tue Apr 25 04:40:30 UTC 2006


 *Línguas indígenas são oficializadas no Amazonas
*
(Ionice Lorenzoni, Assessoria de Comunicação do MEC)

O município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, o maior do país, será o
primeiro a oficializar a prática das línguas indígenas tucano, nheengatu e
baniua nos meios de comunicação, serviços públicos, escolas, placas de
sinalização, comércio e serviços bancários

A adoção dos idiomas está na Lei Municipal nº 145, de 2002.

Para regulamentar a lei, as entidades indígenas do município, Instituto de
Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (Ipol), Instituto
Socioambiental, Câmara de Vereadores, Secretaria de Educação do Amazonas,
Fundação Nacional do Índio (Funai) e Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), entre outras instituições, realizam na cidade o seminário Política
Lingüística, Gestão do Conhecimento e Tradução Cultural, na maloca da
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), de domingo, dia
23, até quarta-feira, 26.

De acordo com o diretor do Ipol, Gilvan Müller de Oliveira, a regulamentação
da lei determinará como os serviços públicos e privados devem ser oferecidos
nas línguas indígenas.

Haverá mudanças em todas as áreas, especialmente nos serviços públicos
municipais. O cumprimento da lei não será difícil, segundo Müller, pois 97%
dos 45 mil habitantes do município são indígenas.

A iniciativa de São Gabriel da Cachoeira, na avaliação do diretor do Ipol,
indica que no Brasil o caminho da oficialização das línguas indígenas deve
se expandir além do âmbito municipal.

O país tem cerca de 200 línguas, a maioria falada em um município ou região,
nunca na área total do estado.

Com a aprovação da lei, o curso de magistério para 315 professores indígenas
de 14 povos, iniciado em 2006, já é ministrado nas três línguas e em
português.

Em julho próximo, terá início o primeiro curso de graduação da futura
Universidade dos Povos Indígenas.

O curso de licenciatura em política educacional e desenvolvimento
comunitário será oferecido pela Ufam em parceria com o Ipol e a Foirn.

Será o primeiro de uma universidade pública, nas aldeias, ministrado em
línguas indígenas, com o português como língua auxiliar.

As aulas serão ministradas em Cucuí, no Rio Negro; Taracuá, no Rio Uaupés; e
Tunuí ou Assunção, no Rio Içana.

Município com 112 mil km², São Gabriel da Cachoeira tem área maior que
Portugal. No Brasil, supera estados como Pernambuco, Espírito Santo, Santa
Catarina, Alagoas, Sergipe e Paraíba. Faz divisa com Venezuela e Colômbia.

Caracteriza-se pelo plurilingüísmo: tem 25 línguas indígenas de cinco
troncos. A maioria dos povos fala, além da sua língua materna, o tucano, o
nheengatu e o baniua.

Dados do Censo Escolar de 2005 indicam que o município tem dez mil alunos
indígenas em classes da educação infantil ao ensino médio, 208 escolas e 640
professores, todos indígenas.

[Publicado no JC e-mail 3001, de 24 de abril de 2006]

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