"Bonecas de cerâmica dos índios Carajá
Victor Petrucci
vicpetru at HOTMAIL.COM
Fri Apr 28 10:09:33 UTC 2006
Caros Amigos
Para quem se interessa pelo tema, há também uma pequena e rara separata da
Universidade do Brasil - Museu Nacional de autoria de L. de Castro Faria
(M.N.-RJ) datada de 1959, 15p + 19 lâminas com fotos, intitulada "A Figura
Humana na Arte dos Índios Karajá".
Um abraço a todos
Victor A. Petrucci
Campinas - Brasil
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>Subject: [etnolinguistica] Imprensa: "Bonecas de cerâmica revelam
>patrimônio imaterial dos Karajá"
>Date: Sun, 23 Apr 2006 21:30:25 -0400
>
> Publicado em *ComCiência <http://www.comciencia.br/comciencia/?>*
>(Revista
>Eletrônica de Jornalismo Científico)
>----------------------
>
>*Bonecas de cerâmica revelam patrimônio imaterial dos Karajá
>*
>Por Zulmara Carvalho
>20/04/2006
>
>Aos cinco anos de idade, a menina Karajá ganha uma família de bonecas de
>cerâmica. Em uma sociedade ocidental, o conjunto seria como o "primeiro
>material didático". Mas para os Karajá, esses artefatos vão além disso e
>preparam a criança para realizar a passagem do mundo infantil para o
>adulto,
>transmitindo os valores e costumes da tribo. A percepção do papel desses
>objetos na sociedade Karajá só foi possível a partir da visão inovadora da
>pesquisa da antropóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia (
>MAE<http://www.comciencia.br/comciencia/www.mae.usp.br>)
>da USP, Sandra Lacerda Campos. Em seu trabalho, a pesquisadora defende que
>a
>análise dessas peças, a partir das pinturas e adereços nelas contidos,
>revela diferentes aspectos da organização cultural, uma vez que simbolizam
>os diversos planos da visão de mundo desse grupo.
>
>O povo Karajá, que é o único a produzir bonecas em cerâmica no Brasil,
>pertence a uma nação de língua macro-jê e vive no Parque Nacional do
>Araguaia, às margens do rio que deu nome à reserva indígena. Até Campos se
>questionar sobre a forma de circulação das bonecas na própria cultura
>Karajá, elas eram consideradas pelos museólogos como meros artefatos
>lúdicos.
>
>A antropóloga partiu de um levantamento do repertório dos motivos gráficos,
>da pintura, das incisões e dos adereços presentes nas bonecas e associou-os
>aos motivos impressos na pintura corporal indígena Karajá. Dessa forma,
>pode
>compreender a representação simbólica dos vários planos da cosmologia dessa
>cultura e de que forma ela é transmitida às crianças por meio desse
>artefato.
>
>Campos explica que a partir da análise de uma família de bonecas é possível
>perceber nove fases da vida de um indivíduo Karajá, seis delas apenas na
>infância: a criança recém nascida; o bebê de colo; quando pode sentar-se;
>engatinhar, andar e quando entra na "idade escolar". "O recém nascido, por
>exemplo, recebe um banho de urucum para extrair o cheiro do parto. Esse
>costume é ensinado para as crianças porque no conjunto de bonecas, há uma
>pequena que é toda vermelha", esclarece a antropóloga. Além disso, na
>pintura corporal Karajá são representadas todas as informações sobre o
>indivíduo: idade, estado civil, função na tribo e talento. "As crianças
>aprendem a identificar todas essas informações na iconografia das bonecas -
>diz Campos - É possível identificar quais mulheres são artesãs e/ou
>dançarinas, por exemplo". Entre as bonecas, também há representação de
>indivíduos velhos, arquedos ou com os seios caídos. Segundo Campos, os
>Karajá também preparam as crianças para a velhice mostrando que essa é
>apenas mais uma fase da vida.
>
>Até o período da iniciação - passagem do mundo infantil para o mundo adulto
>- não há distinção entre meninos e meninas na tribo. Nessa fase, as
>crianças
>apenas brincam e aprendem. Aos 5 anos, elas entram em 'idade escolar', e as
>meninas ganham um conjunto de bonecas de cerâmica, com as quais aprendem os
>costumes e valores da tribo. Os meninos, por sua vez, apreendem essa
>simbologia pelo contato com as meninas.
>
>DESDOBRAMENTOS DO CONTATO
>
>A pesquisa sobre a interpretação do patrimônio imaterial do grupo Karajá, a
>partir de suas bonecas de cerâmica, surgiu de uma cena de bastidores: ao
>realizar a re-documentação das coleções Karajá do acervo do MAE - que é um
>dos maiores e mais antigos do Brasil, composto por cerca de quatro mil
>peças
>- Campos encontrou uma boneca de pano, trajada com cinco saias e um lenço
>preto na cabeça, que estava registrada como pertencente a esse grupo
>indígena. Após a confirmação de que era um artefato Karajá, apesar do
>material utilizado para confecção ser diferente do usual, ficou clara para
>Campos a influência do contato com a sociedade ocidental - tópico também
>explorado na pesquisa.
>
>Além das manifestações culturais de um povo passarem por processos
>dinâmicos, mesmo sem o contato com outra sociedade, o estudo das coleções
>do
>MAE mostra que a produção artesanal Karajá vem sofrendo transformações em
>sua tipologia e em seus padrões de confecção desde o estabelecimento da
>relação com os ibéricos. Segundo Campos, nas bonecas antigas, por exemplo,
>as formas são roliças e os cabelos são moldados com cera de abelha. Na
>produção moderna, as bonecas ganham braços, pernas alongadas e detalhes que
>dispensaram o uso da cera de abelha. Contudo, os motivos gráficos e os
>adornos se mantêm fiéis aos tradicionais.
>
>Atualmente, para fins comerciais, as artesãs produzem peças que reproduzem
>o
>cotidiano, principalmente a rotina diária: processamento da mandioca
>(atividade feminina) ou caça e pesca (atividade masculina). Nas bonecas são
>aplicados os padrões ornamentais, que seguem os mesmos utilizados na
>pintura
>corporal, incluindo a marca tribal omarury (mito sol/lua) em seus rostos.
>Contudo, "possivelmente em função de sua experiência inicial com os
>ibéricos, os Karajá possuem seus 'segredos' e - na direção de preservar a
>sua identidade - produzem bonecas diferenciadas para circularem na aldeia.
>Essas são mais parecidas com as antigas, que têm como característica a
>ausência dos braços", explica Campos. É nesse contexto que a pesquisadora
>defende que a confecção das bonecas expressa, além das relações entre
>inovação e tradição na produção da variação e da dinâmica culturais, a
>adaptação aos parâmetros econômicos locais.
>
>As bonecas exibem "profundas preocupações estéticas, ao mesmo tempo em que
>concilia traços de representações de ordem histórica, social e cultural",
>argumenta Campos. Além disso, "os motivos reproduzidos tanto nas bonecas,
>quanto na cestaria, na cerâmica e na pintura corporal representam um
>reflexo
>da concepção de si próprios quanto indivíduos ou grupo", completa a
>pesquisadora.
>
>"Muitos argumentam que índio não é mais índio porque usa roupa e telefone
>celular. Isso não é verdade.", defende Campos. Em contato com a civilização
>ocidental desde a época das expedições bandeirantes, o povo Karajá mantém
>sua identidade cultural por um método eficaz: educação.
>
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