Amazônia antiga era urbana

Felippe Jorge Kopanakis kopanakisgrego at YAHOO.COM.BR
Fri Aug 29 22:01:04 UTC 2008


29/08/2008 - 11h08

				Amazônia antiga era urbana

				Por Redação Agência Fapesp
			
					  
		
	

Agência FAPESP – Não são exatamente as cidades perdidas que há
tempos cientistas e exploradores tentam encontrar na Amazônia, mas a
descoberta impressiona. São antigos assentamentos, hoje quase
totalmente escondidos pela floresta, que constituíram há séculos
estruturas grandes e complexas o bastante para serem chamadas de
urbanas.

Segundo estudo publicado na edição desta sexta-feira
(29), da revista Science, antes da chegada dos colonizadores europeus a
bacia do rio Amazonas era um local bem diferente, com comunidades que
reuniam mais de 5 mil indivíduos.

Em torno dos assentamentos
foram encontrados sinais de represas e lagos artificiais que indicam
que os habitantes criavam peixes próximo às suas moradias. Também foram
identificadas remanescentes de áreas cultivadas.

A pesquisa foi
feita por pesquisadores brasileiros e norte-americanos. Um dos autores
é Afukaka Kuikuro, da Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu e
descendente dos habitantes originais dos assentamentos.

“Se
analisarmos as vilas medievais médias ou as pólis gregas, veremos que a
maioria tinha uma escala semelhante à que era encontrada na Floresta
Amazônica”, disse Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida, um
dos autores do estudo.

O trabalho também aponta que o tamanho e
a escala dos assentamentos no sul da Amazônia implicam que áreas que
muitos cientistas consideravam como florestas tropicais virgens foram,
na realidade, grandemente influenciadas pela atividade humana.

A
pesquisa aponta que os assentamentos eram formados por redes de vilas
muradas maiores (de cerca de 600 km²) e vilarejos, cada uma organizada
em torno de uma praça central onde eram conduzidos rituais.

Tais
estruturas urbanas pré-descobrimento, afirmam, podem auxiliar no
desenvolvimento de soluções futuras para a população indígena em outras
regiões da Amazônia e no Mato Grosso. “Algumas das práticas que esses
antigos habitantes utilizavam podem ajudar a desenvolver formas de
implantar soluções de desenvolvimento sustentável”, disse Heckenberger.

Os
assentamentos agora analisados, cuja descoberta foi anunciada em outro
artigo publicado na Science em 2003, foram formados entre 1250 e 1650,
tendo desaparecido ao entrar em contato com doenças trazidas pelos
colonizadores europeus.

Apesar de quase totalmente extintas, as
antigas comunidades guardam características transmitidas oralmente
pelos Kuikuro. Os pesquisadores levaram mais de uma década para
identificar e mapear as comunidades antigas com o auxílio dos Kuikuro e
de satélites e GPS.

As antigas comunidades não tinham os
tamanhos das maiores vilas medievais européias, mas os cientistas
verificaram que elas contavam com grandes muros, construídos a partir
de trabalhos feitos na terra que permanecem.

Os assentamentos
tinham também uma estrada principal semelhante, sempre orientada do
nordeste ao sudoeste de modo a seguir o solstício de verão e conectada
à praça central. “Não são cidades, mas se trata de urbanismo,
construído em torno de vilas”, disse Heckenberger.

A pesquisa
destaca que parte da Amazônia virgem não é tão virgem assim, uma vez
que conta com uma história de atividade humana. “Isso derruba modelos
que sugerem que estamos olhando para uma biodiversidade original”,
disse Heckenberger.

Participaram do estudo pesquisadores do
Museu Paraense Emílio Goeldi e do Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

O artigo Pre-Columbian urbanism,
anthropogenic landscapes, and the future of the Amazon, de Michael
Heckenberger, Afukaka Kuikuro e outros, pode ser lido por assinantes da
Science em http://www.sciencemag.org.
 
	 
	
	








	


	
	


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