TCC

Wilmar R. D'Angelis dangelis at UNICAMP.BR
Sun May 17 12:05:50 UTC 2009


Caro amigo,

vou dar duas ou três informações que te podem ser úteis, mas em uma lista
de discussão como essa, de caráter eminentemente acadêmico, não me parece
de bom tom manter um anonimato.
A informação que te pode ser útil é:
- no Sul do Brasil nunca se falou Nheengatu. Nheengatu foi um termo
surgido no século XIX para designar a Língua Geral da Amazônia, de base
Tupinambá do Maranhão, introduzida pelos portugueses ao longo da calha do
Amazonas e Rio Negro nos séculos XVII e XVII e que sobrevive, viva, ainda
lá.
- de forma algo semelhante, algo distinta, houve uma Língua Geral do Sul,
um Tupi paulista ou "Tupi Austral" (como o designou von Martius, embora o
termo, no caso dele, tenha conotação mais ampla), a partir do uso dos
bandeirantes sobretudo (mas também os jesuítas) e descendentes paulistas,
e que desapareceu no início do século XIX. Sobre ele há um artigo
fundamental de Sérgio Buarque de Hollanda, inserido na obra "Leituras de
Etnologia Brasileira", organizada por Egon Schaden (Cia Editora Nacional.
1976).
- Sobre as línguas gerais você encontrará um capítulo do professor Aryon
Rodrigues, na obra dele "Línguas brasileiras. Para o estudo das línguas
indígenas" (Ed. Loyola).
- Obviamente as duas línguas gerais são muito semelhantes, em muitas
coisas, e outras tantas se assemelharam ao longo dos séculos. Por exemplo,
no Nheengatu a vogal alta posterior não-arredondada típica das línguas
Tupi, em geral grafada com "y", desaparece por completo, porque foi uma
língua difundida por muito tempo por falantes não-nativos de Tupinambá,
isto é, por portuguêses, que converteram essa vogal em "i" (parece que,
algumas vezes, em "u"). Na toponímia do Sul, muitos nomes mostram as
mesmas "simplificações" (adaptações à fonologia do Português), seja porque
foram anotadas, adotadas e difundidas por portugueses, seja porque o
passar dos anos e o desaparecimento dos falantes da Língua Geral fez com
que os que vieram depois lessem aqueles registros com sua pronúncia, seja
porque os próprios falantes da Língua Geral fossem, a cada nova geração,
mais bilíngües, o que implicava em maiores "influências" de uma língua na
outra. Assim, "uba-tyb-a" deu "Ubatuba", enquanto "itá-tyb-a" deu
"Itatiba".
- E uma vez que você está em Curitiba, é fundamental que leia o primoroso
texto do Prof. Aryon Rodrigues sobre "O nome Curitiba", publicado no
Boletim Informativo da Casa Romário Martins, vol. 21, n. 105 (1995):
"Curitiba. Origens, fundação, nome".

Um abraço

Wilmar R. D'Angelis


> Auê anãitá! Eu estou fazendo meu tcc em Tecnologia da comunicação
> institucional na UNiversidade Tecnológica Federal do Paraná sobre o
> nhe´engatu e a divulgação da importâncias do idioma para a cultura da
> região
> sul. Digo porque percebo que há uma forte influência na toponímia e já
> tenho
> os principaes autores e uma pesquisa intensiva sobre o nhe´engatu e
> história, mas gostaria de saber se alguém conhece algum artigo ou material
> que aborde a questão da região sul, sem ser aquele do tupiniquim, que já
> tenho e já o citei! :D
> Obrigado, Araryboîa nhe´engetá
>


-- 
Wilmar R. D'Angelis
Professor Doutor - Depto de Lingüística
Instituto de Estudos da Linguagem - IEL
UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas)
Estado de São Paulo - Brasil

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