D. Maria Rosa: a última dos Otí?

Eduardo Rivail Ribeiro kariri at GMAIL.COM
Fri Jan 22 19:15:35 UTC 2010


Prezados,

Transcrevo abaixo nota publicada em meu blog (http://blog.wado.us/) sobre um assunto que talvez seja de interesse para outros assinantes da lista.  Caso alguém tenha informações a respeito, agradeço desde já.

Abraços,

Eduardo

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D. Maria Rosa: a última dos Otí?

Em 2004, o quadro "Cena Mágica" do programa Fantástico, da Rede Globo, levou ao ar um trecho do documentário Terra dos Índios, do cineasta Zelito Viana (1979). No trecho (gravado em Bauru, SP, em 1978), a índia Maria Rosa — identificada no documentário como a última remanescente Ofayé — parece travar um "diálogo" com sua própria voz registrada por um gravador (http://bit.ly/mariarosa). A narração, na inconfundível voz de Fernanda Montenegro, descreve assim a cena, singela e comovente:

"Não tendo ninguém com quem possa falar sua língua, Dona Maria Rosa, ao ouvir o gravador repetindo suas palavras, acreditou que pudesse estabelecer um diálogo com a máquina. Faz perguntas como: Cadê meu pai? Cadê minha mãe [...]."

O documentário, no entanto, se engana. Primeiro porque, de acordo com o historiador Carlos Alberto dos Santos Dutra (http://bit.ly/carlito), Maria Rosa (falecida em 1988, aos 122 anos de idade) seria uma sobrevivente da tribo Otí (esta, de fato, agora extinta). Mas, mesmo se fosse Ofayé, não seria a última remanescente da tribo: enquanto o documentário, ecoando autoridades como Darcy Ribeiro (e a lingüista Sarah Gudschinsky), apregoava a virtual extinção da tribo Ofayé, os verdadeiros remanescentes da tribo sobreviviam a duras penas em terra alheia e hostil -- a reserva Kadiwéu na Serra da Bodoquena, MS.

Contactado pela equipe do Fantástico antes que o programa fosse ao ar, Dutra (o maior conhecedor da história Ofayé, mais conhecido como Carlito) tentou corrigir o engano, mas em vão. Entre a verdade histórica e uma boa história mal contada, o jornalismo fantástico optaria pela segunda opção. Mais intrigante que a opção preferencial pelo sensacionalismo midiático ilustrada por este episódio é, para mim, o potencial impacto que a "descoberta" da última representante de uma etnia, falante ainda de sua língua, poderia ter tido entre lingüistas e antropólogos. Como explica Carlito, a língua falada por Maria Rosa não é o Ofayé. Seria mesmo o Otí? Se era língua desconhecida, quem teria fornecido as traduções? A própria Maria Rosa? Ou seria uma outra língua também falada na reserva, como o Kaingáng Paulista?

Falante ou não de uma língua hoje extinta, D. Maria Rosa, uma janela para o passado indígena do oeste paulista, estava certamente aberta ao diálogo. Estariam os antropólogos e lingüistas de então dispostos a ouvi-la?

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