hum versus whisper language
Talita Rodrigues da Silva
tarositalita at YAHOO.COM.BR
Sun Sep 19 23:24:22 UTC 2010
Olá Waldemar,
desconhecia esse artigo e agradeço sua citação. Realmente, entre os Pykobjê-Gavião, observei que a linguagem dos "assovios" é desarticulada sob o aspecto teórico e, como disse antes, utilizada pelos homens, que são os principais responsáveis pelas atividades de caça. Lá também as mulheres conhecem os sons, sabem decifrá-los, mas não são "treinadas" para atuar nesse aspecto. Infelizmente, não observei nada semelhante a isso como sendo uma linguagem própria para as mulheres. Além disso, andei perguntando aos Pykobjê se essa "restrição" por gênero se mantinha em outras tribos, com as quais eles vêm tendo contato, e eles disseram que sim. Isso inclui, principalmente, os demais Timbira (Macro Jê) e os Guajajara (Tupi).
Abraços,
Talita.
--- Em dom, 19/9/10, Waldemar Ferreira Netto <waldemar.ferreiranetto at gmail.com> escreveu:
De: Waldemar Ferreira Netto <waldemar.ferreiranetto at gmail.com>
Assunto: Re: [etnolinguistica] hum versus whisper language
Para: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
Data: Domingo, 19 de Setembro de 2010, 21:34
Olá.
Os Wajãpi usam, para caça, também um código de assobios, calcado na entoação de suas frases e também baseado em reprodução dos sons de pássaros ou de outros animais. Ficamos testando durante algum tempo, entre eles mesmos, mas não conseguimos encontrar nada que equivalesse a uma linguagem articulada no sentido mais martinetiano do termo. Não conheço muito da vida feminina nas aldeias, de modo que não sei se as mulheres lá teriam algum tipo de código como esse. Na época, fui atrás de alguma coisa sobre isso. Encontrei um artigo, já antigo, sobre o Mazateco (COWAN, George W. Mazateco Whistle Speech, Language, v. 24, n. 3, p. 280-286, 1948) que referia a língua de assobio como prática masculina, mas de que as mulheres tinham conhecimento e sabiam decifrá-la.
Abs
Waldemar
Em 19 de setembro de 2010 15:39, Talita Rodrigues da Silva <tarositalita at yahoo.com.br> escreveu:
Olá pessoal,
de fato, assim que surgiu esse tema ("língua assoviada") fiquei pensando no caso dos Pykobjê-Gavião (Timbira). Quando estava em campo, em março desse ano, esse foi um dos assuntos que me despertou curiosidade, de modo que não pude deixar de conversar com os Pykobjê acerca desse som tão peculiar usado, sobretudo, pra caça, mas que se incorporou em muitos nomes da língua (palavras onomatopaicas).
Alguns falantes me contaram que, realmente se tratava de sons que imitavam a "voz" dos animais, principalmente, das aves fêmeas. Mas por que alguém quereria imitar com tamanha perfeição o som de uma ave ou animal fêmea? Parece tratar-se de uma habilidade que esses índios desenvolveram historicamente para caçar os animais que mais lhe apeteciam, as aves ou animais machos, que são maiores, ou seja, rendem mais carne para o Grupo. E, vejamos como essa atitude é sábia sob o aspecto da sustentabilidade do ecossistema, já que eles deixam de caçar as fêmeas, que são potenciais geradoras e mantenedoras da quantidade populacional daquela espécie.
Já a questão da transmissão, soube que ocorre assim como nosso colega Eduardo apresentou, isto é, essa habilidade é passada de geração a geração, entre os homens, que são os principais responsáveis pela caça, entre os Pykobjê. Às mulheres fica reservado o papel de preparar os pratos típicos com as carnes trazidas.
Por outro lado, da mesma maneira que na nossa sociedade há pessoas que performam melhor certos sons (cantores de rock, pop-music, etc.), entre os Pykobjê isso também é levado em consideração no momento de selecionar os melhores gritadores, em contraposição aos melhores corredores, por exemplo.
Espero que tenha podido contribuir um pouco com esse tema tão instigante. Abraço a todos,
Talita Rodrigues da Silva.
--- Em dom, 19/9/10, Geraldo Faria <faria_geraldo at hotmail.com> escreveu:
De: Geraldo Faria <faria_geraldo at hotmail.com>
Assunto: [etnolinguistica] hum versus whisper language
Para: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
Data: Domingo, 19 de Setembro de 2010, 4:06
Mais um pouco de tempero nesta sopa!
Quanto a asserção de que não há a possibilidade fonética de whisper language em línguas tonais, talvez seja de fato limitado ao licenciamento fonológico do Pirahã. Contudo tenho indagado aqui na Ásia, tanto em Mandarim como em Cantonês, (e numa outra língua própria de Shanghai) - e com outros colegas falantes de outras línguas tonais asiáticas, e me foi relatado por todos que não há problema algum em se comunicar através de whisper. Há whisper, hum ... como em qualquer outra língua ocidental. Já whistle...
Um outro fator interessante, também ligado ao whisper/hum language, é que somente homens whistle.
To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
From: rafaeln at gmail.com
Date: Sat, 18 Sep 2010 15:32:06 +0000
Subject: [etnolinguistica] Re: a língua assoviada dos bororo
Sobre os comentários anteriores, o interesse especial na língua assobiada dos Bororo e Karajá consistiria no fato de que essas não são línguas tonais, ao contrário, por exemplo, do Pirahã.
--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, "Eduardo Rivail Ribeiro" <kariri at ...> escreveu
>
> Prezados,
>
> O assunto "fala assobiada" foi levantado antes aqui na lista por Julien Meyer (Universitat Politecnica de Catalunya). Dêem uma olhada na mensagem original dele (e nas respostas que se seguiram):
>
> http://lista.etnolinguistica.org/1330
>
> Eu também estaria interessado em saber mais a respeito deste assunto,
principalmente entre os Karajá e os Krahô, também mencionados na literatura.
>
> Algum outro colega que estuda o Karajá já ouviu algo a respeito? E os especialistas em Timbíra?
>
> Abraços,
>
> Eduardo
>
>
> --- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Antonio Marcos Pereira <antoniomarcospereira@> escreveu
> >
> > Tem razão, Geraldo: Everett comenta uma tal de "hum speeech" Pirahã e logo
> > na sequencia fala tb de uma "whistle speech". Isso era a única coisa que eu
> > saberia dizer a respeito da pergunta do Rafael.
> >
> > Agora, difícil pensar em alguém mais persona non grata no MIT que Everett,
> > hein? Só se a disputa for com o pessoal da
semântica gerativa. :-)
> >
> > Sorte em seu trabalho, Rafael - lamento não poder contribuir mais.
> >
> > Antonio
> >
> > Em 17 de setembro de 2010 09:12, Geraldo Faria
> > <faria_geraldo@>escreveu:
> >
> > >
> > >
> > > Rafael Nonato,
> > >
> > > Daniel Everett também relata fato idêntico entre os Pirahã. Ele fez PosDoc
> > > aí no MIT, se não me engano, e você ler um pouco mais nas publicações dele,
> > > ou no livro *Don't Sleep, there are snakes *2008 (páginas 185-6, 189)*, *ou
> > > até mesmo entrando em contato com ele.
> > >
> > > Sem mais,
> > > Geraldo
> > >
> > >
> > > ------------------------------
> > > To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br; nevins.andrew@
> > > From: rafaeln@
> > > Date: Thu, 16 Sep 2010 21:06:23 -0400
> > > Subject: [etnolinguistica] a língua assoviada dos bororo
> > >
> > >
> > >
> > > Olá todos.
> > >
> > > Recentemente um colega me chamou a atenção para um texto escrito em 86
> > > sobre a língua assobiada dos caçadores Bororo e Karajá
> > > <http://www.ssa-sag.ch/bssa/pdf/bssa50_04.pdf>. Eu trabalho faz alguns
> > > anos com os Bororo da aldeia Córrego Grande, mas nunca ouvi falar da
> > > sua língua assoviada
fora desse texto. Meu principal consultor, Dario
> > > Brame, afirma que no passado os caçadores empregavam uma linguagem
> > > assoviada, mas descreveu-a de forma diferente à descrita no texto de
> > > Desidério Aytai. Aytai descreve uma correspondência entre / segmentos
> > > falados e assoviados, e segundo Brame tratava-se apenas de usar certos
> > > cantos de pássaros como mensagens pré-combinadas entre os caçadores. É
> > > verdade que Aytai também notou que a altura das vogais assobiadas
> > > correspondia mais bem a uma melodia fixa que a um correlato
> > > lingüístico qualquer, e pode bem ser que ambos estejam corretos, e que
> > > as mensagens assobiadas fossem disfarçadas melodicamente como cantos
> > > de pássaros.
> > >
> > > Aytai diz no texto que possuía gravações da língua
assoviada dos
> > > Bororo, que ele tinha conseguido direto com o padre salesiano César
> > > Albisetti. Será que alguém na lista saberia sobre o possível destino
> > > dessas gravações? Aytai faleceu em 98, e talvez os Salesianos ainda
> > > guardem essas gravações, mas eu não saberia a quem me dirigir.
> > >
> > > abraços
> > >
> > > --
> > > Rafael Nonato
> > > Aluno de doutorado do Departamento de Lingüística do MIT
> > >
> > >
> > >
> >
> >
> >
> > --
> > Antonio Marcos Pereira
> > Prof Adjunto I
> > Departamento de Letras Vernáculas
> > Universidade Federal da Bahia
> > Av. Barão de Jeremoabo, 147 - Ondina
> > Salvador Bahia Brasil
> > 40170-290
> > 00 55 71
32836237
> > 00 55 71 91259485
> >
>
--
Waldemar Ferreira Netto
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