coment=?utf-8?Q?=C3=A1rios_=C3=A0_resposta_do_Prof._Wolf_Dietrich_e_recens=C3?= =?utf-8?Q?=A3o_?=de artigo seu [1 Anexo]

Eduardo de Almeida Navarro edalnava at YAHOO.COM.BR
Fri Feb 24 02:29:41 UTC 2012


COMENTÁRIOS À RESPOSTA DO PROF. WOLF DIETRICH 
 
(EM ANEXO, RECENSÃO CRÍTICA DO ARTIGO “O PAPEL DO TUPI NA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO”, DE WOLF DIETRICH E VOLKER NOLL)
 
Acho muito meritório o esforço do Prof. Dietrich, como estrangeiro que é, em aprender os rudimentos do tupi antigo. Afinal, muitos pesquisadores brasileiros do campo da linguística tupi-guarani não o conhecem. Como pode alguém que estuda o Kamaiurá, o Tapirapé, o Wayampi, o Nheengatu prescindir do conhecimento daquele? O Estruturalismo linguístico seria uma formulação teórica de visão tão estreita assim? 
Fico, de fato, abismado em ver o nível dos novos acadêmicos brasileiros. Ontem, com efeito, vi estarrecido o Prof. Dietrich dar uma “aulinha” sobre a primeira declinação latina a um desses “linguistas” enfatuados e de pouco saber. Confesso que fiquei com vergonha da situação da educação pública no Brasil. Que espécie de professor será esse “linguista” inculto? 
O professor Rodrigues certamente sabe Tupi Antigo, mas em nível estrutural. Ele muito me auxiliou no passado, dando-me fundamentos mais precisos, no âmbito da Linguística, ao conhecimento gramatical e literário que eu adquiri ao longo de duas décadas, lendo tudo o que existe escrito naquela língua. Durante anos debrucei-me sobre seus textos para redigir meu Dicionário de Tupi Antigo, com oito mil ítens lexicais, e que publicarei este ano. Posso dizer, assim, com toda a certeza e convicção, que o Prof. Rodrigues não domina a literatura daquela língua, senão parcialmente (só conhece bem as gramáticas de Anchieta e Figueira e o Vocabulário na Língua Brasílica). Quanto ao Prof. Dietrich, digo que conhece a língua indígena clássica do Brasil muito superficialmente. Mostro no texto em anexo por que tirei tal conclusão.
Com efeito, em 2010 ele publicou, junto com Volker Noll, um livro intitulado “O português e o tupi no Brasil” (Editora Contexto, São Paulo). Tal obra enfeixa textos de oito autores, inclusive dois de sua própria lavra. Já os li e desde o final do ano passado estou a preparar uma recensão crítica de tal obra. Não a concluí ainda. Deverei publicá-la em breve.
Como o Prof. Dietrich resolveu entrar em polêmica comigo, eu comentarei, por ora, somente o que ele escreveu no aludido livro, deixando para outra oportunidade as críticas aos textos dos outros autores (alguns muito bons, como Bessa Freire e Cândida Barros). Comentarei, por ora, um artigo que ele publicou com Volker Noll, no aludido livro, intitulado “O papel do tupi na formação do português brasileiro”. Tal é o texto que vai em anexo.
Eu não sou “tupinólogo”, nem “filólogo”, nem “linguista”. Essas não são profissões regulamentadas no Brasil. Sou um professor universitário honesto, que gosta de ensinar e que faz pesquisas acadêmicas no âmbito do tupi antigo, das línguas gerais coloniais e do nheengatu. Também ensino literatura colonial do Brasil, em nível de pós-graduação. Com efeito, acho ridículos esses títulos pomposos que, hoje, até os estudantes de graduação atribuem a si mesmos. Basta conhecer um pouco a psicologia humana para se compreender tal fenômeno: a profissão de professor tem pouco prestígio hoje, as humanidades estão em crise profunda e quem está, como aluno ou docente, em faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas tem baixa a sua autoestima. É preciso, assim, compensar sentimentos de inferioridade e necessidade de autoafirmação com títulos. Com efeito, os que se graduam hoje em Filosofia, em Linguística, em História
 etc. não são mais bacharéis ou licenciados nesses saberes, mas, sim, “filósofos”, “linguistas”, “historiadores”... Coisa ridícula de gente que não se enxerga. Filósofo foi Aristóteles, foi Kant, historiador é Eric Hosbawn, foi Sérgio Buarque de Holanda, linguista é Chomsky, linguista foi Saussure. Tais homens fizeram escola, influenciaram milhões de pessoas com o que escreveram. É preciso, pois, que essa gente estude mais e deixe a empáfia de lado...
 
Atenciosamente,
 
Eduardo de Almeida Navarro (USP)
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