Tupinamb á uúba vs. uubá
Wolf Dietrich
dietriw at UNI-MUENSTER.DE
Fri Mar 2 13:49:14 UTC 2012
Caro Eduardo,
Acho que não se trata, em primeiro lugar, de um "par mínimo" porque um "par
mínimo"como este tem o mesmo valor explicativo como o par mínimo das formas
verbais portuguesas "pararam" - "pararão".
As formas "uubá" e "uúba" são da língua geral. Em Tupinambá (ou Tupi Antigo)
as formas eram "u'ybá" 'cana' e "u'yb" 'flecha". Com o -a do caso
argumentativo se chega a "u'ýb-a". Trata-se, portanto, de formas morfológicas
e morfossintáticas diferentes, a forma "u'ybá" podendo conter o sufixo zero
para caso argumentativo ou não.
Eu vejo aqui dois problemas, conectados um com o outro, que ainda não posso
resolver: O problema morfológico é a aparente formação "subtractiva" ou
regressiva na passagem de "u'ybá" a "u'yb", já que penso que, semanticamente,
do material se passa ao objeto feito com esse material. Neste caso, "u'ybá" é
um lexema inanalizável. Se não fosse assim, surgiriam outros problemas: Qual é
a natureza do elemento -á em "u'ybá" e qual é a relação semântica entre "u'yb"
e "u'ybá"?
Formas comparáveis nos dialetos modernos são, por exemplo, Kayabi "u'yp"
'flecha' - "u'ywá" 'taquara grossa". Em outras línguas encontram-se cognatos
para 'flecha' (Parakanã o'yw, Parintintin u'yv ou y'yv, Tapirapé ohyp,
Kamayura y'yp, Mbyá u'y, Guarani paraguaio hu'y, Guarani do Chaco (Chiriguano)
uy, uvy, Siriono ruu, uu, Yuki ruu), mas não para a forma "u'ybá". É estrano
que apareça em Montoya (1640), na forma "huîbá" 'cana para flechas', mas não
no Chiriguano do séc. XVIII. O Mbyá tem u'y xa, que é outra palavra.
Não sei se pares "mínimos" assim são comuns em Tupinambá. Acho que não.
Abraços,
Wolf
Eduardo Ribeiro schrieb am 2012-02-29:
> Prezados
> No 'Pequeno Vocabulário Tupi-Português' do Pe. Lemos Barbosa
> (1967:158) ocorre o seguinte "par mínimo":
> uubá -- vard. gramínea de que se fazem flechas
> uúba -- irr. a mesma uubá já preparada; flecha; id. uyba
> Imagino que o 'par mínimo' aparente deva-se não ao acento
> propriamente
> dito, mas a diferenças morfológicas (presença de um elemento de
> composição na forma oxítona?). Minha pergunta, aos colegas
> conhecedores do Tupinambá (ou Tupí Antigo) seria: até que ponto pares
> assim teriam sido comuns?
> Obrigado, desde já, por qualquer informação.
> Abraços,
> Eduardo
> --
> Eduardo Rivail Ribeiro, lingüista
> http://wado.us
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