[etnolinguistica] Sobre o 'marcador de posse ali enável' em Jê

Dioney Moreira Gomes dioney98 at UNB.BR
Thu Jan 30 13:54:43 UTC 2003


Ainda sobre o "e-" do exemplo citado abaixo:
existe uma classe de verbos em mundurukú formada pelo prefixo je-, que parece
instaurar um processo a partir de nomes ou verbos estativos, não alterando sua
valência (função sim do causativo mu-~muy- que está em distribuição
complementar com o je-): oco 'tosse' / jeoco 'tossir'. Bom, o verbo estativo
bãg 'estar quebrado' pode ser modificado para jebãg 'quebrar-se' ou para
mubãg 'fazer quebrar' (transitivo, óbvio). O exemplo abaixo mostra a
concordância entre o nome e o verbo, fato obrigatório quando um nome
classificado ocupa posição de sujeito de intransito ou objeto de trasitivo em
aspecto perfectivo (absolutivo). A concordância ou incorporação de
classificador jamais rompe a relação entre um prefixo e um verbo. Assim, o que
quero dizer é que o e- que aparece abaixo é um alomorfe do je- a que me refiro
neste e-mail. De qualquer modo, o je-~e- parece instaurar uma leitura
passiva/média.
Até mais.
Dioney

Citando Eduardo Rivail Ribeiro <erribeir at midway.uchicago.edu>:

> Prezado Dioney (e pessoal 'na escuta'),
> Tudo beleza? Obrigado por sua mensagem (e pelas dicas sobre o Mundurukú).
> Finalmente encontrei os dados do Mundurukú a que me referia; trata-se de um
> capítulo da tese da Mary Angotti (gentilmente enviado pela colega Gessiane
> Picanço); exemplo do prefixo e- com verbos (Angotti 1998: 12; ela traduz o
> prefixo e- como 'nome genérico'):
>
> o'-je-a-e-bãg  wa'e
> 3S-INTR-CLASS-N.GEN-quebrar  cuia.CLASS
> 'A cuia quebrou.'
>
> O interessante, no caso do Mundurukú, é o fato de que o prefixo e- não
> parece pertencer à classe que
> recebe prefixos relacionais ("classe II"). Em Tupinambá, Emérillon (segundo
> Françoise Rose) e Sateré-Mawé (levando-se em consideração a análise da Dulce
> Franceschini), parece que sim, o mesmo se dando em Macro-Jê. Em termos
> histórico-comparativos,  creio que isto tem um importante valor
> 'diagnóstico', diminuindo as chances de que as semelhanças entre os
> diferentes troncos seja pura coincidência. Também denuncia uma origem
> lexical para o prefixo (algo semelhante ao que ocorre com o marcador de
> antipassiva em Karajá, que também pertence à classe II e parece ser cognato
> do morfema õ 'coisa' em outras línguas do tronco).
> Mas, se entendo bem (a partir da leitura do seu artigo nos anais do Encontro
> de Belém), mesmo como relíquias, 'relacionais' (ou o que sobrou deles) são
> extremamente raros em
> Mundurukú. Talvez o prefixo e- forneça pistas sobre o que pode ter ocorrido
> com outras raízes da classe II nesta língua, não?
> Também acho interessante o quanto as línguas Jê são conservadoras (não
> apenas em comparação com o Tupí, mas em comparação com outras famílias do
> tronco Macro-Jê, como o Karajá e o Karirí; tanto morfológica e
> sintaticamente, quanto fonologicamente).
> Mais uma vez, muito obrigado, e um grande abraço,
> Eduardo
>
>
> ----- Original Message -----
> From: "Dioney Moreira Gomes" <dioney98 at unb.br>
> To: <etnolinguistica at yahoogrupos.com.br>
> Sent: Wednesday, January 29, 2003 10:15 AM
> Subject: Re: [etnolinguistica] Sobre o 'marcador de posse alienável' em Jê
>
>
> > Primeiramente, um grande abraço ao meu amigo Eduarrrrdo e um alô a todos
> os
> > demais colegas.
> > Em Mundurukú, com nomes existe o prefixo alienador e- (w-e-kobe 'minha
> canoa')
> > e o prefixo reflexivo je- (je-ba 'braço dele mesmo'). Há também o
> > reflexivo/recíproco jewe- (talvez, apenas we-), como em [akurice] [o' jewe
> aha
> > ip]([cachorro] [3sa OCS morder eles])'os cachorros se mordiam'.(OCS:
> Objeto
> > correfencial ao sujeito).
> > Até mais.
> > Dioney
> >
>
>
>
>
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Dioney M. Gomes
Doutorando em Lingüística - UnB/IRD (Institut de Recherche pour le
Développement/França)
Tel.: (61)304 1045 e 9961 9342
E-mail: dioney98 at unb.br


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