[etnolinguistica] Morfologia perifrastica

Daniel Everett dan.everett at MAN.AC.UK
Thu Jul 31 19:21:54 UTC 2003


Cara Filomena,

Obrigado pelos exemplos. O tipo de coisa que estava pensando e um pouco 
diferente, mas do mesmo genero. Sapir (1915) notou, por exemplo, que em 
Nootka ha mudancas consonantais que indicam algo sobre ou o ouvinte ou 
uma terceira pessoa (geralmente algum tipo de deficiencia fisica ou 
algo feio do corpo). Em Piraha, como e relativamente bem conhecido, ha 
um numero muito pequeno de fonemas (apenas 10 para mulheres e 11 para 
os homens). Mas mesmo com esse inventario tao pequeno, ha muita 
variacao 'livre' entre nao-sonorantes surdos (19)-(21) abaixo - tirei 
os exemplos do trabalho do meu website onde ha uma discussao maior). O 
inventario pequeno e a variacao livre ocorrem no mesmo sistema em que 
ha um inventario rico de processo prosodicos (tom, peso silabico, 
acentuacao e os canais mencionados abaixo). A sugestao que faco e de 
que a prosodia e a sua utilizacao nos canais de fala (no sentido de 
Hymes (1974) + a minha sugestao em (22) abaixo) des-valorizem o canal 
segmental em favor do prosodico. Ou seja, nao seria possivel nem 
entender a 'fonologia segmental formal' do Piraha (como a variacao 
livre) sem entender a etnografia da fala em Piraha.

Tais exemplos sao importantes porque apoiam as propostas originais do 
Sapir e Boas de que a lingua seja parte da cultura e sao problematicos 
para as teorias formais (e teorias da acquisicao baseadas na suposta 
'Gramatica Universal') uma vez que mostram que a crianca tem que 
aprender a sua cultura para aprender a sua fonologia.

Mais uma vez, isso tudo esta discutido no trabalho 'Coherent Fieldwork' 
no meu site. Este tipo de exemplo sera discutido brevemente no meu 
livro a sair pela Cambridge no ano proximo: Linguistic Fieldwork: A 
Student Guide, um novo guia ao trabalho de campo. As consequencias 
filosoficas de tais exemplos serao discutidos em mais detalhe em outro 
livro, provavelmente tambem da CUP, Jamesian Linguistics: A 
non-Chomskyan, non-Cartesian View of Language and Knowledge.

Abracos,

Daniel



Pirahã Phonemes



Consonants () = missing from women's speech
p t k ?
b   g
  (s)  h
Vowels
i              o
         a

(14) Pirahã stress rule: stress the rightmost token of the heaviest 
syllable type in the last three syllables of the word.

(15) Pirahã 's five syllable weights: CVV>GVV>VV>CV>GV

(16)	a. !tígí 'small parrot'
	b. !pìgì 'swift'
	c. !sàbí 'mean, wild'
	d. !7ábì 'to stay'
	e. tíí!híí 'bamboo'
	f. 7ì!tì 'forehead'
	g. tì!7í 'honey bee'
	h. tí!hì 'tobacco'

(17) CHANNEL                         FUNCTIONS
a. HUM SPEECH                        Disguise
                                      Privacy
                                      Intimacy
                                      Talk when mouth is full
                                      Child language acquisition relation

b. YELL SPEECH                       Long distance
                                      Rainy days
                                      Most frequent use - between huts &
                                                          across river

c. MUSICAL SPEECH  ('big jaw')       New information
                                      Spiritual communication
                                      Dancing, flirtation
                                      Women produce this in informant
                                      sessions more naturally than men.
                                      Women's musical speech shows much 
greater separation of
                                      high and low tones, greater volume.

d. WHISTLE SPEECH  (sour or 'pucker' mouth)    Hunting
  - same root as 'to kiss' or shape of mouth    Men-only (as in ALL 
whistle
after eating lemon)                                       speeches!)
                                                One unusual melody used 
for
                                                aggressive play


	(19) tí píai ~ kí píai ~ kí kíai ~ pí píai ~ (í píai ~ (í (íai ~ tí 
píai, etc. (*tí tíai, * gí gíai, *bí bíai) 'me too'
(20)?apapaí ~kapapaí ~papapaí ~?a?a?aí ~kakakaí ~(*tapapaí, * tatataí, 
* bababaí, * gagagaí) 'head'
(21) (ísiihoái ~kísiihoái ~písiihoái ~píhiihoái ~kíhiihoái ~ 
(alternations with /t/s or involving different values for [continuant] 
or [voicing] are unattested) 'liquid fuel'

(22) Constraint on functional load and necessary contrast (Everett 
(1985)):
	a. Greater Dependence on the Channel--> Greater Contrast Required
b. Lesser Dependence on the Channel --> Less Constrast Required


On Thursday, Jul 31, 2003, at 19:49 Europe/London, Maria Filomena S. 
Sandalo wrote:

>
> Caro Daniel,
>
> No Kadiweu, como é sabido já faz tempo, tem um dialeto fonológico 
> feminino
> (apenas mulheres nobres, esta é uma sociedade dividida em 
> castas/camadas
> sociais) e outro geral (homens e mulheres de castas/camadas mais 
> baixas).
> Tratei esta questão em um texto publicado no MIT Working Papers in
> Linguistics, 1997. Reduzindo um pouco, tento mostrar que temos uma 
> espécie
> de jogo fonológico no dialeto das mulheres nobres. Pés métricos 
> degenerados
> são impossíveis. Assim, toda palavra com número ímpar de sílabas sofre
> reduplicação da vogal mais à esquerda, criando-se um pé binário. Não 
> sei
> se é isso que você procura, pois não li seu texto. Pelo o que eu me 
> lembro
> do Pirahã, sei que as mulheres têm um dialeto/estilo particular e isso 
> me
> lembrou o caso do Kadiwéu. Mas no Kadiwéu a questão envolve gênero
> e classe social. Ver Métraux (1945) para entender melhor a questão de
> castas da sociedade Mbayá/Guaikurú.
>
> Filomena
>
> On Thu, 31 Jul 2003, Daniel Everett wrote:
>
>> Gente,
>>
>> Duas perguntas sobre fenomenos linguisticos:
>>
>> (i) Tenho um trabalho recente chamado 'Liminal Categories' que
>> encontra-se no meu site (endereco abaixo). O trabalho e sobre a
>> existencia de morfologia perifrastica, ou seja elementos que tem
>> caracteristicas simultaneas de frases e palavras (a sintaxe interna de
>> frase e a sintaxe externa de palavra). Gostaria muito de saber se ha
>> exemplos desse fenomeno em outras linguas amazonicas.  Existe pelo
>> menos um exemplo em portugues: 'a gente' e uma frase da perspectiva da
>> sua composicao interna, fonologica e sintacticamente, mas funciona 
>> como
>> se fosse uma unica palavra semanticamente e sintacticamente na frase
>> maior em que ocorre.
>>
>>
>> (ii) Outra pergunta. Em outro trabalho no meu website, Coherent
>> Fieldwork, cito um exemplo da interacao entre a cultura e a fonologia
>> em Piraha (publiquei o trabalho original sobre esse tema em Piraha em
>> 1985 nos Proceedings of the Berkeley Linguistics Society). Gostaria de
>> saber se ha outros exemplos desse 'Etnofonologia' (favor ler o 
>> trabalho
>> no website antes de responder, se achar o tema interessante, para
>> entender melhor o que quero dizer por isso).
>>
>> Favor responder ao meu endereco pessoal (abaixo) e, se houver um 
>> numero
>> suficiente de respostas, farei um resumo para a etnolinguistica como
>> inicio de uma conversacao na lista sobre o tema.
>>
>> Abracos,
>>
>> Daniel
>>
>> ------------------------------------------
>>
>> Daniel L. Everett
>> Professor of Phonetics and Phonology
>> Department of Linguistics
>> The University of Manchester
>> Oxford Road
>> Manchester, UK M13 9PL
>> http://ling.man.ac.uk/info/staff/de
>> dan.everett at man.ac.uk
>> Fax: 44-161-275-3187
>> Office: 44-161-275-3158
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Daniel L. Everett
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