Ainda Kaingang (Brasil e Argentina)

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Wed Feb 7 20:04:14 UTC 2007


Caro Pedro (e demas colegas),

Matutando sobre os dados que vocês vêm compartilhando com a lista,
ocorre-me agora que, afinal, talvez não se possa descartar uma
possibilidade de certa forma oposta à que expresso em minha primeira
mensagem ("não parece tratar-se de Kaingáng", etc.): talvez não
haja razões suficientes pra se falar em uma língua Jê
Meridional a mais. Os dados que coincidem indubitavelmente com os do
Kaingáng não parecem permitir uma conclusão a favor da
existência de uma língua diferente -- como, aliás, qualquer
conclusão definitiva.

Eu acho interessantes as duas hipóteses aventadas por você, mas
tendo a ser cético com relação a "línguas mistas",
especialmente com base em dados insuficientes. Seria interessante
investigarmos mais sobre as circunstâncias da coleta. Eu tenho
algumas dúvidas que, se possível, ficaria muito grato se alguém
pudesse esclarecer:

1. Quantos registros separados (diferentes coletores e diferentes
informantes) há para o Ingain e o Guayaná?

2. Além dos termos em comum entre o Ingain e o Guayaná que você
menciona ('água', 'lua'), o que mais compartilham?

3. Alguém teria alguma pista quanto à possível origem dos
termos não-Kaingang nestes vocabulários?

4. Qual a proximidade entre as áreas onde se coletaram dados do
Ingain e do Guayaná?

Mesmo que os vocabulários contenham itens de origens diferentes, eu
acho que um conhecimento mais detalhado das circunstâncias de campo
talvez ajude a se pensar em outras hipóteses. Meu ceticismo quanto ao
valor de vocabulários como esses para tentativas de classificação
lingüística baseia-se em alguns exemplos da literatura:

1. O caso do Kukura, uma "língua" que, apesar de fictícia (como
denunciado por Nimuendaju), foi classificada geneticamente por Greenberg
(o que dá uma idéia dos méritos classificatórios dele...);
não estou dizendo que se trata da mesma situação aqui, mas a
resposta a minha pergunta (1) acima ajudaria a termos uma idéia mais
precisa.

2. Vocabulários coletados, principalmente na segunda metade do
século passado, no Nordeste brasileiro, em que ficam evidentes
diferentes "camadas" de influência lexical. Os vocabulários
coletados entre os Pankararu, por exemplo, são particularmente
interessantes: o léxico básico (incluindo pronomes, partes do
corpo, termos de parentesco, descritivos, etc.) é claramente de
origem Tupi-Guarani (talvez o mesmo Tupinambá da costa); por outro
lado, há vários termos (itens culturais, fauna, etc.). que são
obviamente de origem Iatê. Neste caso, não creio que se possa
falar em língua mista, como se tivesse havido uma fase em que os
Pankararu teriam falado uma língua resultante da mistura de duas
outras. É mais provável que a parte Iatê do vocabulário seja
resultado de contatos recentes, quando o português já havia se
tornado a língua nativa da tribo.

[A julgar pelos dados, parece provável que os ancestrais dos
Pankararu teriam falado o Tupinambá (ou uma língua muito
aparentada) a uma certa altura, mas se esta era a língua original da
tribo, ou se a adotaram por influência missionária, é algo a se
discutir.  Se possível, eu gostaria muito de ouvir a opinião de
colegas aqui na lista que certamente conhecem melhor a situação
etnográfica do Nordeste, como a Maria das Dores Pankararu, o Renato
Athias, etc.]

Bem, aguardo a opinião de vocês!

Abraços,

Eduardo


--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Pedro Viegas Barros
<peviegas2003 at ...> escreveu
>
> 3) La cuestión del Guayaná / Ingáin
>
> Cuando envié mi primer mail, yo creía que el vocabulario
Guayaná de Lista, al que había mirado sólo superficialmente,
representaba sin duda alguna variedad de Kaingáng, como debía
serlo el "Ingáin" de Ambrosetti; esta era la postura única
existente en los trabajos que yo conocía sobre el Kaingáng en la
Argentina (p. ej. Canals Frau 1953). Por eso, el hecho de que un
investigador en lenguas Jê y Macro-Jê tan importante como Eduardo
dijera que "
não parece se tratar do Kaingáng (Jê do Sul)
ou de língua geneticamente próxima" realmente me
sorprendió, y me llevó a revisar con mayor profundidad el
vocabulario Guayaná.
> Tras la lectura del trabajo de D'Angelis (2006) me parece ahora
claro que el Guayaná de Patiño y Lista y el Ingáin de
Ambrosetti no son "100%" Kaingáng. Creo que sólo hay dos
posibilidades:
> A) Se trataría de una lengua de la rama Jê Meridional, que
conservó ítems léxicos Proto-Jê desaparecidos de las otras
lenguas de esta rama de la familia, y que posee además otras
particularidades léxicas –incluso en el llamado "vocabulario
básico"- no compartidas con ninguna otra lengua de la familia (p.
ej. Guayaná pirihí : Ingáin puiri, puiré `luna',
Guayaná cran, pranl : Ingáin kran `agua', etc.) y
quizás también con peculiaridades gramaticales (como ciertos
prefijos no compartidos con otras lenguas emparentadas), o bien:
> B) Se trataría de una especie de lengua mixta en la que se
habrían mezclado el Kaingáng (que sería preponderante) con
otras lenguas Jê (inclusive Jê septentrionales) y (quizás)
otras lenguas (desconocidas), lengua mixta surgida posiblemente a
raíz de la "
 épica migração das missões jesuíticas
do Guairá para o sul, em 1632" como sugiere D'Angelis (2006:
13, nota 38).
> No tengo modo de decidir cuál de estas dos posibilidades es la
correcta, pero personalmente la posibilidad B) me parece más
plausible.
> ¿Uds. qué opinan?


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