Imprensa: "Tupis-guaranis já estavam no Sudeste há 3.000 anos"

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Wed Feb 11 03:40:05 UTC 2009


Alguém mais leu esta matéria, publicada há dois meses
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u480384.shtml)?

O que querem dizer com "o povo tupi-guarani"? Será que a matéria
capturou bem o que queria dizer a autora da pesquisa? Em se tratando
de matéria de "ciência" na Folha, nunca se sabe.

Teria ocorrido ao repórter perguntar como se pôde determinar que os
responsáveis pela tal fogueira eram representantes do "povo
tupi-guarani" -- e não, digamos, de povos que os precederam?

Ou será que estão confundindo alhos (a chamada 'tradição Tupiguarani'
em estudos arqueológicos de cerâmica;
http://cienciahoje.uol.com.br/3283) com bugalhos (a família
lingüística Tupí-Guaraní ou um de seus subgrupos)?

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17/12/2008 - 08h20

Tupis-guaranis já estavam no Sudeste há 3.000 anos

EDUARDO GERAQUE
da Folha de S.Paulo

O povo tupi-guarani já vivia na região de Araruama (RJ) há 2.920 anos
(a margem de erro é de 70 anos) --aproximadamente 1.180 anos antes do
que as evidências científicas indicavam até hoje. A descoberta
publicada nos "Anais da Academia Brasileira de Ciências" embaralha as
teorias que tentam explicar a dispersão dessa cultura indígena, que
teria começado na Amazônia.

A "nova" datação, deduzida a partir dos carvões de uma fogueira
(provavelmente usada na queima de cerâmica), na verdade foi feita no
final dos anos 1990. Justamente pelo fato de ser antiga demais, porém,
a autora do estudo, Rita Schell-Ybert, do Museu Nacional, não
acreditou que a fogueira pudesse ser obra de humanos, e acabou
engavetando a análise.

O panorama só começou a mudar recentemente, quando surgiu um outro
dado. A datação de uma outra fogueira, desta vez de origem funerária,
no mesmo sítio arqueológico de Morro Grande, município de Araruama,
mostrou que ela havia sido feita 2.600 anos atrás.

Os tupis-guaranis, diz Schell-Ybert à Folha, enterram seus mortos em
urnas, mas ao lado eles fazem fogueiras --tanto para "espantar
espíritos ruins" quanto para "aquecer a alma" do morto e prepará-la
para entrar no Guajupiá (o Paraíso da mitologia tupi-guarani).

"Com essa nova datação resolvi voltar ao estudo do final dos anos
1990", diz a cientista, que contou com recursos do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Faperj
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro). A hipótese de que
aqueles carvões não tinham sido queimados por humanos acabou descartada.

Uma das pistas que levaram a essa conclusão, explica a antropóloga, é
a quantidade de cascas observadas nas amostras. "Quando a queima é de
origem antrópica [humana], existe muito mais casca do que lenha, como
foi visto", afirma.

Com as duas informações em mãos: a fogueira funerária de 2.600 anos e
a fogueira doméstica de 2.920 anos, as evidências antropológicas de
que os tupis-guaranis habitaram aquela região dos lagos fluminenses
ficou mais robusta. "Nesta área, provavelmente, houve um ciclo de
ocupação e desocupação", explica.

Mas se os tupis-guaranis chegaram ao atual Sudeste do país faz tempo,
como eles poderiam ter deixado a Amazônia quase na mesma época, como
mostram as evidências científicas disponíveis atualmente?

Migração antecipada

"Os resultados são bem surpreendentes. Eles complicam um pouco as
coisas, talvez até nos levando a rejeitar uma origem amazônica dos
tupis-guaranis", afirma Eduardo Neves, antropólogo do Museu de
Arqueologia e Etnologia da USP.

Neves trabalha em Porto Velho (RO) tentando descobrir se o centro a
partir do qual os tupis-guaranis se dispersaram era naquela região.
Segundo ele, as datas potencialmente candidatas para as ocupações da
Amazônia são as mesmas que as divulgadas agora para o norte do Rio de
Janeiro, "ou até mais recentes". Mas essas datações, diz o pesquisador
da USP, são baseadas em dados lingüisticos e não arqueológicos.

Para a pesquisadora do Museu Nacional, essa ocupação antiga dos
tupis-guaranis no Rio, se não tira a importância da Amazônia como
centro de origem desse grupo indígena, ajuda a mostrar, talvez, que a
saída do norte do país começou bem antes do que se imaginava. 

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