Res: [etnolinguistica] Fontes sobre a l íngua Dzubukuá

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Thu Jun 18 17:11:03 UTC 2009


Boa pergunta, Sérgio! Eu tendo a concordar com o Márcio: é importante, sim, ensinar o passado Dzubukuá valendo-se, inclusive, dos dados lingüísticos, como apropriação daquilo que afinal lhes pertence. Se tiverem sucesso com isto, já seria algo notável (e poderia servir, talvez, de base para o aprendizado da língua, mesmo que numa escala modesta).  Ressuscitar uma língua, porém, são outros quinhentos. Seria interessante se houvesse um ponto de partida concreto, alguma esfera da vida social em que a língua ainda tivesse algum uso -- o que, infelizmente, não é o caso aqui.

O caso fascinante do hebraico serve mesmo como uma ótima lição sobre o assunto. Por um lado, por demonstrar que, dadas condições propícias, é possível, sim, (re-)instituir o uso de uma língua "morta" como língua viva, hoje a língua nativa de milhões. Por outro, porque demonstra o quanto é difícil duplicar as circunstâncias especiais que fizeram do hebraico um caso bem sucedido. As dificuldades na revitalização do irlandês (gaélico) -- que, em princípio, estaria em melhores condições que o hebraico há cem anos, já que continua vivo -- demonstra que reverter os hábitos lingüísticos de uma população é tarefa hercúlea, mesmo com vontade política e empenho financeiro (coisas que faltam no caso de nossas línguas indígenas). Se conseguirmos fortalecer o uso das que ainda se falam já seria uma vitória incrível.

No caso do hebraico, a língua nunca deixou de ter uma função social importante, mesmo que não fosse usada para a comunicação corriqueira do dia-a-dia. Como língua litúrgica, ocupava o lugar central em uma esfera social que, afinal, define por excelência o que é ser "judeu": a religião. Com o advento do movimento sionista, o hebraico, como patrimônio comum, parte de algo que representava a unidade de um povo vivendo na diáspora, tinha competitividade suficiente para se tornar a língua franca de uma população formada por indivíduos cujas línguas nativas incluiam o persa, o árabe, o iídishe, o russo, etc.  Difícil encontrar circunstâncias históricas tão particulares em qualquer outro caso, não?

Eu, naturalmente, estou sempre interessado em aprender mais sobre outros casos bem sucedidos de revitalização lingüística e cultural, mesmo que em escala modesta. E especialmente no caso de línguas indígenas do nosso continente.

Abraços,

Eduardo


--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Sergio Morales <sergiocardosomorales at ...> escreveu
>
> Prezado José Queiroz,
>  
> Uma pergunta de um leigo: e a experiência do hebraico em Israel?
>  
> Seguramente, uma língua morta, usada exclusivamente em um contexto religioso durante séculos (portanto, muitos dos elementos linguísticos do uso cotidiano se perderam; até mesmo a correta vocalização, já que, como língua semítica, as vogais não eram representadas na escrita e a vocalização tradicional é uma convenção iniciada pelos textos massoréticos, séculos após a língua deixar de ser um idioma falado - de fato, havia, até a adoção da língua como oficial do Estado de Israel, duas tradições de vocalização, uma usada pelos judeus ashkenazis e outra, pelos judeus sefaradis). E, no entanto, não se pode falar que o hebraico não tenha um uso vibrante, hoje em dia, em todos os domínios da vida israelense!
>  
> Essa experiência não pode ser repetida alhures?
>  
> Abraço,
>  
> Sérgio
> --------------------------------------------- 
> 
> Sergio Cardoso Morales
> 
> --- Em sáb, 13/6/09, José Márcio Correia de Queiroz <queirofelix at ...> escreveu:
> 
> 
> De: José Márcio Correia de Queiroz <queirofelix at ...>
> Assunto: Res: [etnolinguistica] Fontes sobre a língua Dzubukuá
> Para: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
> Data: Sábado, 13 de Junho de 2009, 11:22
> 
> 
> 
> 
> 
> 
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> 
> 
> 
> Cara, Ilklênia, tudo bem!?
> 
> Sou José Márcio Correia de Queiroz e atualmente estou no Doutorado da UFPB. Continuo  a estudar o Dzubukuá (tema da minha tese), a partir de fontes que já estão disponíveis na biblioteca virtual niamdeju, mantida pelos próprios pesquisadores que participam do grupo "etnolinguística" . As fontes estão disponíveis no endereço: 
> 
> http://groups. google.com/ group/etnolingui stica/web/ bibliokariri
> 
> Acredito que o resgate de uma língua extinta é válido  para propósitos acadêmicos e para resgate de raízes e conscientizaçã o históricas; e, claro, também por uma questão de apoio simbólico à luta dos índios pela conservação de suas crenças e organização sociocultural. E é por estes propósitos que continuo a estudar o Dzubukuá. No entanto, o resgate de uma língua extinta para introduzi-la novamente à vida de um povo, seria como impor uma língua estranha e artificial, uma vez que já não pertence mais ao seio significativo, cultural e socioantropoló gico das manifestações e da vida da comunidade atual. Como também muitos de seus elementos funcionais e semânticos se perderam ao longo do tempo.  E a escrita, neste contexto, mesmo servindo como fonte e base estratégica de análise, ainda deixa lacunas ainda insolúveis para o pesquisador contemporâneo. O importante, ao meu ver, seria estudos culturais que valorizassem e
>  preservassem a cultura e a língua ainda viva na comunidade dos Kiriri ou Kipeá da Bahia. 
> 
> De qualquer forma, deixo aqui minha atenção e apoio, na medida do possível, a qualquer orientação que precisar no âmbito acadêmico, histórico e descritivo-linguí stico do Dzubukuá.
> 
> Atenciosamente,
> 
> José Márcio Correia de Queiroz
> 
> 
> 
> 
> 
> De: Ilklênia Campos <ilkabrida at hotmail. com>
> Para: etnolinguistica@ yahoogrupos. com.br
> Enviadas: Sexta-feira, 12 de Junho de 2009 21:33:48
> Assunto: [etnolinguistica] Fontes sobre a língua Dzubukuá
> 
> 
> 
> 
> 
> Ilclênia índia Tuxá
> Sou índia da tribo Tuxá Banzaê sou graduada em LETRAS e faço parte da nova turma do Curso de Licenciatura Intercultural em Educação Indígena UNEB Campus VIII em Paulo Afonso- BA estou precisando urgentemente de alguma informação a respeito da língua do meu povo Língua Dzubukuá, pois ninguém mais a fala, e o único material que tenho é a Dissertação de José Márcio Correia de Queroz apresentada a pós Graduação de Letras da UFPE Departamento de Letras/ Centro de Artes e Comunicação. O meu objetivo após reunir o material é formar um grupo de estudo com índios Tuxá de todas as tribos Tuxá que estão espalhadas, índios Tumbalalá que falava a mesma língua e com estudiosos da Língua que se interessem no Projeto para estudarmos profundamente esta língua e depois implantá-la nas tribos Tuxá e Tumbalalá.
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