Mestre em Linguistica conclui pesquisa pela UnB

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Thu Mar 5 15:00:42 UTC 2009


04/ 03/ 2009 - BRASIL
Indígena pesquisa língua ameaçada de extinção
É a primeira vez que o Baniwa é analisada por nativo. Mestre em Lingüística conclui a pesquisa pela UnB
Fabiana Vasconcelos
Da Secretaria de Comunicação da UnB
O português é o idioma oficial do Brasil, mas 190 outras línguas faladas pelos indígenas em todo o território nacional fazem do País um dos mais poliglotas do mundo. Muitas dessas línguas correm risco de desaparecer nas próximas décadas. Uma delas, o Baniwa, falada no alto Rio Negro, na Amazônia, por cerca de 4 mil pessoas, é protagonista de um esforço inédito de preservação. Pela primeira vez um indígena, o aluno da Universidade de Brasília Edilson Martins Melgueiro, organizou um registro escrito dessa linguagem.
“O Baniwa está vivo oralmente e já foi descrito por quatro linguistas estrangeiros. Vieram nos pesquisar, mas nunca deixaram algo de concreto", conta Melgueiro. "Dessa vez, foi um parente que estava lá.” Falante nativo da língua, Melgueiro, 39 anos, defende a dissertação de mestrado sobre o tema na sexta-feira, 6 de março, em João Pessoa (PB), no Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística (Abralin). 
“Os nativos contribuem para a linguística porque só eles podem ter intuições corretas sobre suas línguas”, afirma a orientadora do trabalho, professora Ana Suelly Cabral.
A pesquisa analisou a estrutura da língua, e trouxe elementos da gramática, ortografia e dicionarização, fato raro em se tratando de línguas indígenas e mais ainda por ser feita por um integrante da própria comunidade. Até hoje, sabe-se de apenas outro nativo que realizou trabalho semelhante, feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre o kirirí.
“A Unesco classifica o Baniwa no 3º mais alto grau de perigo de extinção entre os 5 níveis existentes. O relatório é de fevereiro de 2009. No mundo, há 2,5 mil línguas ameaçadas.” 

BRASIL – Segundo o estudioso, a idéia é transformar as informações em material didático para alfabetização das crianças indígenas nas sete escolas da reserva de 10,6 milhões de hectares, que ele ajudou a demarcar, em 1998. No total, 23 etnias vivem na região. A dissertação, escrita em português e nheengatú (língua geral amazônica proibida pelo Marques de Pombal em 1752), será traduzida para o Baniwa.
O ensino da língua nos colégios será uma forma de valorizar a cultura local. “Tive professores que diziam que nós escrevíamos e falávamos errado o português, sem levar em consideração nossa origem. A linguística veio me dizer o contrário, que cada povo tem a sua forma de se manifestar.” 
Melgueiro, que lecionou por oito anos para jovens e atualmente trabalha em São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Amazonas com a Colômbia e a Venezuela, pretende realizar o levantamento escrito das outras línguas faladas na reserva e continuar atuando na defesa do seu povo com a organização da política linguística para as escolas da região junto à Secretaria Municipal de Educação.
A militância é uma marca na trajetória do professor, que aprendeu português para defender interesses dos índios com o Estado na década de 1980, cursou Letras na Universidade Federal do Amazonas e conclui agora o mestrado pelo Laboratório de Línguas Indígenas da UnB. O estudo se tornou instrumento de resistência. “Vi que cada dia essa camisa de força dos brancos ia dominando a gente. A partir do momento em que entendo como eles agem, consigo me defender.”
 ALUNO DEDICADO
Edilson Melgueiros para os brancos, e Kadawali para o seu povo, o pesquisador é elogiado pelos professores do Laboratório de Línguas Indígenas (Lali) da UnB. “Ele sempre foi muito dedicado e organizado”, diz a orientadora, Ana Suelly Cabral. 
O indígena foi o primeiro aluno de uma comunidade a ser admitido no programa de pós-graduação do Instituto de Letras, que surgiu em 1963. Abriu, assim, caminho para o ingresso de outros três estudantes das etnias Tikuna (Solimões), Kamauirá (Parque do Xingu) e Kaxinauá (Amazônia ocidental).
Idealizador das admissões, o professor Aryon Rodrigues destaca a importância da iniciativa. “Eles tem acesso mais facilitado e o compromisso de preservarem sua língua. É um acervo de cultura enorme e não podemos deixar esse universo desaparecer.”
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