[etnolinguistica] Prefixos relacionais
Eduardo Rivail Ribeiro
erribeir at MIDWAY.UCHICAGO.EDU
Sun Feb 9 17:24:31 UTC 2003
Prezado Sérgio,
[Meira, S.]
Não, nenhum. Tanto quanto eu saiba, nas línguas onde o /y/ ocorre regularmente (entre um verbo transitivo e seu argumento P, entre uma posposição e seu objeto, ou entre um substantivo e seu possuidor), não há nenhuma exceção. Há palavras que contêm um /y/ como parte da raíz (p.ex. Hixkaryana /yo/ 'dente'), o qual nunca desaparece em nenhum contexto; mas não parece haver nenhuma palavra começada por vogal que possa tomar um argumento sem que apareça o /y/.
Interessante. Esta raiz, 'dente', seria um dos candidatos a encontrar cognatos tanto em Macro-Jê, quanto em Karib e Tupí (quando finalmente tivermos tempo para uma comparação sistemática). Em Macro-Jê, prováveis cognatos ocorrem pelo menos em Jê, Karajá, Kariri, Ofayé e Bororo. É possível que, mais uma vez, a forma Jê, reconstruível como *REL-ua para a proto-língua, seja a forma fonologicamente mais conservadora, o que explicaria resultados tão díspares quanto j-u em Karajá (t-o em Boróro) e dza em Karirí. Mesmo que a consoante inicial não tenha sido originalmente um prefixo 'relacional', é interessante notar as correspondências fonológicas: em todas essas línguas, a consoante inicial coincide com a forma do prefixo relacional. Uma coisa curiosa, quanto aos relacionais em Karajá (quando em comparação com dados da família Jê): palavras da classe II que são monossilábicas em Jê (e foram reconstruídas como tais por Davis) são monomorfêmicas em Karajá. Os exemplos que me ocorrem agora são PJ *ñ-y 'sentar-se', Karajá dã; PJ *ñ-i 'carne', Karajá de; PJ ñ-õ 'comida', Karajá do. É claro que o Karajá também tem raízes monossilábicas na classe II, mas estas parecem corresponder a palavras di- ou polissilábicas em Jê (o caso de 'dente' e, provavelmente, d-e 'pena, asa'). Isto parece refletir uma tendência um tanto comum no tronco: raízes monossilábicas da classe II são reanalisadas como sendo monomorfêmicas, o que explicaria a aparente não-ocorrência de raízes monossilábicas da classe II em Kariri e Ofayé (exceto nos casos em que tais morfemas se tornaram prefixos, como é o caso do morfema alienador u- em Karirí). É claro que a hipótese contrária (que Jê tenha inovado, tratando a consoante inicial como prefixo) seria também plausível; mas o importante aqui é o caráter razoavelmente sistemático das correspondências.
[Citando Sérgio]
demais prefixos de pessoa. Minha idéia foi apenas que o y- -- caso ele tenha
realmente sido um prefixo -- ocupava a mesma posição morfológica que este k-,
isto é, que eles estariam, em priscas eras, em oposição paradigmática. Esta
hipótese o Spike não levantou, mas me parece que valeria a pena examiná-la.
Bacana! Isto é exatamente o que eu sugiro naquela mensagem que mencionei (e mensagens subseqüentes, na minha discussão com o Dioney).
Agora, só para acrescentar às suas "coincidências curiosas":
(a) Em Karajá, há quatro ou cinco verbos para 'comer', com distinções semânticas similares às que você aponta para o Karib. 'Comer grãos' é ky.
(b) Em Karirí, temos ku 'líquido' (que não parece ter sido mencionado ainda como um provável cognato da palavra para 'água' em Jê).
Abraços,
Eduardo
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