[etnolinguistica] Re: construção de uma grafia uniformizada para os dialetos Timbira do Maranhão e Tocantins (fwd)

Flavia de Castro Alves pahno at IEL.UNICAMP.BR
Sun Feb 8 03:15:57 UTC 2004


Prezados moderadores,
encaminho essa resposta que enviei ao Francisco porque achei que talvez
possa ir para a lista (se vocês acharem que ela se caracteriza como
discussão).
Com um abraço,
Flávia

---------- Forwarded message ----------
Date: Sun, 8 Feb 2004 00:53:26 -0200 (EDt)
From: Flavia de Castro Alves <pahno at panini.iel.unicamp.br>
To: fedviges at uol.com.br
Subject: Re: construção de uma grafia uniformizada para os dialetos Timbira
    do Maranhão e Tocantins

Olá, Francisco.

Espero em breve poder te encontrar pessoalmente para falar mais sobre as
discussões que venho tendo com representantes da Comissão de Professores
Timbira (que é como um "departamento" da Associação Vyty-Cati das
Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, uma associação indígena que
representa seis povos Timbira (Krahô, Apinajé, Krikatí, Gavião (Pykobjê),
Canela Apãniekrá e Canela Ramkokamekrá) e que surgiu junto com a
implantação do Projeto Frutos do Cerrado, em 1993). Acho importante que
nós, que trabalhamos com esses povos, possamos trocar idéias sobre as
nossas experiências na área da educação escolar indígena. Por isso talvez
seja interessante dizer algumas palavras sobre o porquê de os Apinajé
participarem das Oficinas de Grafia Timbira e contextualizar um pouco
desse  processo:

Mesmo que nós (lingüistas não indígenas) saibamos que os Apinajé são
falantes de uma outra língua, essa divisão não é evidente para os povos
Timbira, principalmente porque os Krahô, Krikatí, Gavião (Pykobjê), Canela
Apãniekrá e Canela Ramkokamekrá não parecem ter dificuldade em entender a
língua Apinajé. Por outro lado, a participação dos professores Apinajé na
construção da grafia uniformizada Timbira é imprescindível, não para
substituir a grafia que eles já vêm usando (que como você mesmo disse, foi
feita por eles mesmos), mas porque é extremamente importante para os
professores Timbira que a idéia de uma grafia uniformizada seja discutida
e, se isso for interessante, que seja proposta por representantes de TODOS
os povos Timbira pertencentes à Associação Vyty-Cati. Por que isso é tão
importante? Porque muitas das atividades desenvolvidas pela Comissão de
Professores não se definem independentemente, mas segundo a realidade e as
expectativas dessas comunidades.
Vou dar o exemplo dos Gavião (Pykobjê) e dos Krikatí: mesmo eles não
querendo substituir a grafia que vinham usando (que foi proposta por
missionários das Novas Tribos), sempre participaram das discussões. Aliás,
as discussões sobre grafia nunca começam sem que os representantes de
todos os povos Timbira estivejam presentes. O mais importante para eles
não é que esses dois povos abandonem a escrita do missionário para usar a
que a Comissão de Professores Timbira estava querendo fazer, mas que
houvesse uma grafia comum para possibilitar a comunicação interna entre os
Timbira (os mais entusiasmados na construção dessa grafia, sem dúvida,
sempre foram os Krahô e os Canela!). Como disse o Cornélio Pëapëte Canela,
da Aldeia Escalvado, "para que nós podemos se entender melhor através da
escrita".

Confesso que não tinha certeza se algum dia os professores iam chegar a um
acordo sobre a uniformização de uma grafia, mas acreditava que o
importante era que eles estivessem fazendo essa discussão. No entanto a
minha previsão era a de que, se um dia isso acontecesse, os povos Krahô
(das aldeias Rio Vermelho, Nova e Cachoeira) e os Canela Apãniekrá, que
são os únicos que não têm presença missionária na aldeia, adotariam só
essa grafia (a uniformizada), uma vez que não há outra sistematizada (na
verdade, houve uma proposta em 1982, a Ortografia Canela-Krahô, feita por
Popjes & Popjes, no entanto eles não estão nas aldeias para
implementá-la). Já os Canela Ramkokamekrá, Gavião (Pykobjê), Krikatí e
Apinajé continuariam usando suas grafias que já estão sistematizadas,
sendo nelas alfabetizados e, em algum momento de sua vida escolar,
conheceriam a grafia uniformizada Timbira e sua história.
Na última Oficina de Grafia, realizada em dezembro passado, em que os
professores iniciaram a construção dessa grafia uniformizada, só as minhas
previsões relacionadas aos Krahô, Apãniekrá e Apinajé parecem ter se
confirmado. Com relação aos Ramkokamekrá, Gavião e Krikatí ainda não sei
dizer o que vai acontecer:
-	os professores Ramkokamekrá, se dependesse só da vontade deles,
abandonariam a grafia "missionária", mesmo com os missionários (embora não
sejam os autores) morando na aldeia. Os motivos: 1) não houve
representatividade Ramkokamekrá na construção da grafia pela Missão; 2) é
muito melhor que os povos que falam a mesma língua possam também se
comunicar pela escrita;
-	os professores Gavião e Krikatí, bom, esses sim me surpreenderam.
Começaram a comentar, primeiro de brincadeira, que a grafia uniformizada
estava saindo melhor que a que eles vinham usando (bem menos complicada,
diga-se de passagem), por isso iam chegar na aldeia e dizer para o
missionário que não iam mais usar a grafia que ele tinha feito. Depois
seriamente, ao explicar a proposta de grafia uniformizada ao presidente da
Associação Vyty-Cati (Jonas P`ynhë Gavião, também professor) que chegou
nos últimos dias da discussão. Os motivos que levaram esses professores a
querer a substituição da grafia foram: os mesmos 1) e 2) acima dos
Ramkokamekrá; 3) as crianças vão ter menos dificuldade na hora de escrever
(uma vez que a grafia uniformizada é mais simples); 4) a grafia
uniformizada Timbira é mais um instrumento para reforçar a unidade dos
povos Timbira.

Para saber se eles vão mesmo abandonar a grafia missionária e ficar só com
a uniformizada, ou se vão ficar com as duas, e se de repente eles resolvem
que nunca mais vão querer ouvir falar de grafia uniformizada... É preciso
esperar, eles ainda precisam discutir exaustivamente tudo isso, entre eles
(professores) e com a comunidade. Não importa a escolha que eles façam,
pois já me dou por satisfeita. O mais importante de tudo isso é ver o
quanto as discussões sobre grafia fizeram com que esses professores
Timbira se fortalecessem e como, unidos, eles vêm discutindo seus projetos
de futuro.


Espero ter conseguido descrever o contexto no qual venho discutindo com
representantes da Comissão de Professores Timbira a construção de uma
grafia uniformizada. Acredito que a proposta de criação de uma grafia é um
processo longo, e que nosso trabalho (que não precisa se resumir à
produção de cartilhas em língua indígena) precisa estar orientado pelas
seguintes questões:
-	para que vocês querem uma grafia?,
-	que tipo de grafia, nós lingüistas não indígenas, estaremos
ajudando a construir?
Sendo que para responder a essas questões (que sempre parecem óbvias, mas
não são), eles têm que ter em mente uma outra bem mais complexa:
-	qual é o futuro que vocês estão construindo (qual a opção de
futuro dos Timbira)?
E uma questão para nós também:
-	como a grafia (e outras atividades relativas à língua) pode ajudar
a construir o futuro desses povos?
Enfim, qualquer que seja nossa atividade, ela precisa ser resultado de uma
longa discussão e procurar atender aquilo que o grupo está querendo.

Abraços,

	Flávia




 Date: Fri, 6 Feb 2004 07:08:11 -0200
 From: "Francisco aedviges"
 Subject: Re: [etnolinguistica] construção de uma grafia uniformizada
para os dialetos Timbira do Maranhão e Tocantins



      Prezada Flávia,


      Trabalho com Língua Apinayé,

      Tenho um Projeto de Apoio pedágógico´`as Escolas Apinayé,

      não sei se você conhece as Crtilhas que publicamos no ano de
2002,Cartilhas

      esssas que são

      o pruduto de um trabalho que vimos realizando ao longuo do projeto,

      Coomo os professores, posteriormente discodaram de algumas
grafias(deles

      próprios)

      Fizemos novamente todas as correções, e estamos esperando
publicá-las

      novamente

      neste ano. São cartilas bilíngues( ou seja , escritas nas duas
líguas)

      Francisco Edviges Abuquerque






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