[etnolinguistica] Empréstimos do português via Tupi: 'galinha'

Eduardo Rivail Ribeiro eduardo_rivail at YAHOO.COM
Sun Apr 10 22:12:03 UTC 2005


Prezados colegas,



Na literatura colonial sobre o “Tupi da Costa” (Tupinambá, Tupi Antigo) ocorrem pelo menos dois termos para ‘galinha’: (1) wyra sapukaja* e (2) ariña (um provável empréstimo do português galinha**).  Como vários outros termos que designam elementos introduzidos pelo colonizador (‘enxada’, ‘arma de fogo’, etc.), ambas as formas para ‘galinha’ passaram do Tupinambá (ou uma das línguas gerais dele originadas) para línguas de outras famílias (Kipeá sabucá; Coroado ariña, etc.).



O segundo exemplo, ariña, ilustra uma interessante classe de empréstimos que, apesar de serem em última instância de origem portuguesa, teriam ingressado no léxico de certas línguas indígenas através de uma terceira língua (geralmente, a Língua Geral Paulista ou o Nheengatu). Eu desconfio que o termo para ‘galinha’ em Karajá (língua Macro-Jê do vale do Rio Araguaia) -- hãnike (fala feminina), hãnie (fala masculina) — seria também um destes casos de empréstimos indiretos.  Todas as adaptações fonológicas seriam regulares — exceto pela inserção de /k/ na última sílaba na fala feminina.



Assim, caso hãnike provenha de fato de algo como ariña, teríamos um interessante caso de inserção, por analogia, de um /k/ na forma da fala feminina. Em geral, é o contrário o que ocorre: formas da fala masculina são derivadas através da supressão de um /k/ (cf. kõbra > õbra ‘comprar’).



Portanto, se possível, eu ficaria muito grato se os colegas desta lista pudessem me ajudar a obter mais informações a respeito dos termos para ‘galinha’ em Tupinambá ou Língua Geral, principalmente (1) se haveria diferenças na distribuição geográfica de ambos os termos e (2) detalhes da pronúncia (por exemplo, se haveria possivelmente a inserção de uma oclusiva glotal no começo da palavra).



Desde já, muitíssimo obrigado por sua atenção e colaboração.



Cordialmente,



Eduardo



*Lemos Barbosa (Pequeno Dicionário Português-Tupi, 1970, Livraria São José, p. 112): güyrassapucaia

** Sérgio Buarque de Holanda (Caminhos e Fronteiras, José Olympio, Rio de Janeiro, 1957, p. 200): “Esse nome -- arinhâ ou arinhã (arignam, em Léry, arignane, em Thévet e araignam, em d'Abbeville) -- não seria, provàvelmente, mais do que uma deformação fonética da palavra portuguêsa ‘galinha’, apesar das várias tentativas efetuadas entre alguns estudiosos para filiá-la a um étimo tupi. [...] Essa idéia não ocorreu aos estudiosos que têm tratado do vocábulo.”



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Eduardo Rivail Ribeiro
Museu Antropológico, Universidade Federal de Goiás
Grupo de Pesquisa "Estudos Histórico-Comparativos Macro-Jê"










		
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