Consulta

Maria Odileiz Sousa Cruz odileiz at MANDIC.COM.BR
Sat Mar 18 16:51:27 UTC 2006


Caro Sérgio,

Também concordo com você que temos um papel importante
acerca do esclarecimento de determinadas posturas, em
particular as de ordem lingüística, cujos reflexos são
marcados na nossa história política. O termo Gíria é um
deles.

Em um registro inicial observei que o termo “gíria”,
variante “gíra”, ao longo dos séculos, foi particularmente
construído e difundido na capital Boa Vista e no interior do
estado de Roraima quase sempre atrelado às línguas indígenas
(conduta também adotada em outras regiões do Norte, conforme
os colaboradores desta lista).

O levantamento tem mostrado várias questões:

1) O termo “gíria” como um elemento construtor de
preconceito atinge uma região geográfica, área de lavrado,
na maioria das vezes habitada por índios, fazendeiros,
ex-garimpeiros e missões religiosas; configura-se em
reflexos de atitudes lingüístico-culturais diversas que são
assumidas por índios e não-índios; de formato menos
produtivo pode ter a mesma equivalência de língua indígena
através do termo “caboclo”. Ao cotidiano “politicamente
pejorativo” desse termo, acrescento que já consta nos
dicionários sua carga semântica sendo vinculada à língua
indígena, por exemplo, em Fernandes et. al. (2003) “... s.m.
(bras. do norte) indivíduo que conhece dialetos indígenas;
intérprete” e em Holanda (2001) “....Bras. Amaz. Pessoa que
conhece dialetos indígenas”. Encontrei em Cirino (2000), nos
recortes de textos históricos no início do século XX, como
também em Oliveira (2003), o termo “gíria” sendo atribuído
às línguas indígenas.

2) Como um elemento construtor de identidade/identificação
cultural o termo “gíria” (quando associado à língua
indígena/etnia) tem mostrado que: paradoxalmente, outro
termo genérico, “Makuxi” é largamente usado para identificar
os que têm nascido em Roraima em oposição aos
não-roraimenses, a despeito de não serem “índio”; os
indígenas que têm se apropriado do termo “gíria”, pouco a
pouco, estão substituindo-o pela expressão “língua indígena”
ou “língua materna”; algumas etnias apontam qual/quais o(s)
grupo(s) que fala(m) “gíria”. Além disso, se digo que “falo
Gíra” na cidade de Boa Vista para pessoas, que pelas
características físicas sei que se tratam indígenas, eles
prontamente já sorriem e dizem que “cortam a Gíra”, ou que
“não cortam a Gíra”, e se não “cortam” ainda se justificam
dizendo porque falam. Cotidianos fortuitos são simbólicos,
mas representam momentos de identificação e interação entre
as pessoas.

Bem, nossa história é assim!

Grande abraço, Odileiz

Bibliografia:
CIRINO, Carlos Alberto Marinho. A “Boa Nova” na língua
indígena: contornos da evangelização dos Wapischana no
século XX. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 2000.

FERNANDES, F. & LUFT, P. & GUIMARÃES, M. Dicionário
brasileiro Globo. São Paulo: Editora Globo, 2003.

HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio – dicionário da
língua Portuguesa. São Paulo: Editora Nova Fronteira. 2001
(versão eletrônica 3.0).

OLIVEIRA, Reginaldo Gomes. A herança dos descaminhos na
formação do Estado de Roraima. São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2003.

---- Mensagem Original ----
From: "Sergio Monteiro" <monteiroserge at yahoo.com>
To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
Sent: Seg, Março 13, 2006 8:51 pm
Subject: Re: [etnolinguistica] Consulta

Entre  os emigrantes mexicanos nos Estados Unidos existe um
número razoável de  puros índios, muitos dos quais cresceram
em um ambiente em que a única  língua é a língua índia.  Na
zona de Chiapas, por exemplo, isto é  bastante comum.
Outras vêzes estes índios falam ambas as línguas  na sua
região de nascimento.

  Em um caso ou outro, eu notei que  consistentemente estes
índios se referem à língua nativa como um  «dialeto».
Ora, eu sempre os corrijo, levando à atenção dêles que  a
língua indígena é uma língua perfeitamente válida, em nada
inferior  ao espanhol ou ao inglês, e que a designação de
dialeto é uma das armas  usadas pela cultura conquistadora
para dizimar a cultura indígena (um  crime previsto nas
Nações Unidas de destruição cultural de um  povo).  Eu
sempre explico a êles que a cultura deles é muito
valiosa, e que é mesmo, para muitos, mais valiosa mesmo do
que a  cultura dos invasores espanhois e ingleses.

  Agora eu me pergunto, no que se refere  a chamar a língua
nativa de «gíria».  Seria também uma forma de  destruir a
cultura dos índios, tirando deles índios a auto confiança,
a  crenca na própria cultura?  Se for o caso, não seria o
caso de as  pessoas mais esclarecidas exporem o processo e
lutarem contra este  crime cultural?

  Sergio

Hein van der Voort <hvoort at xs4all.nl> wrote:
Prezada Odileiz,

  Também em Rondônia se pode falar de "gíria" referindo à
língua  indígena. E no Português falado pelos Índios do
alto Guaporé a palavra  "caboclo" adquiriu o sentido geral
de "Índio", e, por  exemplo, "caboclo brabo" significa
"Índio  não-aculturado".

  Abraços,

  Hein


  Hein van der Voort, Amsterdam

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