Imprensa: "Línguas indígenas estão desaparecendo no País"
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Mon May 8 02:05:41 UTC 2006
Matéria publicada em
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/mai/02/152.htm
[Nossos agradecimentos ao colega Sidi Facundes, da UFPA, pela dica.]
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02 de maio de 2006 - 14:12
Línguas indígenas estão desaparecendo no País
Apenas um povo indígena ainda mantém sua língua com vitalidade
*Agência Fapesp*
SÃO PAULO - Os Fulni-ô são o único povo indígena, em todo o Nordeste
brasileiro, que conseguiu manter sua língua materna com bastante vitalidade.
Praticamente todas as outras - e eram muitas quando os colonizadores
chegaram - estão mortas.
"A manutenção do yathe, que está encravada no meio de população de língua
portuguesa há séculos, é algo realmente extraordinário", afirma Januacele da
Costa, professora do Departamento de Lingüística da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal). "É possível comparar a sobrevivência desse idioma com o
basco, uma língua também isolada, dentro dos territórios atuais da França e
da Espanha."
Se os Fulni-ô conseguiram resistir, e hoje possuem meios de exteriorizar
melhor sua "indianidade", em quase todas as outras tribos a saída surge
apenas quando os lingüistas se aproximam e criam meios de difusão do idioma,
que muitas vezes é apenas falado. Essa necessidade, por exemplo, levou a
pedagoga, historiadora e indígena Maria Pankaruru, orientada por Januacele,
a trabalhar em seu doutorado com a língua ofayé, tribo do interior do Mato
Grosso do Sul.
"Essa língua é falada atualmente por apenas 11 pessoas. A tribo hoje tem 46
indígenas e outros 27 brancos que vivem lá devido aos casamentos
interétnicos", explica Maria, que atualmente é funcionária da Funai de
Maceió.
O trabalho acadêmico da pesquisadora, defendido no dia 19 de abril, culminou
com a criação de uma cartilha, que está sendo usada pela professora Marilda
de Souza com dez crianças da tribo Ofayé. A pesquisa atingiu um nível muito
maior do que a montagem do material didático. A primeira indígena doutora do
Brasil fez uma espécie de gramática da língua estudada por ela.
"Esse é um trabalho que tenta colaborar para a preservação de uma língua
indígena específica", explica Maria. "O que ocorre muitas vezes é que as
crianças indígenas estão aprendendo direto o português. Os país têm medo de
que, se elas falarem apenas a língua indígena, sejam discriminadas nas
escolas, pelos colegas. O problema é que o preconceito ocorre de qualquer
forma, muitas vezes por parte do professor, mesmo que a criança fale apenas
a língua oficial do Brasil", afirma a pesquisadora indígena, que contou com
uma bolsa financiada pela Fundação Ford, instituição que aqui no Brasil tem
uma parceria com a Fundação Carlos Chagas.
Em sua própria trajetória - além das duas graduações e do mestrado, Maria
estudou até a antiga sétima série em São Paulo, porque sua família resolveu
deixar a tribo Pankararu, localizada no sertão pernambucano, devido à seca,
mas depois voltou ao Nordeste - a pesquisadora admite que ouviu professores
passarem aos seus alunos muitos dos estereótipos atrelados aos indígenas.
"Isso existe, infelizmente", afirma.
Apesar de ser de uma tribo com 4 mil pessoas ainda, que mantém vivo vários
dos rituais feitos pelos antepassados, Maria Pankararu não poderá repetir
seu trabalho lingüístico do doutorado na sua própria tribo. "Nós perdemos a
nossa língua faz muitas gerações."
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