Trumai & Macro-J ê

Raquel Guirardello-Damian R.Guirardello-Damian at BRISTOL.AC.UK
Thu Nov 22 14:17:11 UTC 2007


Caro Eduardo,


Achei interessante a colocação que você fez sobre classificação genética
de linguas isoladas. Gostaria apenas de fazer alguns comentários sobre a
língua Trumai.

Os Trumai tiveram contatos com povos Macro-Jê tanto no período
pré-xinguano como no pós-xinguano, mas é difícil dizer se tais contatos
levaram a empréstimos linguísticos. No período pré-xinguano, houve
contatos com os Xavante, porém estes eram de natureza hostil. Não havia
propriamente interação entre os grupos, por isso não parece ter havido
condições para intercâmbio linguístico. É possível que tenha havido
contatos também com os Karajá, pois os próprios Trumai reconhecem ter
alguns traços culturais semelhantes aos deste grupo. Porém, ao se
consultar a memória dos falantes mais velhos ou documentos históricos
sobre o povo Trumai, não se encontram maiores informações sobre este
possível contato.

No período pós-xinguano, os Trumai tiveram interações com os Suyá.
Inicialmente, tratavam-se de conflitos; posteriormente passaram a haver
casamentos intertribais. Mas os casamentos entre indivíduos Trumai e Suyá
aconteceram mais recentemente na história do grupo - por exemplo, os
casamentos entre Trumai e Kamayurá começaram a ocorrer muito antes. A
influência da língua Kamayurá sobre o Trumai é visível (há muitos
empréstimos de origem Kamayurá), mas não me parece que haja empréstimos de
origem Suyá. Esse é  um ponto para ser investigado.

Achei interessantes as semelhanças que você apontou entre dados do Trumai
e dados de línguas Macro-Jê. Em um trabalho de classificação genética, o
ideal seria ter um conjunto de linguistas envolvidos: um linguista que
compare as diversas línguas, e os linguistas especializados nas línguas
individuais. Dessa forma, eles podem trocar informações e fazer uma
comparação mais precisa.

Digo isso porque anos atrás examinei os dados do Trumai que Greenberg
utilizou em sua classifição genética (ele empregou a lista de palavras
obtidas por Von den Steinen). Observei que alguns dos dados tratavam-se de
palavras morfologicamente complexas, isto é, havia morfemas flexionais na
palavra. Em alguns casos, Greenberg fez a comparação levando em conta a
forma inicial da palavra Trumai, mas esta forma não era a raiz da palavra,
e sim um prefixo flexional. Por exemplo, ele comparou os termos de cores
do Trumai com termos de outras línguas ameríndias. Para o termo "amarelo",
ele apresentou os seguintes dados:

Cayuvava:     titibo
Guahibo:       tsobia
Trumai:         tsomate


Nota-se que os termos comparados têm em comum o som inicial t/ts- (e
internamente, um som bilabial: b/m). Porém, em Trumai, ts(i)- não faz
parte do termo para cor; trata-se na verdade de um prefixo de posse. O
dado empregado por Greenberg não significa simplesmente "amarelo", mas sim
"a (cor) vermelha dele" (o termo na verdade refere-se à cor vermelha).

A meu ver, esse tipo de problema compromete a qualidade da comparação. Por
isso penso que um linguista que trabalha com dados comparativos deve ter
contato constante com os especialistas das línguas analisadas, para não
haver problemas desta natureza. Assim, a comparação e a classificação
genética
tornam-se mais sólidas.

Um abraço cordial,

Raquel



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